PÃO DE...OU COM AÇÚCAR?
Não sou o padeiro português da esquina, mas também acordo muito cedo e saio de casa antes das seis horas. Uma sexta-feira qualquer. Escutei um resmungo, alguma coisa como “pão... (e depois) açúcar”. Bom, chuveirada mais rápida que de costume, saí, cumprimentei os madrugadores, peguei mercadoria, paguei, voltei... coloquei o saquinho plástico sobre o meu travesseiro agora desocupado. ELA sorrindo no sono. Em minutos, no carro, um telefonema – que aprendi a ironia de MACHADO DE ASSIS e ELA só não jogou os três mini (mini? queria maiores?) pãezinhos no lixo (EU duvido!) porque a cobertura era de creme com cerejas licorosas e muito... açúcar. No sonho, iria me atirar do alto do bondinho. Desligou subitamente. Entendi de imediato o enigma e o indireto recado de “Quero viajar...” – ELA estaria possivelmente sonhando com o Pão de Açúcar, o segundo símbolo da sua cidade. (O terceiro será o mar de Copacabana, da natureza, ou o Maracanã, de 1950?) Ainda bem que o tal bondinho é fechado e ELA não poderia atirar lá do alto um pobre e inocente ‘anjinho’ sem asas para voar. Na verdade, explicou depois, EU estava conversando em alemão com uma turista desacompanhada, tadinha, e em mandarim com uma “de cara muito branca e olho rasgado”.
Em casa, por sorte dela cheguei cedo: ou jantar fora ou divórcio na terça-feira (alega sempre que segunda é o dia internacional da preguiça: advogado e juiz não atendem ninguém), e ainda recebi um monte de recortes para embaralhar e montar um texto único a ser publicado num jornal de bairro.
PÃO DE AÇÚCAR
Cartão postal do RIO DE JANEIRO, grande atração e certamente de interesse turístico.
Origem do nome. Na época do cultivo da cana-de-açúcar no Brasil, ‘pão de açúcar’ era o nome de uma forma de barro cônica, na qual os blocos de açúcar produzidos aqui eram transportados para a Europa e os portugueses batizaram a montanha pela semelhança de formato – os índios chamavam a pedra de “Pau-nh-açuquã”, o que em tupi significa morro alto, isolado e pontudo.
Berço. Foi entre os morros Cara de Cão e Pão de Açúcar que ESTÁCIO DE SÁ fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1 de março de 1565. Além da cidade, a montanha presenciou o nascimento de dois bebês: em 1931, no morro da Urca, fjlho do administrador do restaurante local, que morava ali com a esposa, e em 1933 a filha de um funcionário da Aeronáutica que trabalhava no serviço de meteorologia e recebeu as inesperadas visitas da mulher... e da cegonha.
Em 1908, encantado com a paisagem, o engenheiro AUGUSTO FERREIRA RAMOS propôs à prefeitura (autoridades francamente céticas!) a ligação entre a praia Vermelha ao morro da Urca e em seguida ao Pão de Açúcar, caminho aéreo em passeio completo, ‘teleférico’ em linguagem moderna – sonho com cara de ‘projeto impossível’, obras começadas em 1910, centenas de operários brasileiros transportando peças-motores-cabos, mas acabou acontecendo – suspensos por dois cabos de aço paralelos, bondinhos de madeira, inaugurados em 27 de outubro de 1912, são famosos no Brasil e no mundo. (Num folheto, data de janeiro de 1913.) Nesse primeiro dia, já 577 pessoas transportadas nas cabines, que acolhiam 15 passageiros por viagem. Até 1972, tendo transportado 7,8 milhões de turistas, somente um bondinho em cada trecho, 25 pessoas por viagem, 6 minutos de duração – com a mudança, capacidade para 75 pessoas, dois bondinhos por trecho, velocidade variando conforme o maior ou menor fluxo de turistas, ou seja, épocas de grande movimento, 2 minutos de duração, facilitando o escoamento dos passageiros. A primeira viagem é às 8 horas da manhã e a última às 22... O programa tem início na avenida Pasteur, na praia Vermelha, onde está situada a estação de embarque – sala de espera, sistema de televisão em circuito fechado e recepcionistas falando inglês e francês. Bondinhos com lateral de vidro possibilitam um percurso panorâmico e visão total da região, além da paisagem distante.
Com extensa área, o morro da Urca, 220 metros de altura, possui diversas faces, oferecendo diversificados ângulos de visão dos mais diferentes pontos da cidade – de uma das faces, pode-se contemplar o Corcovado e os bairros de Botafogo, Jardim Botânico e Gávea; de outra, todo o perfil do bairro da Glória com o centro da cidade, o aeroporto Santos Dumont, a silhueta da ponte Rio-Niterói, parte dessa cidade e de suas praias; de uma terceira face, o morro do Pão de Açúcar e ao longe outras regiões fluminenses – à direita, a entrada da Barra da Guanabara e mais além o Oceano Atlântico, visão que se ‘perde’ no horizonte (curiosidade – nesse costão voltado para o oceano, existe uma caverna acessível por terra ou mar e nela viveu até os anos 60 um ermitão que vivia da caça e da pesca, completamente alheio à cidade; passou a dividir o espaço com um casal que vendia frutas aos frequentadores da praia Vermelha – desalojadas em 1968, caverna agora habitada por morcegos) .........
Já o morro do Pão de Açúcar, 396 metros de altura, dispõe de uma extensão bem menor, inclusive atrações extras limitadas – boa visão das praias de Copacabana e Ipanema.
Nos fins de semana, no morro da Urca, programações variadas para crianças e adultos, como teatro de marionetes e arena ao ar livre, bandinha de bichos (7 artistas fantasiados), jardim com relógio de flores, um grupo de carrinhos puxados por trator que circula pelo alto do morro, passando pelas florestas e áreas de maior visão panorâmica; também shows de música e bailes.
Em toda a história do bondinho, nunca acidente com vítimas fatais – em 1951, rompimento de um cabo, passageiros retirados durante a noite. Na década de 90, um cabo não resistiu, passageiros retirados de helicóptero; aí dois meses sem funcionar e constataram nem falha de fabricação ou de manutenção, a partir daí segurança intensificada com normas rígidas e diariamente os funcionários testam os cabos antes das visitas entrarem.
NOTAS DO AUTOR:
1-A primeira escalada historicamente comprovada no Pão de Açúcar foi realizada em 1817 por uma inglesa que fincou no topo a bandeira de seu país. Na atualidade, muitos são os alpinistas.
2-Antes, existiam na Espanha o teleférico do monte Ulia, de 1907, e outro na Suíça. De 1908. - Na época da romântica solicitação à prefeitura, pouco havia na região – sem piada carioca – apenas um manicômio, junto à base do morro do Pão de Açúcar, no quase ainda deserto bairro da Urca. Sempre um invejoso na seara alheia... Mesmo com projeto aceito, o assessor do prefeito sugeriu, numa “questão de prática”, uma terceira linha......... para o tal manicômio. Nada de preconizada loucura!
F I M