O BRUTAMONTES
Conto de:
Flávio Cavalcante
Conto de:
Flávio Cavalcante
Hoje ele é incapaz de fazer mal a uma mosca. Mas quem o conheceu no passado sabia da alta capacidade que ele tinha de fazer maldade com qualquer um que aparecesse na sua frente. Era um sujeito sangue frio e as suas inimizades não viam a hora de receber a feliz notícia de que o mandaram pros quintos dos infernos. Era um cidadão de uma frieza incalculável e mesmo que suas vítimas implorassem piedade ele fazia exatamente o contrário só para mostrar que ali ele era o dono do pedaço.
O requinte de crueldade em cima da vítima mostrava de fato que existia um cão nas profundezas do inferno e se ele não era próprio capeta comandante, era um enviado muito próximo dele.
Mas nada melhor que um dia após o outro. A vida é de fato uma escola e dá o dever de casa sem deixar opção de escolha. Tem que fazer a lição de casa ou a punição é certa. Agora, estudar ou querer entender que não há outra escolha a não ser aprender, aí é uma questão de escolha mesmo, e essa escolha tem sua consequência que pode refletir diretamente na própria vida e o brutamontes maléfico teve que aprender a dura pena.
A própria vida deu a ele de presente um bocado de amor como dever de casa e este automaticamente se infiltrou nas barreiras do coração, mostrando que quanto mais bruto é o homem sempre existirá amor em seu coração. E não foi diferente com o tal brutamontes. Ele teve filhos e esposa. Ao longo de sua vida ele viveu em função de cada um deles e nem imaginava que todo aquele amor era uma lição para ele mudar a sua maneira de ser. O castigo não parou por aí. O brutamontes sofreu um sério acidente e o deixou incapacitado de muitas coisas na vida. A reflexão do que em outrora havia feito, veio gradativamente sem ele esperar até se tornar uma tortura diante de todo amor recebido da sua prole.
Certo dia o brutamontes sentou num sofá juntamente com seus filhos e esposa e declarou o seu amor intenso por cada um deles. Falou que não tinha muito tempo de vida e precisava desabafar a sua vida de outrora. Os filhos ficaram sem entender a atitude do velho brutamontes e ficaram ouvindo cada palavra-chave de sua história impressionante e aconselhou cada um deles nunca seguir aquele exemplo. Se ele pudesse voltar atrás certamente voltaria para reparar cada momento errado de sua vida. Suas lágrimas desceram de bica e expôs o quanto estava arrependido. Expôs também a preocupação de não ter o perdão de Deus.
Um de seus filhos retrucou de imediato e o deixou mais confortável dizendo que Deus é pai, não é padrasto. E por ser bom criador, claro que vai perdoar aquele que se arrependeu das suas falhas. Disse também que a apesar de todo erro do passado jamais ia deixar de amá-lo.
Ouvindo aquelas palavras daquele jovem rapaz, o brutamontes não conseguia controlar suas lágrimas e o abraçou fortemente. O que ele mais queria naquele momento era o perdão de todos e começou bem já recebendo o apoio da família que ele sabendo que em outrora nunca pensou no sofrimento de outrem, hoje já consegue refletir sobre tudo e de agora em diante o que resta nele é reparar o erro, pagar de peito erguido como a vida já está castigando e tentar consertar a falha que ficou lá atrás da sua vida.
- FIM -