Imagem: Praia de Lagoa da Prata
----------------- Sob os Olhos do Pavor
Faz muito, muito tempo... Elas eram duas adolescentes, melhores amigas, em dia de praia com a turma do colégio. O passeio era um prêmio de final de ano da professora de Educação Física; a turma, um bando barulhento de garotas e garotos aventureiros, loucos por diversão.
A praia da cidade era local de cobiça daqueles cujos pais não permitiam a ida desacompanhada: contava-se que sob a placidez das águas da lagoa havia traiçoeiros buracos que sugavam nadadores mais desavisados e inexperientes. Muitos tinham já perdido ali as suas vidas. Principalmente em pontos mais afastados — mais frequentados por pescadores — onde o capim ralo avançava água adentro.
Eliane e a melhor amiga não sabiam nadar. Mas em dia de festa tudo é possível. E quando Sonia chegou se oferecendo para iniciá-las no esporte da natação a empolgação tomou conta... De Eliane, porque a melhor amiga também não tinha juízo... Mas tinha medo. “Vamos ali que vou ensinar procês como é que nada”. O convite de Sonia era tentador, mas quem disse que nadar era assim? Nada! Nada fez com que a melhor amiga de Eliana pisasse nas águas plácidas da lagoa. Eliane pisou...
Sonia explicou que lá pros lados do capim, onde ficavam os pescadores, o lugar era mais sossegado, e Eliane podia aprender com mais calma. Deu as instruções “Segure na minha cintura com as duas mãos, vai batendo os pés com força, só isso. Lá na frente, onde tiver água mais funda, solte as mãos, continue a bater os pés e vai... Nadar é só isso!”.
De pé, parada na orla, olhos atentos, a melhor amiga seguia todos os movimentos das nadadoras. Eliane agarrada à cintura de Sonia fazia exatamente como lhe tinha sido explicado. Exultantes, entre gritinhos, as duas se lançavam à aventura, na alegria da diversão. A melhor amiga ainda ouviu quando Sonia anunciou “Agora a gente vai mergulhar!”. Mergulhar? Nossa, já iam mergulhar? Nadar devia mesmo ser muito fácil!
Quando as duas desapareceram sob a água a melhor amiga ainda esperava a volta do magistral mergulho. Mas segundos depois, viu as duas cabeças emergindo bem distantes uma da outra, em pontos totalmente diferentes. Por duas vezes ainda as avistou vindo à tona, braços se debatendo, para logo desaparecerem novamente. Não teve dúvida: elas estavam se afogando. Pôs-se a gritar desesperadamente por socorro. O pavor de não poder fazer nada a não ser gritar a fez entrar em pânico. E viveu ali momentos que haveria de lembrar pelo resto da vida com a mesma angústia.
Os gritos atraíram dois pescadores ali perto. De imediato, os homens acorreram e se jogaram nas águas. Eram, por sorte, exímios nadadores e profundos conhecedores dos perigos da lagoa. Quando a professora e demais alunos se aproximaram, os dois corpos já haviam sido resgatados e jaziam estendidos sobre a areia. Talvez por graça divina ainda respirassem, e ali mesmo receberam os primeiros socorros, até serem encaminhados para o hospital.
*Nota: A quase tragédia ficou para sempre marcada nas lembranças da melhor amiga. Dali por diante, se tornaria motivo de frequentes pesadelos e um pavor quase mórbido de água... Revivendo lembranças, ela revive também o desespero da atriz Camila Pitanga ao ver Domingos Montagner sumir, reaparecer, sumir, reaparecer até ser inexoravelmente tragado pelas águas...
----------------- Sob os Olhos do Pavor
Faz muito, muito tempo... Elas eram duas adolescentes, melhores amigas, em dia de praia com a turma do colégio. O passeio era um prêmio de final de ano da professora de Educação Física; a turma, um bando barulhento de garotas e garotos aventureiros, loucos por diversão.
A praia da cidade era local de cobiça daqueles cujos pais não permitiam a ida desacompanhada: contava-se que sob a placidez das águas da lagoa havia traiçoeiros buracos que sugavam nadadores mais desavisados e inexperientes. Muitos tinham já perdido ali as suas vidas. Principalmente em pontos mais afastados — mais frequentados por pescadores — onde o capim ralo avançava água adentro.
Eliane e a melhor amiga não sabiam nadar. Mas em dia de festa tudo é possível. E quando Sonia chegou se oferecendo para iniciá-las no esporte da natação a empolgação tomou conta... De Eliane, porque a melhor amiga também não tinha juízo... Mas tinha medo. “Vamos ali que vou ensinar procês como é que nada”. O convite de Sonia era tentador, mas quem disse que nadar era assim? Nada! Nada fez com que a melhor amiga de Eliana pisasse nas águas plácidas da lagoa. Eliane pisou...
Sonia explicou que lá pros lados do capim, onde ficavam os pescadores, o lugar era mais sossegado, e Eliane podia aprender com mais calma. Deu as instruções “Segure na minha cintura com as duas mãos, vai batendo os pés com força, só isso. Lá na frente, onde tiver água mais funda, solte as mãos, continue a bater os pés e vai... Nadar é só isso!”.
De pé, parada na orla, olhos atentos, a melhor amiga seguia todos os movimentos das nadadoras. Eliane agarrada à cintura de Sonia fazia exatamente como lhe tinha sido explicado. Exultantes, entre gritinhos, as duas se lançavam à aventura, na alegria da diversão. A melhor amiga ainda ouviu quando Sonia anunciou “Agora a gente vai mergulhar!”. Mergulhar? Nossa, já iam mergulhar? Nadar devia mesmo ser muito fácil!
Quando as duas desapareceram sob a água a melhor amiga ainda esperava a volta do magistral mergulho. Mas segundos depois, viu as duas cabeças emergindo bem distantes uma da outra, em pontos totalmente diferentes. Por duas vezes ainda as avistou vindo à tona, braços se debatendo, para logo desaparecerem novamente. Não teve dúvida: elas estavam se afogando. Pôs-se a gritar desesperadamente por socorro. O pavor de não poder fazer nada a não ser gritar a fez entrar em pânico. E viveu ali momentos que haveria de lembrar pelo resto da vida com a mesma angústia.
Os gritos atraíram dois pescadores ali perto. De imediato, os homens acorreram e se jogaram nas águas. Eram, por sorte, exímios nadadores e profundos conhecedores dos perigos da lagoa. Quando a professora e demais alunos se aproximaram, os dois corpos já haviam sido resgatados e jaziam estendidos sobre a areia. Talvez por graça divina ainda respirassem, e ali mesmo receberam os primeiros socorros, até serem encaminhados para o hospital.
*Nota: A quase tragédia ficou para sempre marcada nas lembranças da melhor amiga. Dali por diante, se tornaria motivo de frequentes pesadelos e um pavor quase mórbido de água... Revivendo lembranças, ela revive também o desespero da atriz Camila Pitanga ao ver Domingos Montagner sumir, reaparecer, sumir, reaparecer até ser inexoravelmente tragado pelas águas...