AS BRUMAS DO INVERNO (O DESTINO DOS FILHOS DE JOANA - final)

O DESTINO DOS FILHOS

Bem, um ano depois Joana já estava envolvida em outras tramas. Sua vida era uma continua tentativa de acertos. Por não ser muito inteligente ela não pensava nas dores que poderia estar causando a seus filhos com a sua acomodação em deixá-los com a “mãe”. Acreditava que lá eles tinham um lar e amor.

Sentia-se feliz com João. Com ele agora tinha um filho e uma casinha simples, numa vila distante da grande cidade. Tentara trazer os outros filhos para junto de si, mas a “mãe” não deixara. Ela não era forte o bastante para brigar. Continuou “tia” dos próprios filhos. Não dormia mais no emprego, nem tentara mais voltar a estudar.

Durante o dia deixava o filho que tivera com João com uma vizinha, a quem ajudava. Não pagava porque já ganhava pouco também.

O tempo passava célere e a vida de Joana ficou menos corrida. Seu marido trabalhava como zelador em um prédio, num bairro da periferia daquela grande cidade. Dormia em casa todos os dias, e, se não fosse pelos filhos que deixara com a “mãe” ela podia dizer que era feliz.

Um dia bateram em sua porta seus filhos mais velhos. O menino tinha 17 anos, a menina 15. Queriam morar com ela, pois era a única parente mais próxima, a “tia”. Joana resolvera contar-lhes a verdade. Pessoa simples, não sabe contar histórias, não soube explicar seus sentimentos, nem seu abandono, nem o abandono que causara. Os adolescentes revoltados fugiram de sua casa, antes mesmo que ela argumentasse melhor. Não queriam mais saber dela. Saíram dali dizendo que a odiavam.

Joaquim vivera nas ruas por alguns meses até que um antigo colega de escola, cabeleireiro agora lhe convidara para morar juntos. Aceitou e passou a trabalhar num posto de gasolina. A menina, Marina, tornara-se prostituta e vivia bêbada e drogada. Joana sofria com aquilo, porém nada fazia. Nada sabia fazer para solucionar o problema. Começara a adoecer e antes mesmo que tudo aquilo terminasse suas entranhas começaram a ser devoradas por um câncer que a matou em pouco tempo.

O filho mais velho agora estuda. Está com 30 anos. Quer ser advogado. Marina fugiu com um cafetão e ninguém mais soube sobre ela. O terceiro filho tem 13 anos e mora com o pai e uma nova mulher que este arrumou.

A vida algumas vezes faz com que pensemos que somos os únicos quem sofre. Mas tudo o que fazemos tem consequências sérias para nós ou para os outros.

Joana nunca teve sabedoria para compreender seu sofrimento e crescer com ele. A sua submissão criou outros dramas, mesmo quando ela não queria prejudicar ninguém. Sua busca era uma busca de amor, por amor, com amor que não aprendeu a dar, nem mesmo quando se casou, tampouco quando se tornou mulher.

20.07.16

Mário Feijó

MÁRIO FEIJÓ
Enviado por MÁRIO FEIJÓ em 20/07/2016
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