A garota da lanchonete - Pt 1

Karina trabalhava como garçonete na Lanchonete del Castrillo, entrava às 6 da noite e saia às 6 da manhã. A lanchonete funcionava 24 horas e os funcionários eram divididos em turnos. Pelo turno da noite e madrugada a movimentação era intensa, muitos viajantes frequentavam o local para jantar ou fazer um lanche, eram caminhoneiros, motoqueiros e viajantes de carro, alguns policiais também frequentavam o local. No turno de Karina trabalhavam outros cinco funcionários, duas moças e três rapazes: as duas moças e um dos rapazes faziam companhia a Karina atendendo às mesas, e os outros dois rapazes trabalhavam na cozinha, o dono da lanchonete era o caixa do local.

Karina mantinha o emprego porque com ele conseguia se sustentar e ajudar os pais em casa, e agora que o movimento havia aumentado bastante ela estava recebendo um pouco mais com as boas gorjetas.

Pensava em logo se mudar dali, para uma cidade maior, economizava dinheiro para a mudança e almejava uma nova vida, onde pudesse fazer uma faculdade, arranjar um bom emprego e tirar os pais daquele buraco em que viviam e que só trazia problemas. O emprego tinha seu lado ruim: atender aqueles inúmeros viajantes desconhecidos não deveria ser um problema se não fossem os assédios que ela sofria. Iam desde assédios verbais até físicos quando, principalmente os caminhoneiros, passavam a alisavam ou tentavam pôr a mão por baixo da sua saia. Apesar de ter reclamado com seu chefe, ele não tomava atitudes, não queria perder clientes. Aquele velho avarento amava o dinheiro mais do que qualquer coisa, e também justificava que isso a levava a receber melhores gorjetas. Karina repudiava tudo aquilo, não queria dinheiro daqueles sujos e uma vez quase meteu a bandeja no rosto de um deles, mas foi impedida pelo velho. Uma vez, um dos rapazes saiu no tapa com um freguês que assediara Karina e não foi demitido pelo dono da lanchonete por ser filho dele, mas desde então o velho o colocara na cozinha, longe dos fregueses onde ele não pudesse mais tornar a arrumar confusão.

Recentemente, uma das moças que era garçonete sofreu uma tentativa de estupro de um desses clientes maníacos quando ia para casa. Conseguiu escapar depois de lutar contra o homem e acertá-lo nos olhos com suas enormes unhas, mas o tarado prometeu vingar-se. A moça então pediu demissão da lanchonete e se mudou da cidade, não queria pagar para ver o que aquele lunático poderia fazer com ela. Depois desse episódio assustador, Karina resolveu que talvez fosse a hora de sair também, tinha guardado um bom dinheiro e poderia sobreviver um tempo na capital até arranjar um emprego. Ela não queria ser a próxima vítima de um desses tarados e deu o aviso ao chefe de que em três semanas estaria saindo de lá, mas o velho tentou persuadí-la a ficar. Ele gostava de tê- la trabalhando lá porque Karina era uma peça chamativa de fregueses para a lanchonete. Era uma moça muito bonita e os tarados da estrada gostavam sempre de frequentar locais onde pudessem ver moças como ela. Karina repudiou as palavras do velho e resolveu que abandonaria o trabalho naquele mesmo instante, jogou então o avental em cima dele, pegou sua mochila e se mandou do local.

Ao sair da lanchonete, ela tirou um cigarro do maço e quando se preparava para acender ouviu alguém chamando- a. Era Vick, o filho do dono, que corria até ela com um envelope na mão. Vick e Karina tinham se tornado bons amigos ao longo do tempo em que trabalharam juntos, ele era um ótimo rapaz e, diferente do seu pai que era um cretino, tinha um ótimo coração. Logo que se conheceram houve um clima entre os dois, mas nunca rolou nada entre eles. Após um tempo, Vick conheceu uma garota que frequentava a lanchonete e começou a namorá-la, atualmente vivam juntos e já tinham um filho. Mas a amizade entre os dois nunca mudou ao longo de um ano.

- Ei, Kari. Você ia embora sem se despedir? – Karina sorriu desconcertada com a pergunta do amigo.

- Me desculpe. Seu pai me irritou tanto que eu só queria ir embora dali e não voltar nunca mais. – Ela então abraçou Vick. – Vou sentir sua falta, talvez a única coisa que vá me fazer falta nessa maldita lanchonete.

- Não ligue pro meu pai, ele é um cretino desde que me entendo por gente e vai ser até morrer. Sinta- se sortuda que você não vai mais precisar vê- lo daqui pra frente, eu sonho com esse dia há 19 anos.

- Você deveria ir embora daqui também, leve a Joanie e o Marsh para longe desse buraco e do seu pai.

- Tentarei, no próximo ano quem sabe. Aqui está o seu dinheiro do mês, você saiu com tanta pressa que nem esperou para recebê-lo.

- Eu não quero esse dinheiro, fique com ele. Considere isso como o início da poupança que você irá juntar para levar sua família para um lugar decente.

- Não, é seu dinheiro. Você trabalhou duro por ele e agora que vai ficar um tempo sem emprego vai precisar, não me faça insistir de novo. Se você não ficar com ele, vou devolver ao velho. – Vick estendeu o envelope para ela.

- Nesse caso – ela pegou o envelope e colocou na mochila – prefiro ficar com ele.

Vick a abraçou e se despediu, então deu as costas e voltou para dentro da lanchonete. Karina ia sentir falta dele, mas tinha no momento uma enorme sensação de liberdade e felicidade que não experimentava há muito tempo. Ela então acendeu o cigarro e caminhou pela estrada de terra que passava ao lado da lanchonete.

Kowa Draco Salpar
Enviado por Kowa Draco Salpar em 11/09/2016
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