A verdadeira raiz do dinheiro.

A grande árvore de Jatobá comandava a floresta. Nela embrenhado entre cipós e ribanceiras descobria-se antigos fornos de carvão, subsídios para especialistas em biologia e geologia garantiam que parte dela não era nativa. Bom; isto são detalhes diante da beleza que ela ainda proporcionava.

José; homem pequeno, talvez um metro e cinqüenta cinco de altura era o líder da pequena expedição. Ele vivia de uma pequena olaria dentro de um sitio de tamanho respeitável. Sustentando dois filhos e duas filhas com o arrendamento do forno e da autorização para retirar o barro necessário. Antes de sairmos demonstrou-nos como se fazia os tijolos. Tudo começava na pipa. Buraco circular com uma espécie de moinho de barro. Um forte tronco no meio com pás apropriadas para amassar a receita composta na maior parte por argila. Que girava à custa da energia de um cavalo que ficava o tempo todo rodando, atrelado ao tronco móvel. Depois do transporte até as mesinhas, onde pequenas formas eram preenchidas manualmente, nelas se fazia dois tijolos por vez, depois de enfileiradas ao sol, esperavam o momento de ir ao forno para a queima.

Estávamos hospedados lá. Casa simples, café de bule e uma comida sem igual. A pureza e o doce sabor da simplicidade.

José para aumentar seu ganha pão, era contratado uma vez por ano para manter visível à demarcação das terras do patrão. O que consistia em rodear todo o perímetro da propriedade para cortar os matos que cobrissem a divisa, bem como verificar se havia alguma invasão.

E foi assim que nos tornamos membros daquela expedição que se iniciou, mesmo antes do galo cantar.

Café com broa ao pé do fogão de lenha e lá fomos nós.

Olha aqui pessoal! Disse o José; caso alguém se perca, volte os olhos para a árvore de Jatobá, o caminho que faremos rodeia a árvore e nossa casa esta a apenas dois quilômetros e meio dela. Não tem como errar porque ela esta a quinhentos metros da picada que demarca o sitio do Barão de Carapó. Portanto é só dar as costas para o vizinho e ir em frente.

Depois das recomendações do nosso líder paramos no pé de uma montanha, e lá degustamos as delicias de uma água pura e cristalina que corria de uma pequena cascata.

Vai ficar pra trás! Grito de alerta que me deu energias para imprimir velocidade nos passos para vencer aquela subida difícil. Pensei. Ficar pra trás, eu!

Apesar das árvores ainda jovens deixarem passar uma boa luminosidade o ambiente era muito frio e úmido. Escorregava-se a todo o momento!

Vencemos, com dificuldades, em linha tortuosa a subida até atingir a trilha de demarcação, nem sei precisar em quilômetros, posso apenas afirmar o dia naquela hora já estava bem claro.

José brincou! Sou o sargento mais durão que vocês já conheceram, e por isso receberão um castigo por tanta moleza. Aguardem-me aqui.

Ele desembestou pela mata adentro, e em seguida ouvimos o barulho do facão em ação. Desconfiados, olhamos um para o outro. Sabíamos que era uma brincadeira.. Especialidade do senhor José. Até fizemos uma aposta para quando ele voltasse:

Quantos anos ele teria. Alguns disseram sessenta e cinco. Eu, disse mais de setenta.

Um barulho de árvore caindo cessou o barulho do facão. Em seguida seu José aprece arrastando uma árvore. Este é o castigo? Alguém Brincou. Todos riram. Seu José cortou a árvore em várias partes com a precisão de um cirurgião. Depois a despiu, e para nosso espanto nos ofereceu seus pedaços: o verdadeiro palmito. Simplesmente delicioso. Outro engraçadinho rompeu o silêncio do prazer – vamos comer rápido por que é proibido. Vai que o guarda florestal apareça. Se for mulher..Novamente todos riram.

Soldados de pé! Novamente o bom humor do José animou nossa caminhada. Pássaros e alguns animais vinham e iam. Quando o dia já se pronunciava cansado nosso líder avistou uma raiz e disse; hei rapazes, me ajudem aqui. Nada entendemos, mas, fomos ajudá-lo. Com esforço arrancamos aquela raiz morta atolada na terra, e ainda recebemos uma aula: isto é um cerne, o coração da árvore, com o tempo vira pedra.

Com muito esforço, ele colocou-a nas costa e começamos o caminho de volta. Claro que fazíamos um revezamento, apesar daquele esforço incomum. Sabíamos estar diante de um leão em luta, e na oportunidade perguntamos se o peso da raiz correspondia à idade dele. Sorrindo ele respondeu. Não. Essa raiz nem chega perto de setenta e cinco. Meus colegas olharam pra mim com o ar de derrota: você venceu.

Chegamos depois das novelas. Que jornada! Todos exaustos. Jantamos as pressas e desmaiamos até a hora do almoço do dia seguinte. Para nossa surpresa, seu José já havia tirado todo o barro da raiz, lavado e a colocado perto do forno para secar.

Após o almoço saímos para um novo reconhecimento – sozinhos. Quando voltamos á segunda mão de verniz na raiz, aplicada pelo nosso ídolo já havia secado.

Então fomos convidados para a inauguração da peça: peça que peça! Pensei.

Sente-se. Sentei-me e só assim percebemos estar testemunhado a criação de uma obra de arte. Claro como não vimos isso. A raiz tinha o formato de um tamanduá na horizontal. O formato das patas, do afinado focinho para comer as formigas. Sim. Parabéns, o senhor tem olhos e as mãos de um artista. O senhor José havia construindo uma peça de decoração muito especial.

Na manhã seguinte ele pediu que o levássemos a lojinha que vendia móveis na cidadela mais próxima. Coisa de cinco quilômetros distante do sítio. Chegando lá em nada interferimos: saiu da loja sorridente para o carro com oitenta reais. Fomos para a venda onde ele era freguês e então esbaldou-se com uma suculenta cesta básica.

O feriado prolongado acabou e votamos na rotina da cidade grande. Chuva, sol, acidentes de transito, assalto, escola e o tempo passou.

Certo dia minha namorada recém decidida a vir do interior para morar sozinha. Pediu-me para acompanhá-la em uma exposição de móveis. Sendo ela de classe média alta. É claro que o local era daqueles que tratava móvel como arte. Ninguém, deste universo de pessoas, ia até lá para comprar móveis só pela necessidade.

Nossa! Exclamei. Que foi disse ela. Essa peça ai. Conheço o artista que a concebeu.

Sério, disse ela. Vamos perguntar para o expositor quanto custa.

Senhor, disse o expositor. Essa é uma peça única. Reserva especial da Condessa de Santuário. Ela pagou uma pequena fortuna para adquiri-la num leilão de arte.

Não acredito que tenha preço...

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jaeder wiler
Enviado por jaeder wiler em 22/07/2007
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