Viagem Interrompida

Ele caminhava por uma rua escura. Já era tarde da noite, entrando na madrugada. Não conhecia bem a região, estava lá só de passagem antes de seguir sua viagem rumo ao norte do estado. Havia passado a maior parte da noite sentado no balcão de um pub tomando algumas cervejas enquanto reparava as pessoas no local. O pub era um local agradável, climatizado, inúmeros bancos para os fregueses sentarem em frente ao balcão de madeira antiga, além de várias mesas espalhadas pelo espaço - onde grupos de amigos se reuniam- e duas ou três mesas de sinuca. Um local simples, mas bastante agradável.

Durante um dos momentos em que estudava os clientes, tinha reparado em uma linda garota que se encontrava em pé no outro extremo do balcão conversando com duas amigas enquanto tomava um manhattan. Ela tinha os cabelos escuros, lindos olhos castanhos, maçãs do rosto salientes, vestia uma camisa branca e uma saia preta, nada sofisticado demais, mas mesmo na sua simplicidade era uma das mulheres mais lindas que ele já havia visto. Eles trocaram olhares algumas vezes, ela parecia estar interessada nele também, afinal ele era um homem que chamava a atenção pela sua beleza e sempre fez muito sucesso entre as mulheres. Mas ele parecia ter desistido do jogo da conquista, pensava que não valia a pena, iria passar apenas essa noite na cidade e queria voltar cedo para o seu quarto, pretendia partir muito cedo e não queria atrasar por nada seu planejamento, por isso deixou de lado a paquera com a moça e se levantou para jogar sinuca. Jogou algumas partidas contra três caras que apostavam por dinheiro e faturou uma grana a mais, que era muito bem- vinda para aumentar seu orçamento apertado da viagem. Voltou ao balcão para pagar a conta e trocava mais um olhar com a linda moça de branco quando sentiu um soco acertar o seu rosto, caiu desnorteado sobre um dos bancos e só então passados alguns segundos ele viu quem o atingira: o cara de cabeça raspada parecido com um skinhead que havia perdido 100 pratas para ele na sinuca.

Desde a primeira derrota, o cara tentava tirá-lo do sério e arrumar confusão, ele não deu bola e segui firme, pensou que o skinhead o deixaria para lá se não houvesse revide, agora viu que tinha cometido um enorme engano ao ter deixado o alerta desligado. O barman e a moça de branco ajudavam- no a levantar enquanto os dois amigos do agressor o afastavam da confusão. Em um movimento brusco, se livrou das mãos que o amparavam e tentou correr para cima do seu inimigo, mas o barman conseguiu segurá-lo e o pôs sentado em um dos bancos. O skinhead lançava insultos e ameaças na direção dele, mas nada mais pôde fazer depois de ser expulso por dois seguranças do local.

Agora, recuperando totalmente o sentido de quem era ele só pensava em ir embora, dispensou os cuidados da moça de branco, terminou de pagar a conta e saiu do pub. Procurou com o olhar os arruaceiros, mas não mais os encontrou, deviam ter ido embora em algum carro ou pegado algum atalho em uma das ruas escuras. Agora já estava perto do seu hostel, e só pensava em deitar para descansar e ir embora logo cedo daquela cidade horrorosa. Pensava na sua linha de chegada, na cidade onde moravam os seus pais e a sua filha que ele não via há dois anos, sentia-se tão feliz que seu coração mal cabia no peito ao pensar que em menos de uma semana iria revê-los. A felicidade que aquele pensamento trazia era tão grande que nem lembrava mais do pub e do skinhead, só pensava na sua família e como a partir de agora ia tentar não voltar a se separar deles, queria estar sempre perto dos pais que estavam envelhecendo e não queria deixar de ver sua filha crescendo, tudo isso trazia uma grande paz para ele.

Estava tão distraído com os pensamentos que mal sentiu quando a faca entrou nas suas costas. Demorou alguns segundos até que a dor atravessasse todo o seu corpo, mas ele ainda não entendia o que estava acontecendo.

Caiu no chão, de barriga para baixo, sentiu alguém mexendo nos seus bolsos, alguém o estava roubando. De repente viu um rosto que trouxe a ele uma grande agonia: era o skinhead. O agressor praguejou alguma coisa para ele, mas agora não conseguia ouvir mais nada, parecia estar em outra dimensão, apenas conseguiu ver os três homens fugindo, com certeza os outros dois eram os fulanos da sinuca. Agora, estendido no chão frio, ele só conseguia pensar em como se arrependia de ter ido aquele pub naquela noite em vez de ficar no seu quarto, todo o seu sonho de rever sua família ia se distanciando agora. Fechou os olhos e só conseguia ver o rosto da sua filha. Foi a última coisa que viu.

Kowa Draco Salpar
Enviado por Kowa Draco Salpar em 09/09/2016
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