O Apelido
Meu nome é Antonio e sempre detestei que a minha mãe, irmãos, amigos, colegas e professores me chamassem pelo apelido de Tonico. Tonico lembrava o capiau, o jeca-tatu, e eu detestava parecer com esse personagem.
Mesmo depois de grande, já funcionário de banco federal, tomava um susto quando ouvia:
- Tonico, meu filho...
Era minha mãe!... Apesar dos meus insistentes apelos, recusava-se sempre e terminantemente a me tratar por Antonio, mesmo em ambientes funcionais. E era curta e grossa:
- Por que hei de te chamar de Antonio? Para mim és meu filho Tonico e estamos conversados!...
Já os meus irmãos e irmãs, entendendo a minha repulsa por aquele apelido de infância, só me chamavam assim na intimidade familiar ou quando queriam realmente me irritar, me tirar do sério...
Até que um dia...
Era o ano de 1994 e eu caminhava pela calçada da Rua Gomes de Castro, em São Luís, quando, na esquina da Rua do Passeio, vi uma velhinha morena que, indecisa, preparava-se para atravessar para o lado da Praça do Panteon. Naquele tempo, não havia sinal ali e eu corri, fiz sinal para os carros esperarem, peguei a velhinha pelo braço e a coloquei no outro lado com toda a segurança. Assim que passamos o perigo, ela virou-se para mim e agradeceu:
- Muito obrigada, meu filho...
Quando eu ia dizer: “De nada, minha tia”, ela exclamou, olhos brilhantes e toda sorridente:
- Mas, Tonico, és tu, menino?
Era Dona Concita, a minha professora do 5º ano primário, ainda a lembrar-se, 40 anos depois, do detestável apelido que o menino de outrora abominava!...
Mas que o homem de agora ouvia, de olhos molhados, profundamente comovido....