QUANDO DEI POR MIM
Quando dei por mim, já não era mais o mesmo. Nossa essência vai assumindo novas vertentes, novas paisagens, até que o amanhã deixa de ser amanhã e cede espaço para o hoje, que não demora muito para se tornar ontem.
Disso tudo, cheguei à conclusão que o ontem nunca importou além das experiências brutais que ele trás.
Decidi então, rascunhar meu afago na areia, e deixei o vento levar e empoeirar. E então, empoeiraram-se lugares, salas, taças, talheres, edifícios, sonhos.
No momento mais certo, nas horas mais exatas, o vento há de bater na janela novamente. Talvez pela madrugada ou, quem sabe, naquela tarde de domingo.
A verdade é que quando o sopro do vento empoeirado bate no rosto, não tem mais volta. Quando a semente germina, a gente larga tudo. Nasce um pequeno broto na alma, e vai crescendo folhas e ramagens. E então, a alma vai amadurecendo, vai assumindo novos contornos e novas estórias.
Quando dei por mim, percebi que a alma não nasceu para ser presa junto ao medo de ser livre.
Resolvi então deixá-la ir, colonizar os lugares mais inusitados, cativar os sorrisos e os abraços mais apertados.
Porque logo em breve, novos contornos, novas estórias e novos amanhãs hão de surgir, e o que é hoje importante, logo se transformará em retratos de um ontem cativante.