VIVER É APRENDER
Em regra, o que se ouve falar sobre relacionamentos longos e duradouros é o risco de sofrerem com uma enfermidade denominada cotidiano. Geralmente, os principais sintomas são reconhecidos através do esquecimento de datas importantes; os tradicionais passeios de mãos dadas se transformam, com o tempo, em excursões individuais nas quais cada qual segue seu rumo; nas noites frias quando os corpos eram aquecidos um pelo outro, agora são substituídos pelos cobertores...
Até que ocorre o principal dos sinais: o esmorecimento do amor. Este é o pior de todos, pois, além da indiferença, faz com que ambos não suportem a voz, o cheiro, a presença do outro, alimentem o ciúme, tornando-o doentio e levando-os, muitas vezes, a fantasiarem ou, até mesmo, envolverem-se em relacionamentos extraconjugais.
Conhecedora dessa dura realidade, Paula sentia-se insegura em seu matrimônio, pois percebia que ele estava sendo inflamado por tais sinais... Suspeitava que o amor que, supostamente, o marido sustentava por ela estaria diluindo-se. Principalmente quando estavam juntos, tanto na cama quanto nas refeições, percebia que não conversavam mais como “antigamente”. Casada há 8 anos com o industriário Miguel, não entendia o porquê de seu conto de fadas não ter dado certo, ou pelo menos, não estar caminhando conforme planejara.
Ainda se lembrava de quando se conheceram, do primeiro beijo, das idas ao cinema, do noivado, do casamento... O que teria dado errado? – refletia. Antes, era uma mulher bonita e atraente; agora, apresentava um aspecto envelhecido, cujas vestimentas auxiliavam-na a ocultar a beleza nativa que possuía. Era dona de extraordinários cabelos negros, que usava quase sempre presos e evitava exageros em perfumes e maquilagens. Assim, acabava por aparentar mais idade do que realmente tinha.
Por encontrar-se na casa dos trinta anos, achava que não tinha mais o que aprender com a vida. Sentia-se aprovada em todos os sentidos, mas era notável que nos requisitos sentimentais, emocionais e sexuais tinha muito o que aprender... Recordava-se da sua lua-de-mel, da noite de núpcias e da forma com a qual Miguel a possuíra, tornando-os uma só carne.
Sua insegurança e o complexo que tinha de si mesma, a faziam imaginar seu marido rodeado por inúmeras mulheres e isso a incomodava demais. Desconfiava de tudo e de todas as mulheres que se aproximavam dele. Certamente, querem tirá-lo de mim – procurava convencer-se. A cada dia, mais fendas abriam-se no abismo entre eles.
Se raramente conversavam, com tal freqüência se amavam. Miguel estava entediado com sua vida conjugal e procurava ser complacente com a conduta de Paula, demonstrando-lhe, com total limpidez, seu sentimento de desolação, por não encontrar na esposa a fascinante mulher com quem se casara.
Durante o jantar, o inesperado aconteceu. Miguel iniciou com grande entusiasmo, um diálogo cujo foco era sua nova secretária. Chamava-se Ângela. Era jovem, bonita, extremamente educada, inteligente... Paula ouvia, atentamente, os comentários que Miguel fazia a respeito da moça. Percebia como a exaltava e, procurando não transparecer seus sentimentos, fingia ouvi-lo. Na verdade, seus pensamentos pertenciam inteiramente à Ângela. Afinal, uma jovem com tantas virtudes, tão perto de seu marido, seria uma grande ameaça para seu casamento, seria a amante perfeita...
Paula passou a noite em claro pensando em Ângela e em como ela se relacionaria com Miguel. Imaginava os dois amando no escritório, no elevador, na copa, enfim, em lugares inusitados. A cada pensamento, Paula volvia-se na cama e olhava para Miguel que dormia tranqüilamente. Será que pensa nela? Sonha com ela?... – questionava-se.
De súbito, levantou-se, dirigiu-se ao closet e ficou a observar-se diante do espelho, procurando reconhecer a imagem refletida. Havia se transformado em uma mulher pouco atraente, totalmente diferente do que fora. Percebeu o quanto sua roupa de dormir escondia seu corpo e foi em busca de outra mais sensual, mas para sua surpresa, eram todas semelhantes.
Ficou por alguns minutos estudando-se, quando se despiu por completo e passou a tocar-se, a sentir suas curvas, seus seios, seus cabelos e lembrou-se do que seu marido dissera à mesa: “jovem, bonita, extremamente educada, inteligente...”, enquanto ela sentia-se reduzida a um fracasso como mulher. Notou, então, que o marido a observava e, com o olhar, a questionava sobre o que estaria fazendo ali àquela hora. Dissimulando, Paula voltou para a cama, deitou-se e fingiu dormir.
Amanheceu. Miguel foi para o escritório e Paula se perguntava se era habitual que saísse àquela hora. Não sabia. Parecia ser tão cedo... Durante aquele dia, sua imaginação aflorou de tal forma que nada via, além de seu marido nos braços da secretária.
Decidiu comparecer ao escritório para conhecer seu mais novo pesadelo: Ângela. E assim o fez. Arrumou-se como de costume e dirigiu-se ao escritório do marido, não para procurá-lo, mas para aconselhar-se com Marisa, uma amiga de longa data, que trabalhava para a mesma companhia que Miguel. Contudo, aproveitaria para assistir, finalmente, a secretária tão “espetacular”. Marisa era divorciada, mas nunca estava só. Tinha inúmeros pretendentes por ser muito sensual. Crescera com Miguel e conhecia suas manias, seus gostos e segredos. Era a aliada perfeita para Paula.
Chegando ao escritório, deparou-se com uma mulher sorridente, muito bonita, levemente perfumada e maquilada, dona de seios perfeitos, que concordavam com o decote sensual que ornamentava sua blusa branca, levemente transparente. A saia preta que usava permitia a constatação de que suas pernas eram bem delineadas e sua cintura bem feita. Os cabelos loiros delicadamente cacheados balançavam conforme seus movimentos. Tratava-se de uma mulher incrivelmente linda e terrivelmente sexy que, de forma inconsciente, fazia todo o ser de Paula estremecer de pavor.
Procurou Marisa e lhe contou a situação que estava vivendo. Atentamente, Marisa a ouvia e, após o discurso da amiga, bombardeou-a com conselhos e instruções. Fez com que Paula, mirando o espelho visse no que se tornara e prometeu transformá-la em uma nova mulher, cheia de vida. Neste dia, almoçaram juntas e Paula ouvia com toda a atenção, os argumentos de Marisa, na intenção de convencê-la de que precisava transformar, imediatamente, sua apresentação. Decididas saíram naquela tarde e adquiriram diversas e insinuantes peças íntimas e, também, novas roupas de dormir extremamente provocantes e sensuais. Perfumes e óleos exóticos foram os próximos da lista e o passo definitivo, seria sua aparência.
Enfim, seu aspecto, realmente, havia mudado, mas o conteúdo continuava o mesmo: insegura, incapaz, aflita, temerosa... Ao chegar em casa, encontrou o bilhete deixado por Miguel, que dizia: “Querida, trabalharei até mais tarde hoje. Por favor, não me espere para o jantar”. Aquela mensagem a tocou profundamente e uma mistura de ódio e amor próprio afluiu de dentro dela tomando conta de seus sentimentos, fazendo com que despertasse de um profundo estado de sonolência.
Não permitiria que uma intrusa se intrometesse entre ela e Miguel. Sua mente raciocinava com incrível rapidez e mostrava-lhe como reverter aquela situação. Decidiu então, fazer uma “surpresinha” para o marido. Percebia-se no olhar de Paula que algo estava diferente, estava mudado... Banhou-se, distribuiu sobre sua pele óleos e perfumes, escolheu a lingerie mais sexy que havia comprado, maquilou-se e vestiu-se sensualmente, como não fazia há muito tempo. Naquele momento, inexplicavelmente, renascia uma mulher plena em beleza e sensualidade.
Dirigiu-se ao escritório do marido e, chegando lá, chamou a atenção de todos que a viram. Ninguém a reconheceu. Entrou na sala de Miguel sem se anunciar, aliás, nem poderia, pois a secretária não estava em seu posto. Miguel não reconheceu a mulher que acabara de entrar em sua sala e que olhava para Ângela, sorrindo maliciosamente: “Poderia ficar a sós com o meu marido, querida?” Após Ângela se retirar, Paula encarou Miguel e disse-lhe: “Vim trazer o seu jantar, querido”.
Surpreso, Miguel olhou para Paula, incrédulo no que via. Era outra mulher, uma desconhecida, cujo ar extremamente sensual, provocava nele uma incontrolável excitação. Paula trancou a porta e, antes que ele pudesse levantar, lançou-se sobre sua mesa e, com um beijo abrasador, arrebatou-lhe o fôlego, fazendo-o sentir, no ar, os perfumes que exalavam de sua pele.
Miguel ficou aturdido, enquanto Paula, vagarosamente, se despia. Deixou-se cobrir apenas pela lingerie que, convidativa, despertava nele o desejo de tocar o corpo daquela diva que, diante dele, se fazia presente. Percebendo os anseios do marido, aproximou-se e colocou as mãos de Miguel sobre seus seios, pois sentia o quanto os desejava tocar. Arrancando-lhe o sutiã, os acariciou e os sugou, enquanto Paula sentava-se sobre Miguel e o despia num caloroso beijo.
Em seu subconsciente, Miguel perguntava-se de onde aquela mulher havia surgido. Mas, logo seus pensamentos entregaram-se ao momento e ele a lançou sobre sua mesa, retirando por fim a única peça íntima que usava e logo estavam envoltos por uma explosão de sexo. Nunca viveram uma situação semelhante, desde a juventude. Miguel enlouquecia com o aroma que de Paula exalava e que o deixava cada vez mais excitado... Paula transformara-se em uma mulher insaciável, tal como um furacão sexual que devorava e devastava o que estivesse à sua frente.
No escritório, as roupas pelo chão e o cheiro do sexo pelo ar se misturavam e Miguel e Paula, sobre o tapete, estavam incrédulos com o que acabara de acontecer. A única certeza que tinham é que precisavam reacender o fogo abrasador do relacionamento que estava adormecido há alguns anos. Depois daquela noite, outras fantasias foram sendo realizadas e, todas as noites, se amavam como se fosse a primeira vez...
Paula aprendeu que sempre há tempo para freqüentar o educandário da vida, mesmo quando se pensa que de tudo se sabe um pouco, principalmente, quando se trata de relacionamentos amorosos. Aprendeu, também, que nunca é tarde para corrigir erros e apostar em novos acertos. Enfim, viver é sempre aprender.