O Dia de Aventura
No cair da tarde, quando a noite vinha silenciosa pelas margens do braço do rio Pedreira, se entranhando nas folhas das árvores e os casais de papagaios passando pra se agasalhar, eles entravam no veiculo pra também voltar pra casa e foram seguindo o relógio, entrecortando, o bem acidentado e bastante escuro caminho.
Despreocupados cantarolavam e brincavam no interior do carro exaltando a volta pra casa. Visto que numa curva, pra desviar da lama o pneu foi de encontro com uns galhos cortados soltos no chão. Sentindo o motorista, que o pneu havia furado, desceu do carro e observou, que junto aos galhos alguém descuidado havia deixado um emaranhado de corda de aço arregaçado, verdadeiro culpados daquele acidente. Mesmo assim, entrou de volta no veiculo e procurou dirigir até onde poderia ir, que não foi além de uns metros a mais.
Brincando senhor Alberto abriu a mala do carro, pensando usar o pneu de estepe. Mas quando este o tocou percebeu de pronto que o mesmo estava seco. Pensou... Agora que vai começar a aventura. E assim, sem muito meditar disse aos quatro outros ocupantes do veiculo:
- vou colocar o estepe assim mesmo e vemos até onde ele nos leva.
De forma que o carro andou mais alguns metros e parou exatamente sobre uma poça de lama, que o impediu de seguir a frente.
Seu Alberto saiu do carro de novo e sem muito argumentar resolveu que iria levar o pneu até a mais próxima paragem, onde o fluxo de carro era maior do que naquele ramal isolado. Resolveu também que iria levar o seu filho menor e deixou no veiculo só as mulheres.
Depois de andar até a rodovia Ap, não se sabe qual número, junto com o seu filho, naquela imensa escuridão ficou esperando alguma alma viva passar. Mas inconformado com o silêncio do movimento da via resolveu de pronto deixar o pneu no mato e seguir até a BR 210, onde poderia conseguir alguém pra lhe ajudar.
Com o seu filho seguia na escuridão, que o celular pouco iluminava. Dado momento ouviu a buzina do carro soar duas vezes e na dúvida de voltar, na agonia de se preocupar com o que poderia está acontecendo, deixou a coerência o guiar e seguiu em frente.
Pé ante pé, encontrou um caminhão, cujo motorista só se ateve a fortalecer a esperança de logo chegar na BR 210.
Em meio a escuridão da noite profunda, na mata fechada subindo e descendo ladeiras perguntou a sue filho:
- Você está cansado?
E o menino respondeu:
- Não senhor.
Mais mata, mais escuridão, silêncio, estrelas no céu, muita lama e léguas depois o pai perguntou de novo ao filho:
- Você está cansado?
Respondeu o menino:
- Pai, a gente pode parar um pouco.
Com se as pernas pesassem mais do que a esperança de logo encontrar ajuda o pai falou:
- Meu filho parece que tomamos caminho diferente, parece que estamos perdidos. Me dê o celular deixa eu iluminar ou tentar ligar para o 102.
Obedientemente o garoto passou o aparelho e resmungou algo como:
- É pai acho que estamos perdidos.
Por um segundo o pai se perdeu, pois o cansaço, a sede e a fome faziam par com a escuridão absurda, qual dificultava a visão humana.
Aceso o celular, o pai tentou ligar, mas não completava a chamada, não enviava sinal algum e menos do que ele pensou a bateria acabou.
Seguindo mais um pouco eles tentavam fazer idéia das horas, julgava o pai ser 22:00hs, pois a última hora na sua cabeça rezava 20:30hs, quando lembrou de ver no celular. E acreditando nisso chegaram, enfim, na BR. 210. Carros iam e vinham, e eles pediam carona, mas ninguém os ajudava.
Resolveram caminha até um antigo lugarejo, julgando ficar perto. E caminharam, caminhando pediam carona, até quase chegando no lugarejo alguém parou.
Cansados, se apoiando na janela do veiculo falaram a um dos ocupantes do ocorrido. Compadecidos levaram os dois até o lugarejo e lá falaram com algumas pessoas. O menino, que estava cansadíssimo, com as pernas imundas de lama e com sede ficou com uma senhora descansando, enquanto seu Alberto voltou com os dois rapazes, cujo motorista avisava sempre:
- Moço, se não for longe vamos pegar o pneu deixamos o senhor no borracheiro, pra consertar e depois o senhor pede outra carona pra levar e colocar o pneu.
Refém da ajuda e da necessidade seu Alberto só respondeu:
- Ok.
Mas quando chegaram no local do pneu o rapaz resolveu ver o carro e juntos foram ao local, até tentaram colocar o estepe do carro, que estavam, mas não coube e assim decidiram trancar o carro e deixar todos no lugarejo.
Lá chegando os prestadores de socorro falaram que não podiam mais ficar, anotaram o tele fone das outras filhas do senhor Alberto para ligarem e informar o ocorrido, quando tivesse área e se foram. Agradecido o senhor Alberto se despediu, acomodou sua família num imenso salão de uma igreja pra dormirem, enquanto ele foi mandar consertar o pneu, que não tinha conserto. O jeito foi pegar um de terceira mão e esperar o dia amanhecer pra pegar o carro la de dentro do ramal. Foi ai que ficou sabendo das horas. Era exatamente três horas da manhã confirmava o borracheiro.
Enquanto Arthur e Marilia dormiam com a mãe na rede, Yasmim passava aquela noite numa cadeira de pau e o seu Alberto, ao relento, noutra rede mal via o dia amanhecer.
Antes das seis foi pra beira da estrada e de lá, deixando o pneu, atendeu ao chamado do borracheiro, que lhe oferecia café. E quando do primeiro gole, conversando com o borracheiro, viu alguém parar num veiculo, sair do carro e carregar o pneu a beira da estrada, pondo-o no interior do carro. Isso despertou um desespero do senhor Alberto, que correu, enquanto o borracheiro gritava, mas o homem parecia que não ouvia e continuava na incursão de subtrair o pneu.
Lá chegando o seu Alberto falou:
- Ei moço, esse pneu é meu. Tô com o meu carro no prego ali adiante e estou esperando uma carona.
E o homem respondeu:
- Ora, porque não falou logo. Entre, eu te levo lá. Já passei por uma situação assim.
Quando o seu Alberto entrou no carro havia duas senhoras. Uma assentada na cadeira da frente com uma bíblia falando sem parar e a outra na cadeira de trás totalmente calada.
Enquanto o motorista falava de sua desventura, que acontecera numa sexta feira treze. A mulher com a bíblia dizia em voz alta:
- Deus seja louvado e o apocalipse diz...
Quando o senhor Alberto de observador apenas falou:
- Moço é entrando nesse ramal.
- Lá pra dentro?!...
- É.
- Sinto muito, mas não vou poder leva-lo até lá, pois lembrei que tenho que estar num compromisso em Porto Grande às oito horas.
Seu Alberto agradecido pediu para o moço parar e disse:
- Vão com Deus e obrigado.
Ilhado na contra mão de uma rodovia Estadual, que não era movimentada e que com certeza iria demorar muito um carro entrar ali pra lhe prestar socorro, resolveu seguir a pé 12 km, visto que na madrugada andara o mesmo percurso e no decorrer pediria ajuda. Assim, posicionou o seu chinelo na cabeça e assentou o pneu cheio, para seguir na viagem até onde o seu corpo aguentasse.
Na sua via crussis, seu Alberto viu passar um carro, que só buzinou e outro onde os ocupantes só olharam e seguiram. Depois de ouvir os cantos dos pássaros, de sentir doer os seus pés viu a beleza das flores e identificou suas pegadas de ida, na lama seca da madrugada.
Naquela piçarra vermelha seguiu durante horas até que avistou uma entrada pra um ramal no meio da mata, onde seguiu suponde ser mais perto pra chegar ao seu destino.
Num entra e sai de ramal, num subir e descer dos altos e baixo, com sede e cansado; quase sem forças lembrava da vida, lembrava de Deus e seguia intermitente.
Depois de uma longa chuva, de um vento forte, onde as folhas se arrastavam no chão, bem depois de um pipilar isolado, apareceu o riozinho, onde ele tomou banho, se refrescou e se lavou da lama da madrugada, curtindo o cheiro da açucena de pétalas molhada.
Seguindo mais adiante, entre os Buritis viu uma ribanceira e disse a si:
- Acho que vou deixar o pneu seguir um pouco até lá em baixo, pra descansar os meus ombros e ai volto a carrega-lo.
Quando largou o pneu, ele desceu com tanta força, que bateu numa barreira de terra e tomou rumo a mata fechada.
Lá do alto seu Alberto desceu e quando chegou lá em baixo não viu o pneu. Imaginou que ele tivesse tomado o rumo de um caminho cheio de espinho. Adentrou na mata e a procurar por horas sem encontrar, perdendo as esperanças, deu por fim perdido o pneu e saiu desolado. Afinal tinha caminhado alguns quilômetros e quando já estava perto do destino havia perdido o pneu. Nem sabia como se desculpar de si mesmo. E já se ia, quando num canto mais adiante, ao lado de outra palmeira o pneu disposto como se disse: ei, como é, não vai me levar.
Feliz da vida, seu Alberto o ergueu e o colocou em sua cabeça pra seguir em frente.
Minutos depois estava diante do carro no prego, quando suas filhas, Luísa e Marina, noutro carro vieram em seu socorro, atendendo ao telefonema dos rapazes, que o ajudaram na madrugada.
A chuva sem cerimonia, outra vez caiu, como se abençoasse aquele momento, os três se abraçaram, e o pai colocou o pneu pra pegar o resto da turma e voltar pra casa trazendo no currículo, mais essa aventura.