Conto Ao caminhar.
Já era tarde quando Emily saiu. Era quase ao amanhecer terminara seu plantão de análise, de si. Ela resolvera caminhar um pouco, pois sempre quando se sentia triste e pensativa, ela fazia isso, era como que com esse gesto, seus temores, anseios e tudo enfim ficasse em suas pegada deixadas para trás.
Em pouco tempo, pronto! Ela já não lembrava dos estresses que uma palavra mal dirigida lhe causara, durante a caminhada, uma garoa fina caindo como flocos de neve, e isso fez com que se limpasse os pensamentos de tristeza que assolara o coração. Cabisbaixa, pé ante pé, não percebia sequer quem caminhava ao seu lado, tudo era indiferente, somente ela com seus devaneios.
Ao levantar a cabeça percebeu vários rostos desconhecidos que também andavam como que para lugar nenhum, calçada fria. Passou a mão pelos cabelos e nostalgicamente lembrou que, a vantagem das conturbações que ela sentia, das inconstâncias de momentos, era o fato de poder escolher a solidão no meio da multidão. Nunca encontrara alguém que pudesse acompanhar o seu pensar, o seu falar, é, ela era mesmo igual um cosmopolita! E os amigos que ela conhecera no passado, se foram todos, e nesse momento, ela os comparou à papeis velhos a se juntarem ao pó numa prateleira qualquer.
Emily passou por uma quadra antes da sua e ficou a olhar um grupo de senhoras que conversavam com uma pobre criança, com mais ou menos onze anos de idade. Este, era somente mais um invisível para sociedade, nas ruas, sem identidade, sem perspectivas, sem ninguém, só uma sombra. Acreditou ela que se tratava de mais um daqueles grupos Aqueles, o exército da salvação criados por alguma Ong que a cada final de semana inventavam de serem bonzinhos distribuindo alimentos, vestimentas, ela mesma já havia participado como voluntária dessas instituições, que na verdade, era só uma maneira de ganharem dinheiro às custas dos necessitados. Não sei por que, era costume dessa gente, fazerem essas distribuições, e ela ali absorta em seus pensamentos sobre tal visão.
O sofrimento daquela criança doera em seu coração. Ela não conseguira voltar para casa. Uma tempestade se fez, ela molhada e triste olhou para os lados e viu uma placa ao longe, era de um hotel muito simples, ela pouco se importou com a simplicidade daquele lugar perguntou se havia um quarto vago. A recepcionista, moça bonita, elegante, sorriso farto, entregou-lhe uma chave, chave cento e dezenove fica na parte de cima, última porta a direita respondeu a moça. Enquanto subia as escadas pensou naquela pobre criança, que ao relento, na chuva, com frio e com fome, ela se sentiu culpada, por poder deitar e descansar numa cama macia e aquecida.
E já era sete da manhã de um sábado ensolarado, não se comparando a chuva torrencial da noite que antecedera aquela bela paisagem com um mister de alegria, Emily retirou de sua bolsa uma caneta e uma folha de papel, e ali escreveu uma poesia para aquele pobre garoto. “A um menino de rua”. Ela escreveu e daquele dia em diante passou a falar dela mesma através de uma poesia, de um conto, de uma crônica ou uma simples frase.
Os pensamentos de Emily foram abruptamente cortados por uma leve batida na porta, era a recepcionista avisando que o café seria recolhido as dez horas, que se ela quisesse poderia descer e fazer o seu desjejum, ela olhara pensativa e sentiu que não estava com vontade nenhuma de ingerir algum alimento, ficou ali, naquele quarto escrevendo de seus sentimentos, pois como ela sempre dissera, só conseguimos sermos nós mesmos no pensamento, com todas as nossas falhas e qualidades.
Ela deitou-se olhando para o teto e de sua boca saiu uma prece silenciosa, em agradecimento por ter acontecido em sua vida tantos sentimentos diverso do que ela planejara em sua vida. Ali no silêncio de sua alma, como sempre quisera, sozinha, calada, não tendo que dá explicações para ninguém, ela escolhera a solidão como forma de viver consigo mesma, e nunca antes havia permitido que alguém a conhecesse de fato, somente algumas palavras trocadas pelos curiosos que teimavam em saber da vida alheia.
Agora, naquele lugar ela olhava tudo sem deixar nenhum detalhe, e com um sorriso de satisfação, ela lembrara daquele rosto tão querido que lhe fizera tão feliz ao conhecer, um ser humano lindo! Que só lhe fazia o bem, sem esperar nada em troca, e pensou que gostaria de viver o sonho planejado por ambos, de viver um dia em cada lugar. Vivendo os momentos mais sonhados de suas vidas, será que conseguiriam realizar tais sonhos?! Se perguntara em silêncio, e sorriu para si imaginando tal acontecimento.
E se passara dois dias, ela naquele lugar se rebuscando e a ti, num encontro de almas que se fizera há muito adormecido em um tempo desconhecido ainda, pois descobrira que, aquele rosto triste e pensativo, era seu momento de reflexão, era o que ela sempre procurara por toda sua vida, ela não poderia deixar que se esmaecesse o sorriso do encontro, a espera demorada, mas na certeza de que a qualquer momento tudo pode mudar, a brisa, a chuva, a areia e o mar, a montanha ou qualquer lugar seria o bastante se juntos estivessem, para se renovarem em cada amanhecer. Esperar o sol acordada, sem perder nenhum momento e nenhum motivo para serem felizes.