MEL, O DOCE REMÉDIO

Tanto as abelhas como o mel eram sagrados desde o Antigo Egito e havia até oferendas a esses maravilhosos insetos, grande harmonia social e nível de perfeição inigualável. Na mitologia grega, o bebê Zeus foi alimentado com leite e mel, tendo sido seu bisneto Aristeu o inventor da avicultura. “Até tu, Aristóteles!” – grande filósofo e naturalista pesquisador de abelhas, símbolo de fertilidade.

ELA não é toda mel, cem por cento não, mas é muito além do beijo doce (na outra, a índia em ALENCAR, eram os lábios...) – comportamento viscoso e adocicado, algumas atitudes ditas ‘melosas’ e em especial na grudação, embora uma pegajosidade romântica e agradável. Ai que EU não diga “boa noite”!

E ELA cismou porque cismou, teimou, terrível e sedutor zumbido... e lá fomos parar numa cidade mineira, destas com parque de águas e uma lojinha especializada em vender mel. Frascos, camisetas pintadas, abelhas (“ganhei” /paguei/ um para o meu carro) e os infalíveis chaveiros.

Numa palestra local, aprendemos juntos que, quimicamente, o mel puro é uma mistura de 70 diferentes substâncias: açúcares, proteínas, sais minerais, enzimas, fermentos e os tais de ‘resíduos indeterminados’... Na verdade, há um mistério que a ciência ainda não descobriu para a fabricação de mel artificial, visto que a abelha (mulher!) incorpora no mel natural um componente feminino que somente ela conhece. O mel cristaliza naturalmente pelo frio, liquidifica pelo aquecimento, mas nunca acima de 40 graus para não perder as vitaminas. Sempre grande força energética, porém não faz engordar, ao contrário do açúcar de cana, batalhado pelas nossas enzimas – açúcar do mel, pré-digerido pelas glândulas salivares da própria abelha, é bom remédio para deficiências digestivas e espantosamente no diabético e hipoglicêmicos (sabor amargo: mel da flor-da-bracatinga) faz decrescer a taxa de açúcar no sangue; fulmina micróbios, também os germes da broncopneumonia e baixa a febre mesmo tifoide.

E aprendemos também que cor-sabor-cheiro do mel variam conforme o néctar das flores que o produziram: o escuro é mais rico em sais minerais e calorias e o claro é mais saboroso. Voejantes trabalhadeiras! Pelo menos um terço das abelhas da colmeia vão para o campo todo dia e a rainha fica produzindo os ovos para, no nono dia, ser fecundada pelo zangão (ou mais de um...), macho da comunidade, olfato sensível, capaz de descobrir uma rainha virgem num raio de até dez quilômetros. Aí, vai com muita sede ao pote, fecunda a fulaninha (apenas acontece uma vez, coitado!) e em seguida morre, deixando uma viúva... alegre. Dos ovos fecundados nascem as operárias que nos primeiros 21 dias de vida realizam “estágios”, ou seja, funções internas de limpeza das celas, aquecimento-alimentação das crias, produção da cera e elaboração dos favos. Nos outros 21 dias, recolher néctar no campo, assim como pólen (gameta masculino responsável pelo fruto), resina e água.

Papel, papéis, anel, anéis......... Logicamente o plural de mel deve ser... méis. Palavra esquisita. Bom, comprei algumas garrafinhas. Como usar? Colheres de sopa ou diluído no leite morno (de cabra, se possível) ou na água: bom para os aparelhos digestivo (em jejum), circulatório (com guaraná) e respiratório (xarope com bromelina), para afecções renais (mel da flor do eucalipto), dermatites, insônia (da flor-da-laranjeira, tranquilizante natural), os olhos (uma gota dissolvida em água filtrada)... e para máscara de beleza (misturar gema ou clara). Não sou atleta, mas me recomendaram antes da pelada ou da bicicletada, para músculos mais flexíveis e mais destreza. Energia pura.

Alguns tipos de mel - da flor-da-bracatinga (paladar amargo, porém extremamente medicinal, tipo ‘mil-e-uma’ utilidades); da flor-do-cipó-uva (desintoxicante do fígado); da flor-de-maçã (antirreumático e calmante); da flor-da-vassourinha (indicado para circulação e hemorroidas); silvestre (proveniente de várias flores, fortificante para todas as idades). O mel da cana não é da flor e por isso não cristaliza (rico em ferro, bom na formação óssea das crianças e anemia nos idosos).

Mel só “é” ruim para quem assiste a mulher escolhendo devagar – porque tem também sabonete, xampu / condicionador de mel e cera depilatória (e um creme especial para massagem noturna em marido exausto?) – e depois ouvir que a bolsa dela ficou no hotel.

NOTAS DO AUTOR:

Em vários países do Mediterrâneo, vestígios de antigos cultos (3.000 a. C.) a uma deusas das Abelhas, e desenhos mais “recentes” – usando uma tiara em forma de colmeia – nas paredes do palácio de Knossos confirmando tal devoção na antiga Creta minóica. / A deusa Deméter era camada de Mãe Abelha e em seu festival Thesmophoria, reservado apenas às mulheres, as oferendas (mylloi) eram pães de mel e gergelim no formato de órgãos sexuais femininos. (Tem lógica!!!)

F I M