O SEQUESTRO
 
Na queda, Felipe bateu a cabeça e desmaiou, ficando inconsciente por cerca de meia hora. Ficara com um “galo” na nuca. Sthefany, que há alguns meses estava apresentando sérios problemas de saúde, não iria perceber. Portanto, não teria que inventar desculpas. Nenhuma possibilidade de a esposa lhe perguntar o que tinha acontecido.
Tomou um copo d’água; depois foi deitar-se junto à Sthefany que, para sua alegria, dormia serenamente.
Enquanto o sono não chegava, seu pensamento estava fixo em Theo.  Qual teria sido a reação do garoto ao acordar-se? Ou estaria ele ainda desacordado? Caso estivesse desperto, com certeza, estaria chorando e preocupado. É tão frágil!
 
O dia amanhecera com uma densa neblina. As plantas e as flores estavam cobertas de orvalho. No ar havia um perfume campestre.
Michel, Roger e Lorrane, ao desceram, estavam radiantes e felizes. Após, tomarem café na companhia dos pais, Felipe e Sthefany, foram para o colégio.
Em Nova Petrópolis, Rebeca e Jean, cansados de esperar por Theo, foram ao quarto do menino. A janela estava aberta e as cobertas de cama espalhadas pelo chão. Rebeca, descontrolada, gritou. Jean empalideceu. Os empregados nada entenderam.
O telefone tocou. Uma voz rouca perguntou:
– Gostaram do café?
 
Nicole, a babá de Theo, passou o telefone ao patrão, que, não refeito do choque e trêmulo, tinha dificuldades para falar.
– Onde está meu filho? O que vocês querem? Tragam Theo. Ele é apenas uma criança.
– Acalme-se, tio. Quando chegar o momento certo, saberão o que queremos. Agora, mate um pouquinho da saudade do menino.
– Papai, vem me buscar. Estou com muita fome e com frio. Não há luz aqui. Ajuda-me!
O telefone ficou mudo. Patrões e empregados, calados e com uma forte expressão de dor no olhar. Depois de alguns minutos, Rebeca começou a falar, atropelando os empregados com perguntas.
– Quem foi o último a estar com Theo? Ouviram ruídos? Os cachorros latiram? Ajudem-nos! Deem pistas. Quero meu filho!
O telefone voltou a tocar. Rebeca, de imediato, arrancou-o das mãos do marido. Theo, no outro lado da linha, chorava e pedia para tirá-lo dali. Desde que acordou, não viu um raio de luz e o homem que estava com ele dizia para ficar quieto, pois, no local, havia aranhas, cobras e ratos.  
– Mamãe, me tire daqui!
Frente ao desespero do filho, Rebeca desmaiou. Jean procurou demonstrar-lhe firmeza e segurança, embora, no fundo, estivesse sofrendo tanto quanto à esposa.
 
Sthefany passou a manhã às voltas com os preparativos para a viagem. Felipe, inquieto, não via a hora do retorno dos filhos da escola. Assim que almoçassem, o motorista os levaria à casa dos sogros, que moravam em São Francisco de Paula. A viagem não era longa e as crianças gostavam de estar com os avós.
Sthefany continuava preocupada com o marido. Achava que ele estava, a cada dia, mais estranho. Pouco falava com as crianças.
 
O cheiro do sonífero no subterrâneo era muito forte. Theo, exausto, desfaleceu. Ao acordar, percebeu um vulto mascarado junto a ele. Essa pessoa tinha, numa das mãos, uma lanterna acesa e, na outra, um pote com frutas, o qual lhe entregou e, com voz áspera, ordenou que comesse rápido, pois não tinha tempo a perder com menino mimado. 
Felipe, antes de se retirar, avisou Theo que lhe trouxera algumas roupas e que, no fim do corredor, encontraria um banheiro onde poderia fazer a sua higiene. À noite, traria outros alimentos.
 
À medida que se afastava, sentiu-se vitorioso e satisfeito. O sequestro tinha sido um sucesso e, em breve, teria o dinheiro para pagar a cirurgia da esposa.
Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 23/09/2016
Reeditado em 05/02/2017
Código do texto: T5769784
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