Solidão ou Solitude ? O que Ocorreu ?

Todos dormem, lá fora esta ventando muito forte, as janelas acusam o recebimento desta ventania, parece que vai chover. Verifico e ainda são 01:00, muito cedo para quem não tem sono e opta por não dormir antes das 02:00, uma ida rápida a janela com o objetivo de fechá-la completamente, mas não sem antes verificar o cenário externo: a iluminação pública é praticamente toda a luz que existe neste momento, poucas casas e apartamentos vizinhos ainda mantém alguma luz acessa. O vento não me permite contemplar este cenário de total ausência de vida durante muito tempo. A janela agora esta completamente fechada.

Sozinho, acompanhante e acompanhado de mim mesmo, eu adoro minha companhia, num perfeito momento de solitude, constato o que a tempos já sabia, possuo a muitos anos hábitos e horários diferenciados da maioria das pessoas.

E isso é ruim ? – claro que não, são nestes momentos de silêncio e isolamento involuntário, porém, positivo, que consigo me interiorizar, e ouvir a voz do meu eu, esta voz que em certos momentos é regente e em outros momentos é coadjuvante em minha personalidade, conversamos sobre todas as nuances, detalhes, acertos e erros cometidos, no dia que para mim ainda não se encerrou, e ao fim deste bate papo, que dê certo é infindável, tenho a certeza de ter crescido um pouco mais como pessoa.

Agora, ainda são 01:15, sinto a necessidade de fazer algo útil e produtivo com os 45 minutos que restam de meu dia. O sono ainda não chegou. Trabalhar ? – não, parei a pouco tempo. Estudar ou escrever ? – falta inspiração e concentração, afinal o dia já esta chegando ao fim. Lembro-me da propaganda de minha operadora de TV por assinatura, que em imagens sempre muito coloridas, de alta resolução e com celebridades, me informa que são milhares de filmes, programas, seriados, etc. disponíveis 24 horas em sua grade de quase duas centenas de canais, com certeza encontrarei algo interessante para assistir nestes 45 minutos restantes do meu dia, passo boa parte destes tempo zapeando entre os diversos canais, sem encontrar nada que me acrescente ou agrade, talvez sem que eu saiba o ato de zapear, faça parte de meu pacote de recursos contratados junto a operadora. Enfim, fixo num canal da TV aberta, vou assistir um talk show, que num passado remoto, possuía entrevistas instrutivas e interessantes … o tempo passa, e verifico assustadoramente que a grande tela de LED, parece mais interessada em mim do que eu nela, enfim entendo o slogan que afirma “TV é isso”. Agora já passam das 02:30, e a TV esta desligada.

O sono neste momento esta tentando, mas não esta conseguindo chegar, a preguiça chegou, então o que fazer ? – decido por deitar, mas antes me equipo com celular e fones de ouvidos, para ajudar o sono em seu caminho, procuro um podcast bem pequeno, afinal estou certo que não vou ouvi-lo até o fim, já passou meu horário habitual de dormir, o sono esta por chegar a qualquer momento.

Escolho, pelo curto tempo, aproximadamente 40 minutos, o podcast de título “A Solidão do Chorão”, do Café Brasil, apresentado pelo brilhante Luciano Pires. Os minutos vão passando e o sono insiste em se atrasar, entre uma música e outra relativas ao tema, Luciano vai explanando acerca da solidão e da solitude, com todo meu ceticismo vejo uma certa coincidência com tema escolhido de forma aleatória. Neste momento Luciano inicia a leitura de um texto de autoria de André Camargo Costa, o texto é perfeito, instigante, e de certa forma assustador. Pronto se encerra o podcast, cadê o sono ?. Agora são aproximadamente 03:50.

O que fazer ainda sem a presença do sono ? ouvir outro podcast ? – não, é óbvio e evidente que não conseguiria chegar nem na metade do podcast, o sono me pegaria de forma avassaladora, não me permitindo desligar o celular nem ao menos tirar os fones de ouvidos. Então decido por tentar dormir, mesmo sem o sono estar comigo.

Após, alguns minutos num balé interminável, virando de um lado a outro, e experimentando diversas posições, com a certeza que o sono já havia chegado e insistia em se esconder numa destas posições, eu precisaria apenas desvendar em qual, começo a perder um pouco a calma, e numa busca desenfreada, preciso encontrar um vilão perverso, um culpado, por ainda não ter encontrado com o sono, não demoro muito, e concluo que não pode existir um outro culpado além do calor.

Era óbvio demais, e não me permito perdão, como não notei antes que o sono estava sendo impedido de chegar ao meu encontro pelo calor insuportável, de uma noite de primavera com ventos fortíssimos, e eminência de muita chuva. Não me restava outra alternativa, tinha que ir ao encontro do seco e artificial ar condicionado, com certeza era por lá que o sono estava escondido todo este tempo.

Pronto, a calma voltou, o ar condicionado já esta funcionando na temperatura mínima e na velocidade máxima, e em poucos minutos estarei junto com meu estimado sono. Mas o texto do André Camargo Costa, ainda em minha mente, faz pairar uma dúvida: “O que houve esta noite ? um excesso de solitude ? uma solidão temporária ? ou apenas insônia?. …

“Bom dia filho, tenha uma boa aula”, são pouco mais de 06:00, cadê a chuva?, acho que não choveu. Agora eu durmo em paz, mas ainda com a dúvida do que ocorreu na noite anterior, quem sabe na próxima noite obtenho a resposta. BOA NOITE.