Floral em tons azul-pastel
Sempre há um sentido por detrás da ação, ainda que um sentido impróprio. A formulação de um sentido me parece um processo maluco, pois, afinal, não é de repente que ele (o sentido) se forma. Demoramos quanto tempo para formulá-lo? Por que não é um processo consciente? Será que se fosse, deixaria de ser puramente sentido? E o sentido em si é somente um motivo-para? Essa maça, em sua forma, desperta o sentido-motivo que impulsiona a comê-la, mas não o sentido próprio de impulsionar a ação de comê-la, pois, este sentido-própria só existe sem a presença da maça.
Fechei os olhos agora, longo piscar. Minhas indagações poderão me matar um dia, eu sei, minha cabeça vai explodir e a notícia sairá nos jornais. No fim, vou comer a maça de qualquer maneira.
Eu perdi a criatividade.
Treze passos até a geladeira, nada para comer nesta madrugada. T. afirma todos os dias que eu deveria ser mais objetiva, diz todo o dia que entende o que eu sinto em relação as minhas dores de cabeça; eu rio. Rio, mar e oceano. Entender-o-outro é algo muito dito e pouco feito, T. não sabe nem o que é o significado do ‘e’ da palavra ‘entender’; mas ele se esforça (?), devo considerar (?).
Me senti culpada em comer a maça sem desvelar o sentido do meu ato. A fome poderia ser um sentido se, de fato, eu estivesse com fome. Quando vou à cozinha espero pela ausência de T., assim posso ficar ‘olhando para o nada’ enquanto faço qualquer coisa insignificante. T. sofre de nadismo, uma doença grave que não parece tão grave, mas é; eu não me intrometo nestas questões, embora T. diga (e sim, ele fala muito) que o meu “jeito de ser” afeta sua doença e ascende à sintomas desconfortáveis.
O sentido dos sintomas desconfortáveis do nadismo de T. eu não compreendo. E não compreendo simplesmente porque não é compreensível. Ele é o único capaz de saber destas coisas.
Depois que voltei para cama fitei por alguns minutos o silêncio. Eu nunca pensei que pudesse olhar para o não-visível, mas eu o fiz.