ACIDENTE (na verdade, dois!!!) DE TRABALHO

ELA era professora numa escola e secretária na noturna.

Chegou além de sete horas para dar aula e não ouviu a algazarra costumeira – soube depois que estava acontecendo uma reunião pedagógica em outro local, excluindo língua portuguesa. Bastante atrasada! A entrada da escola era pelo refeitório, espaço amplo, e havia muita poeira de cimento no chão (obras parciais, escola funcionando). Correu, caiu deitadinha, uma cadeira foi parar a boa distância e o corpo foi projetado para a frente, como se nadasse. Mãe de aluno, extremamente gorda, tentou ajudar, mas a professora fez gesto negativo. Pensou: “E se ela cair em cima de mim?” Joelho muito dolorido, alunos haviam comparecido, turma trocou de sala, desceu um andar... Logicamente a roupa ficou imunda. Bairro longínquo, ônibus, viagem de uma hora, ainda andar a pé um trecho até em casa. Naquela noite, documentos urgentes a serem executados, não poderia faltar – agora escola em bairro mais próximo. Ônibus por quinze minutos. À saída, pediu que uma funcionária a ajudasse a subir no ônibus, porém a moça desapareceu com o namorado. A “acidentadazinha” tentou descer o degrau, na direção da calçada, andar inseguro, desequilíbrio e torceu a outra perna. Dor desesperante. Pipoqueiro da rua foi ao encontro, ELA só percebeu /e costumavam conversar.../ uma ‘figura estranha’ (?) em traje branco, boné idem, não agüentou ficar em pé e a frase virou ‘meme’ (palavra atual), uma dez vezes como papagaia: “Uma cadeira, por favor!” Veio a cadeira, em alguns minutos a amiga fugitiva apareceu. Nenhum táxi passando, foi para casa de ônibus mesmo......... Desta vez, roupa limpa. Noite de horror! Pela manhã, clínica habitual. Tanta dificuldade a partir do chuveiro que só conseguiu chegar no intervalo entre o ortopedista da manhã (já saíra) e o da tarde (atrasado). Radiografia de praxe e gargalhadas do doutor. ELA riu em coro, antevendo algo cômico. De um lado, gesso e saltinho, de outro, tala de papelão e perna enfaixada – de preferência, não colocar nenhum dos pés do chão......... (Comédia latina /Plauto ou Terêncio?/ para a professora de português!) O motorista do táxi a pegou no colo e “ensinou” como deitar-se no banco traseiro, pernas na direção da janela – ele acostumado com clientes do pronto socorro do centro da cidade. ELA residia num apê de primeiro andar, sentou de costas num degrau, esforço muito, jogou o traseiro para trás e para o alto, passou para outro... outro... mais outro... neste dia descobriu 17 degraus... levou exatamente 45 minutos até entrar, tempo certo de uma aula. A mãe foi à perícia municipal no centro da cidade com a declaração do ortopedista, mas pediram também atestado da escola... Voltou no dia seguinte com o documento e agendaram perícia em casa... Na perícia estadual, bastou a declaração da clínica – 30 dias!!! ELA ficou provisoriamente “de molho”, como se diz, sem prazo estabelecido. Quase completando um mês, veio o perito jovem do município, constatou a veracidade (quanta bur/r/ocracia exagerada!!!), porém o laudo definitivo seria dado num hospital de acidentados, outro bairro um tanto distante. Novamente táxi. Um caos até divertido! Muita gente contando suas estórias... Uma mulher fora atingida em casa por duas jacas enormes. Outra escorregara “naquela sujeira” do galo que invadiu a sala. Dois homens com peito e ambos os braços enfaixados, discutindo aos berros, acusando-se mutuamente, as pessoas imaginando agressão física (em mútuo pontapé?), motorista da limpeza urbana & motorista da companhia de refrigerantes, porém logo se descobriram “irmãos” flamenguistas, simularam abraço, a paz voltou, gargalhadas gerais ao redor quando combinaram juntos um futebol; antes disso, as duas esposas logo se fizeram intimas, trocando receitas culinárias. Recado urgente que todos os médicos se apresentassem para atendimento clínico de urgência pois acontecera um acidente maior......... com um trem, algo assim. (Não mentira porque a televisão mostrou muitos feridos.) Voltassem todos no dia seguinte. (Revolta e quebra-quebra nunca é solução.) A papelada ficou no hospital. No outro dia, médico perguntou a ELA algo sobre o caminhão, perceberam mistura de laudos e até desembaralhar tudo, super mão de obra... Médico explicou não poder dar 30 dias de licença (citou até decreto), mas já estava sendo o vigésimo oitavo. Sendo assim, preencheu um laudo à parte; em outro papel registrou 25 + 5 dias, e colocou duas datas em continuação (exigência ‘burrocrata’), entregar na escola). Não é para entender...

Anos depois, ELA aposentou e mostraram na Secretaria de Educação o laudo um tanto amarelo: “A professora dirigia um caminhão vermelho de refrigerantes, quando de repente .........”

F I M