JARDIM DO ÊXTASE
Era uma quarta-feira chuvosa. Os pingos da chuva percorriam por entre as folhas das árvores, a inebriar o solo do jardim da casa de Alice. Aquele ambiente tão seu, onde muitos dos seus desejos mais secretos estavam escondidos. Cada canto, cada flor em sua tenra simplicidade traduziam, minuciosamente, suas mais íntimas inquietações.
Quase que de forma inocente, dirigia-se todos os dias, ao seu balneário de luxúria, onde pensava em amores não correspondidos e, muitas vezes, nunca vividos. Mas, ao embrenhar-se em seu próprio Éden, suas aspirações tornavam-se fatos e seus anseios mais profundos permitiam dimanar no ser daquela jovem, uma extraordinária mulher, capaz de conduzir ao delírio todos os seus amantes.
Lá estava ela, sublime e digna de toda apreciação masculina. Possuía estatura mediana e era dona de seios fartos, cintura e pernas delineadas, lábios carnudos e nos cabelos, o perfume inebriante do fogo do amor. Em seu corpo, coberto por um tecido tão leve quanto o ar e tão alvo quanto a neve, percebia-se, na transparência que a revestia, um teor de pureza e castidade. Os seios cobertos por rendas que, ligadas ao seu busto, davam-lhe um ar virginal, capaz de enlouquecer a qualquer homem que a visse naquele exato momento.
Como de costume, levantou-se, dirigiu-se ao jardim e chegando lá, serenamente, lançou-se de corpo e alma às suas fantasias. Convocava seus amantes e oportunizava-os a satisfazê-la de modo pleno. Procurava saborear aquele momento, deliciando-se com a forma pela qual era amada.
Porém, ao finalizar seus “encontros”, Alice retornava à sua casa com certa frustração. Como poderia isso ocorrer? Não era realizada plenamente? Seus amantes não eram capazes de satisfazê-la ao extremo? Porém, existia um homem, apenas um, que, inconscientemente, se negava a possuí-la e deixar-se possuir por ela.
Chamava-se Carlos. Era um homem forte, alta estatura, cabelos negros e olhos claros; tinha no semblante a perfeição das faces do lírio. Era assim que Alice o descrevia e se podia sentir, na magnificência de suas palavras, um enorme desejo de alcançá-lo, possui-lo e consumi-lo...
Trabalhavam no mesmo local e, ocultamente, Alice alimentava um sentimento um tanto quanto obsessivo por Carlos. Este, por sua vez, parecia indiferente aos apetites daquela mulher. Ambos mantinham uma relação profissional impecável e suas conversas resumiam-se em meros cumprimentos e diálogos relacionados ao cotidiano da empresa. Mas, naquele dia, o destino reservara para eles algo que mudaria suas vidas para sempre...
Ao entrar em sua sala, Alice notou a figura de Carlos que, pacientemente, a aguardava. Ao vê-lo, sentiu que todo o seu ser estava tomado por aquela presença e o seu coração acelerava a um ritmo que lhe fugia do controle e perguntava-se quando aquele homem seria inteiramente seu.
Enquanto Carlos iniciava o diálogo e explicava-lhe os motivos pelos quais ali se encontrava, Alice, deslumbrada, ouvia de seus lábios uma única frase: TE QUERO. Olhava-o fixamente, com uma penetração tal que, em uma atitude instintiva, lançou-se a Carlos como uma fera à sua presa. Sem discernir fantasia e realidade, beijou-o. Titubeante, Carlos afastou-se dela, como um animal foge de seu caçador.
Retirou-se estonteado e inquieto. Contudo, pensava nela a todo o instante. Estava louca? Como fora capaz de algo semelhante? Mas, em meio àquela desordem de pensamentos, passou a questionar-se: Como nunca notara aquela mulher? Como pôde ser insensível à tamanha sedução? A partir daquele momento, a imagem de Alice estava fixa em sua lembrança e a pele ardente e provocante, estava cravada na de Carlos. E, nesse estado, permaneceu durante todo o dia.
Ao anoitecer, Alice estava em casa, completamente apreensiva com o que acontecera pela manhã. Pensou em telefonar para desculpar-se e, talvez, abrir o coração explicando o porquê de tal comportamento. Sem hesitar, ligou para Carlos. Não obteve sucesso. Uma sombra de angústia apoderou-se de Alice e seu pensamento foi tomado por nebulosas reflexões.
Decidiu banhar-se para além, de purificar o corpo, também, purgar a sua alma. Na banheira, além de seu corpo nu, havia pétalas de rosas. As mesmas flores que testemunharam suas freqüentes visitas ao jardim. Ao adentrar naquelas águas perfumadas, temporariamente, abrandou suas agitações, massageando seu corpo, procurando sentir nele as mãos, os dedos e o calor de Carlos a transitar por entre suas curvas delineadas, macias, sedosas. Cobriu-se de sedas e rendas e, na cama, não esquecia a imagem de seu amante. Sentia Carlos ali, diante dela, a olhá-la, a desejá-la...
Já passavam das 22 horas quando a campanhia soou. Alice levantou-se, dirigiu-se à porta e ao abri-la, deparou-se com o objeto de seus desejos. Era Carlos. Sim, ele mesmo. Estava ali, diante dela, totalmente real. Ao vê-la em vestes tão provocantes, Carlos sentiu seu corpo vibrar. Sentiu o despertar de um desejo ardente que nunca havia sentido antes por outra mulher. A atitude de Alice, naquela manhã, havia mexido muito com ele e aquela cena repetia-se em sua memória, como flashes.
Alice convidou-o a entrar. Mas, Carlos, porém, permaneceu petrificado diante daquela delicada e misteriosa fada, que o deixara encantado e alucinado para satisfazer-se na película que lhe havia marcado a alma. Percebendo o misto de desejo e confusão que se formara no ser de seu amante, Alice, delicadamente, conduziu-o até jardim e, no seu aposento de prazer, despiu-se diante dele. Fitou-o, levando seus seios àquelas mãos ansiosas e apreensivas. Ao senti-los entre seus dedos, Carlos apalpou-os e, deixando-se orientar pelo instinto, levou-os à boca. Conduzido pela imaginação, fez deles sua propriedade exclusiva.
Alice sentia todo o seu corpo estremecer de prazer e o gozo era certo. Mas ela queria mais... Queria ser explorada por inteiro, ser experimentada até a última gota, oferecendo, assim, o seu néctar, seu mel. Ela desejava que aquela noite fosse perpétua. Queria sentir muito mais que a língua quente de seu amante percorrendo seu corpo. Queria que fossem um único ser, uma única criatura... Carlos sentia no corpo de Alice o aroma do sexo, misturado à fragrância das flores e isso o arrebatava cada vez mais, tornando-o sedento pelas circunstâncias.
Sem relutar, Carlos “devorou” àquela que desejava ardentemente ser devorada por ele. Alice virou a presa e Carlos o caçador. Apenas as flores foram testemunhas daquele momento. Ao ser penetrada pelo seu tão esperado amante, Alice desprezou todos os outros. Ela já não precisava deles, pois sentia seus suores se misturarem, seus gemidos se tornarem um único som e sentia principalmente, sua carne unida à de Carlos. Órgão com órgão, pele com pele, boca na boca.
Carlos deliciava-se no corpo daquela esplêndida mulher, sem se importar com os brados produzidos por ambos em conseqüência do deleite que sentiam naquele momento. Era como se aquele recinto somente a eles pertencesse. Alice havia despertado em Carlos o soberano ardor do sexo. Jamais foram os mesmos. Naquela noite, vivenciaram um ensaio do que se tornaria um hábito e naquela explosão de paixão e prazer, brotava um grande amor.