Arquivo Morto
Eric do Vale
- Boa noite! _ Falou ela.
-Boa noite. _ Respondi para não ser grosseiro.
-Há quanto tempo! Tudo bem?
-Sim.
-Não quer conversar?
Perdi a conta das vezes em que me fiz de desentendido para não conversar com ela. Lembro-me que, um dia, abri o meu e-mail pessoal, durante o expediente, e dentre muitas mensagens que recebi, estava a dela querendo saber como eu estava.
Continuei agindo assim até me convencer de que não dava para fugir e, portanto, era necessário encarar aquilo de frente.
-Por que acha que não quero conversar? _ Perguntei.
-Depois nos falamos.
-Espere aí.
Por que eu tinha que dizer aquilo?
-Vai para o show do...? _ Perguntou ela.
Até parece que eu gosto desse tipo de música!
Procurei manter a calma e respondi:
-Não.
-Mas, eu vou.
Depois, despediu-se.
Senti-me aliviado, mas, de repente, ela retornou:
-De vez em quando, fico recordando das nossas loucuras.
Detalhadamente, ela foi lembrando cada uma. Pensei em me despedir dela, inventando alguma desculpa.
-Ainda tenho a agenda que você me deu. _ Falou ela.
Fiquei em silêncio e ela prosseguiu:
-O meu número continua o mesmo.
Me fiz de desentendido e ela perguntou:
- Você tem ainda as nossas fotos?
-Não sei.
-Não sabe?
Fiquei sem responder nada e ela finalizou:
-Deixa pra lá.
Depois de dez anos, ela já deveria ter superado aquilo.
-Vou saindo aqui. _ Falou ela.
Não tive mais dúvida: melhor deixar tudo do jeito que está.