RÁPIDA AULA SOBRE CARTUM, CHARGE E HQ

No sindicato, improvisaram um quadro, fundo preto, giz nas cores branco e vermelho para EU me “sentir mais à vontade”, foi o que escutei (São Paulo ou Flamengo?). Fiz rápidos e resumitivos esquemas, subtítulos da minha palestra. Muitas professoras!!! Depois, ambiente à meia-luz. A grande preocupação era se ELAS me enxergariam......... Escutariam muito bem – fiz proveitosíssimo curso de oratória e tenho amiga fonoaudióloga. Na parede clara, para estimular a plateia, uma inicial projeção de HQ – Joaninha preta e vermelha diante de um notebook: “Não aguento mais tantas notícias terríveis nos jornais! Ainda bem que março já está acabando... e teremos doces mentiras para ler no dia primeiro de abril...” (Gargalhadas gerais, senti que comecei bem.)

Aí, veio o que chamam “discurso didático” (três dias diante do espelho, experimentando trajes, ensaiando caras e bocas):

Não apenas livros e textos escolares, mas modernamente todo material impresso deve circular na sala de aula, até mesmo conta de luz e bula de remédio, sejam tipologias informativas, dissertativas, narrativas, poéticas, publicitárias ou epistolares. PAULO FREIRE filosofava “ler o mundo”, o ser humano capaz de entender as múltiplas linguagens – escritas, visuais ou sonoras. Foi-se o tempo (muito antigo!) em que as HQ entravam nas escolas às escondidas... pois a “educação” da época acreditava que imagens atrapalhavam o desenvolvimento e a compreensão da leitura – diz-se agora que HQ é a integração entre linguagem escrita e visual.

COMUNICAÇÃO VISUAL é toda e qualquer comunicação através de imagens.

1 - ANEDOTA – uma história com final divertido que provoca riso. É também chamada de ‘piada’, em Portugal é ‘chiste’ – aí, pode ser escrita/lida ou visual, comediante ao vivo.

ANEDOTA NO GRAFISMO:

A -- Existe um tipo de anedota gráfica (narrativa humorística expressa através da caricatura), contada por meio de desenho, num só quadrinho, o CARTUM, com o objetivo de provocar riso através da crítica. O cartunista – pessoa especializada em criar cartuns – pode utilizar legendas (palavras, frases) ou dispensá-las. Há entendimento atemporal para o cartum em qualquer época. --- Projeção de CARTUM – Um amigo explica para o outro a semelhança entre a avenida Paulista e o casamento: ambos começam no Paraíso e terminam na Consolação. (Resmungos e muchochos entre as moças da plateia, mas nenhuma saiu revoltada.) --- Outro CARTUM – Eleitor em traje verde-amarelo ante barraquinhas com cartaz “vote”, 5 vendedores-candidatos, sendo 4 homens e 1 mulher, e ele pergunta se tem... “educação decente? ética? transporte, saúde e segurança dignos? redução de imposto? honestidade na política?” – na sexta barraca, a de “sonhos”, a verdadeira, doceiro comunica que tem “de creme e de doce de leite”.

B -- A CHARGE é um desenho satírico e caricatural, temporal, porque ao rigor do tempo a compreensão se dilui ou termina, pessoa/personagem fora da moda, nem se sabe mais quem era ou o que fez. Muito uso em política. --- Projeção de CHARGE – Duas amigas conversando: “Você não acha que em vez de falar dos defeitos do adversários, os candidatos deviam falar mais das suas próprias qualidades?” “Que qualidades?”

2 - H Q - história/estória em quadrinhos – comunicação através de desenhos e imagens dentro de quadros gráficos.

A -- QUATRO VALORES PRINCIPAIS: DESENHO GRÁFICO (a cada tipo de estória, um desenho adequado: figuras-tempo-espaço organizando o significado da estória) + NARRATIVA (ação desde o primeiro quadrinho ou página, como projeção cinematográfica) + CONTEÚDO (aspecto informativo e/ou cultural do texto) + PAGINAÇÃO (6 a 8 quadros equivalentes por página, às vezes abertos ou com desenhos atravessados, dando movimento e dinâmica à história – cores ou contraste preto/branco). --- Projeção de HQ – Na agência de empregos, somente vaga para quadrinista e o candidato insinua criar uma tira sobre um quadrinista com dificuldade de fazer tiras – entrevista zero, sai eterno desempregado!

B -- LINGUAGEM DOS QUADRINHOS: a) IMAGENS (elementos gráficos); b) BALÃO (signo convencional que insere fala, pensamento ou estado emocional da personagem); c) ONOMATOPEIA (signo sonoro, ritmo visual, ruídos representados por letras, às vezes invadindo o espaço branco da página ou o quadrinho seguinte – soco, tiro, objeto quebrado, colisões); d) METALINGUAGEM é de vez em quando alguma alusão da personagem ao fato de ser uma história em quadrinhos; e) SUSPENSE no último quadro da tira, sendo seriado no jornal diário, geralmente estória completa na revista. --- Projeção de HQ – Personagem gulosinha Magali lambe picolé – slep! slep! –, come pipoca – chomp! chomp! chomp! – depois é pastel, é sorvete... mas não chega ao algodão doce porque o desenhista, pagando as gulodices desde o segundo quadrinho, o do picolé, comunica à menina que... “Acabou a história!”

Em outras palavras complementares e mais esclarecedoras:

REQUADRO é a moldura quadrada ou retangular que circunda desenhos e textos de cada quadrinho – se em linhas onduladas, trata-se de sonho, delírio ou recordação da personagem. LINHAS CINÉTICAS indicam movimento das personagens ou trajetória dos objetos em ação: carros se locomovendo, balas saídas de arma, pedras atiradas. RECORDATÓRIO é uma caixa onde são colocados textos indicando a transição de tempo ou espaço: relógio mostrando 5:03, Anhangabaú comprovando São Paulo. BALÃO com linhas onduladas, pensamento; se pontilhadas, personagem cochichando, se angulares ou na forma de estrela, irritação ou grito; linhas trêmulas, medo ou muito frio; rabichos, diversas personagens dizendo a mesma coisa. As PERSONAGENS são classificados como protagonista (principal), adjuvante (secundária) ou antagonista (contrária à personagem protagonista, responsável pelos conflitos que se desenvolvem no enredo). ARGUMENTO é a ideia geral da estória e ENREDO os detalhes, quadro a quadro, com cenários e diálogos. O LUGAR legitima a narrativa: sugestão de susto e medo na HQ de terror, com galhos retorcidos e sem folhas, casa velha e abandonada, cores escuras, pássaros noturnos voando. METÁFORA VISUAL é o símbolo conotativo: estrelas ao redor da cabeça como dor, lâmpada acesa como ideia; serrote cortando madeira como ronco no sono; caveira-cobras-lagartos-raios-bombas como “censura” a palavrões.

Uma nissei toda delicadinha, ‘quase’ uma boneca de vitrine no bairro da Liberdade (reconheci-a como vizinha no meu quarteirão), curvou o corpo, me cumprimentou em reverência, presenteou com sete mangás, arrumados como um leque aberto, e perguntou se eu sabia os significados do número 7 e também do leque. Assumo: agradeci a gentileza e f u g i, ou melhor, “saionarei”! E se fosse um pedido de casamento?!...

Pesquisei (e confirmei!!!) depois.

No Japão, leques presentes no teatro, nas danças e na vida social. Definem o status social – uma pessoa diante da outra; fechado, seria ELA, status superior, aberto, o contrário... Simbolismo do leque tradicional japonês – presente em todas as etapas da vida, a partir do nascimento; também na hora de apaixonados selarem compromisso, trocando leques e não alianças. Significados em estamparias e cores – numa fração de segundo, ainda na mão da moça, EU percebera rapidamente rosas, que significam amor, combinadas a pinheiros, união de opostos que se atraem, segundo os princípios de yin e yang.

Grande angústia existencial - novas palestrais mensais... ou não?

FONTE:

Suplemento GIRA MUNDO – n.30/2005, SME, RJ. /// CHARGE “Gente fina”, de Bruno Drummond – Revista O GLOBO, Rio, 19/10/14. /// HQs - “Bichinhos de jardim”, de Clara Gomes – “O13 Desempregado, de Arnaldo Branco e Cláudio Mor -- “Barraquinhas eleitorais” -- “Turma da Mônica”, de Maurício de Sousa – Jornal O GLOBO, Rio, 29/3, 4 e 5/10/14, e recorte sem data.

F I M