LOUCURAS DE BRENO... 
 
Remexendo suas memórias, sentado embaixo da velha figueira, cheio de sentimentos inferiores, Breno voltou no tempo e lembrou-se de seu grande amor.
Os dois foram colegas desde o jardim de infância. Amara Maitê desde o primeiro momento que a viu. Certa vez, alguém lhe perguntou o que havia nela de tão especial para que nunca a esquecesse. Ele falou:
– Meu querido, há pessoas que, ao olhá-las, sentimo-nos atraídos; outras que são envolventes e carinhosas, por quem eu poderia me apaixonar, mas Maitê não é só especial, é única. De fato foi, pois Breno não mais amou ninguém.
Quando criança, estavam, com frequência, juntos, sabe aquilo de unha e carne? Pois é, eram assim. Todos pensavam e diziam que, um dia, seriam namorados. O tempo passou, os dois cresceram e Maitê sempre lhe deixou claro que só gostava dele como amigo; no entanto, Breno continuava a acreditar que viriam a se casar.
Num fim de semana, Breno e Maitê foram com os colegas à casa de um deles, fariam um trabalho sobre literatura. Breno cismou que um dos meninos, o Arthur, que era bastante extrovertido e espontâneo, estava interessado em sua amada, disse que a cercava e dava-lhe indiretas.
Quanto mais Breno e Maitê cresciam, mais aumentava a obsessão dele por ela. Ela não podia ir a lugar nenhum nem falar com os amigos. Ir a festas, nem pensar, o rapaz implicava com tudo e com todos e, por isso, acabava brigando de tapas com alguém.
O impressionante é que a garota não era sua namorada. Maitê gostava dele como amigo, achava-o muito bonito; às vezes, quando estava amável, achava-o um pouco sedutor. E, no fundo, não era um cara mau; apenas não se sentia amado e achava que a jovem não podia desprezá-lo.
Em vários momentos, a jovem tentou fazê-lo entender que não tinha direitos sobre ela, além de que não eram e nunca tinham sido namorados. Atitudes obsessivas e imaturas não podiam ser mais ignoradas. Amigas, colegas, professores e familiares temiam por ela. Muitas vezes, tentaram falar com Breno, fazê-lo compreender que a menina era simplesmente colega e que não a podia afastar do mundo nem, com neurose, controlar sua vida, como se fosse propriedade dele.
A cada dia, a situação ficava mais difícil. Breno sentia-se contrariado e isso aumentava o ciúme por Maitê. Receava que a jovem se apaixonasse por alguém; realidade que nunca permitiria. A mínima proximidade de um garoto, armava a maior confusão. Maitê, cansada de suas atitudes, pediu-lhe que se afastasse. Ocasião, em que, às escondidas, passou a segui-la.
Maitê, ao ser avisada de sua atitude, procurou-o e, mais uma vez, explicou-lhe que somente lhe tinha amizade e que jamais o iria amar como desejava. Com delicadeza, pediu-lhe que se afastasse dela.
Dentro de Breno, algo começou a mudar. Todo aquele amor, aos poucos, transformou-se em ódio. Sentia-se rejeitado; só queria amá-la; logo, ela não podia fugir dele. Durante alguns meses, continuou a procurá-la; ligava todo dia, às vezes, falando de seu amor; outras vezes, ameaçando-a, dizendo que ela não seria de mais ninguém nem se livraria dele.
Maitê, assustada, deixou de ir às aulas, não saía mais de dentro de casa. Passados dois meses, Breno desapareceu e a vida voltou ao normal.
Maitê não mais soube do ex-colega. A única certeza era que voltara a ser livre e, ao conhecer Renan, esqueceu-se dessa parte ruim e desagradável de sua vida.
Ela e Renan, após dois anos de namoro, casaram-se e foram morar em Bento Gonçalves. Um ano casados, engravidou. Nove meses maravilhosos. Alan nasceu num 25 de dezembro, data marco do início do namoro. Seu esposo trabalhava numa vinícola.
 
Breno, num fim de semana, enquanto lia o jornal, deparou-se com uma foto de Maitê na coluna social. Tudo aflorou; pois, em nenhum momento, esquecera o passado; lembrava-se, com clareza, de quando a moça o rejeitara.
Resgatando mágoas, jurou vingança e decidiu que chegara a hora de agir. Faria algo que deixaria a ex-paixão e o esposo abaladíssimos e tristes: raptaria o bebê.
Por inúmeras ocasiões, foi a Bento Gonçalves. Precisava conhecer os hábitos do casal. Ao observá-los, percebeu o quanto amavam o menino.
Não lhe importava o tempo, importava que, em poder de Alan, ele teria o controle da situação. Maitê, além de estar em suas mãos; aos poucos, iria se definhar.
Qual dor maior do que a da perda de um filho!
Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 02/08/2016
Reeditado em 07/08/2016
Código do texto: T5716445
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