CARROSSEL...

CARROSSEL

Mari Machado

Ficara ali estática, contemplando o pequeno carrossel... Várias crianças lá estavam, sorriam agarradas à seus cavalinhos. Ela sabia, assim como fora para ela, aquilo era o próprio céu...O tempo escorria, o carrossel girava... girava...

Uma pequenina de olhos negros arregalados, atravessava o grande parque no colo de sua mãe, seus olhos bebiam a paisagem como quisesse saciar o olhar sedento de alegria. No lago de águas verdes, inúmeros peixes coloridos se exibiam como se pedissem para conversar com ela, a medida em que contornava o lago seguiam-na pelo trajeto. Ela se imaginava no meio deles, nadando, nadando, sem se preocupar com pés...

Tudo era tão difícil... Médicos, gessos pesados; hoje sabia, só desejara a liberdade daqueles peixinhos na tranquilidade das águas verdes...

Nascera com pés retorcidos, muitos diziam que nunca andaria, mas, a fé e persistência de sua mãe a levaram além do esperado e agora lá estava ela... Ali no parque o tempo parava, o carrossel girava... girava...

De repente olha o relógio, passa do meio dia, preocupada retoma o presente, o carrossel parava, crianças desciam...

Algumas pessoas caminham apressadas, segue a corrente, por dentro um duelo: o passado vencendo o presente... Para, olha à volta, uma roda gigante onde várias crianças assistem outras a girar, esperam sua vez de brincar...

Nunca sentara em uma roda gigante, até os doze anos de idade, tinha medo, pensava que pudesse despencar daquelas cadeirinhas balançantes, no entanto, adorara quando do alto dela sentira como se fosse voar, o frio na barriga a fizera gritar sem perceber...

Anda mais um pouco, observa as árvores, jardins, estavam bem cuidado mas já não havia a mesma beleza do passado, mas o carrossel ainda girava...girava...

A pequenina olhava os cisnes, como eram lindos... Pensava... Aqueles pescoços longos, o porte elegante, eram dignos de belas fotografias... Quanta insignificância... ela não fora fotografada naquele seu momento de infância... Pensava... o gesso nas pernas... a pobreza... Não importavam as fotografias, no parque seu mundo mudava, as árvores se vestiam de verde, os pássaros lhe faziam festa, os canteiros floriam e o carrossel era o céu que girava...

Novamente olha o relógio, meio dia e quarenta minutos... – Droga! O tempo escorre entre os pés que não a obedecem... o desejo de permanecer ali é forte, a necessidade de ir também. O que pesa mais? Passado ou presente? Chega novamente ao lado do carrossel, as vozes se perdem na lembrança...

Um dia frio e nublado, a pequenina no colo de sua mãe jazia com os olhos vidrados... O carrossel se encontrava parado e o condutor perguntara à mãe: -Quer coloca-la pra andar um pouquinho? Não tem muita criança aqui hoje, ela pode andar se quiser... A mãe segurara a menina como se tivesse medo de que algo pudesse machuca-la, mas, ao olhar aqueles olhinhos inquisidores decidira, a colocara em uma parte onde havia um cavalinho vermelho. O condutor ligara a chave e o parque ganhara vida, cores... Seu mundo alegria...

Como um bando de pássaros algumas crianças chegaram ao carrossel e foram ocupando os espaços, a mãe agradecera ao condutor e a pegara no colo, adormecera sorrindo, o céu ainda girava... girava...

-Meu deus! Já passa de treze horas, preciso ir...

Contra a vontade atravessa o parque a passos largos, o passado a segue, mas as pernas a obedecem... Na rua uma barulheira de carros, atravessa no sinal, anda mais dois quarteirões e chega ao destino... O presente lhe sorri, entra no prédio da faculdade apressadamente, sabia que estava atrasada. Cumprimenta o professor e se senta, a aula agora toma todo seu pensamento...

As aulas passam rapidamente, na volta não há mais tempo de parar no parque, ainda assim o atravessa às pressas. O sol já se esconde, sombras anunciam a chegada da noite, no céu a lua desponta na ânsia de ver o amado que se despede no horizonte.

No ônibus cheio, calor e cansaço dominam, no balançar da viagem adormece...O carrossel...gira...gira...

A pequenina passara maus momentos naquele dia, a mãe tentara acalma-la e andara devagar pelo parque. Passavam perto da roda gigante quando alguém disse: - Pobre criança! não tem pés... A mãe a segurara e seguira rumo ao lago, entregara-lhe um pedaço de pão: -Jogue para os peixinhos, eles querem comer. Jogara o primeiro pedacinho e os peixinhos se amontoaram na esperança de conseguir comer. A pequenina sorrira, esquecera as dores, a mãe seguira andando até chegarem ao carrossel...

-Olá Senhora! Quer colocar a menina para brincar um pouquinho? E a mãe a colocara no cavalinho vermelho... O carrossel girava, girava o céu...

-Moça! Será que não está na hora de descer? Desperta assustada, ainda bem que o motorista era sempre o mesmo e sabia onde ela descia...

Chega em casa com um enorme sorriso, o descanso em fim, o dia foi pesado, mas caminhar é preciso. Iria dormir, mas, o céu agora está cheio de estrelas, deixa-se contemplar...

EMARILAINE
Enviado por EMARILAINE em 29/08/2016
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