Romance ideal

Talvez se eu fosse mais um pouco

Um pouco menos louco

Menos surdo

Menos cego

Se não fosse a força bruta do meu ego

Egocentrado feito um náufrago

Numa ilha,

Uma loucura

Sem remédio

Distorcendo, remoendo

Amedrontado em vão

Sofrendo a morte com antecedência

Com paciência aguardando a sentença

De alguém que julga sem razão

Talvez se eu fosse um pouco mais

Mais sagaz, perspicaz, atento

Se o fora, seria

Agora, jazia

Doce otalgia

Suave relento

E eu bem que sei, mas pouco me lembro.

Fracos fósseis de possíveis amores

Tão frágeis, tão dóceis, a mais são as dores que já senti

A seguir, na tv, o romance ideal

De gente que vence no final

E eu, meu bem, já morri

A alma faminta de um louco

Anseia

Almeja doces sonhos, mui tolo!

Semeia a ideia torta

Entre camas e corpos vazios

Nas bocas de quem não se importa

É disso que se vive, fetiche

Passado

Dores, rancores, pavores

Que povoam o cenário triste

Dos amantes ficam só os temores

E os horrores de se estar só

Quando nunca antes fora acompanhado.