Lado a Lado para Sempre

LADO A LADO PARA SEMPRE

A família de Mauren era rica, imponente, petulante e exibiam olhares de soberba! Sua avó, Dona Irena era uma forte comerciante, ativista social, presidente da comunidade católica e influente em todos os segmentos comunitários.

Dona Irena há muitos anos era viúva, criara as duas filhas e um filho sob uma educação rígida e sofisticada. Colocara os filhos nos melhores colégios internos e eram protegidos e acompanhados por ela em eventos sociais que reuniam apenas as pessoas mais abastadas da sociedade.

Muito cedo, os filhos de Dona Irena demonstravam petulância, desdém aos menos favorecidos, além de uma exagerada autovalorização. Não se misturavam à população comum, as filhas aprenderam a arte da música, uma delas era exímia pianista e a outra tocava com graça e sabedoria um belo acordeon , também dançavam balé clássico. As duas formaram-se professoras, algo incomum para a época de mil novecentos e cinquenta e cinco, onde a educação era privilégio dos homens.

A filha mais velha casara-se com um empresário local. Homem muito rico e sofisticado.

A segunda filha, Alzira casara-se com um joalheiro prestigiado. Porém a vida mostrou-se cruel para Alzira. Depois de parir seis filhos, coisas normais para a época, anticoncepcionais não eram utilizados, Alzira perdeu seu marido para um mal súbito.

Viúva e professora teve muitas dificuldades para criar os seis filhos. Sua mãe também viúva, Dona Irena, já não era mais a forte comerciante de antigamente. Os negócios iam mal. A concorrência era cada vez maior. Ela sentia-se velha e fraca.Ajudava Alzira com a educação dos filhos com dificuldades.

Mas se tinha uma coisa que não esmorecia era a soberba da família.

Viviam como se ainda fossem a rica família de antes, não admitiam a falência iminente e comportavam-se como membros de família real.

Dos seis filhos de Dona Alzira, a menina mais nova chamava-se Mauren. E para ela a avó, a mãe e as tias sonhavam um casamento promissor, com um homem rico e importante, afinal ela era uma princesa, linda e delicada, tivera a melhor educação, sabia tudo de etiquetas sociais, era prendada, merecia casar-se bem e conquistar o melhor partido da cidade.

As tias, principalmente, apostavam no futuro da menina, bordavam um belo enxoval, compravam pratarias, lençóis de linho importado, jogos de chás chineses, tudo fino e sofisticado.

Mauren tinha poucos amigos. Saia quase nunca. Sua principal diversão era participar uma vez por semana de encontros de jovens promovidos pela igreja católica, apenas isso era permitido a ela, um cineminha vez ou outra acompanhada pelos irmãos.

Mas o coração não tem imposição, ele apenas sente, desconhece os planos da humanidade e demonstra genuinamente o sentimento que carrega.

Mauren apaixonou-se por Silvio, um rapaz bonito, moreno e simpático. Silvio correspondia à paixão de Mauren.

Eles encontravam-se todos os sábados no encontro de jovens no salão paroquial da igreja. A família deles desconheciam o namoro. Os dois dançavam apaixonados e depois Silvio acompanhava Mauren apenas até a esquina da casa dela para que ninguém soubesse do namoro, temiam a resistência da família.

Passou-se um ano e eles cada vez amavam-se mais. Silvio insistia em pedir a mão de Mauren à Dona Alzira, porém Mauren não concordava, sabia que ele não seria aprovado, pois a família dele era humilde, e estava longe de ser o marido sonhado pelas tias, avó e pela mãe. Além de tudo, ele não tinha nem emprego ainda, terminaria o ensino médio no ano seguinte e Mauren iniciaria a carreira de professora no final do ano.

Seus mundos eram diferentes, a mãe de Silvio era costureira e o pai carpinteiro. Fora educado com simplicidade, a família era pequena apenas os pai, ele e um irmão mais velho que trabalhava em uma cooperativa agrícola em uma cidade distante alguns quilômetros dali.

Apesar da humildade de Silvio, ele era um rapaz corajoso e determinado, queria Mauren e lutaria por ela. Inesperadamente apareceu numa sexta-feira à noite na casa de Mauren. Pediu licença e entrou, para surpresa de todos os presentes: Mauren, Dona Alzira, Dona Irena e uma das tias controladoras e exibidas.

- O que você deseja? – Perguntou curiosa Dona Alzira.

Mauren tentou falar e foi interrompida por Silvio.

- Eu e Mauren namoramos há um ano e desejo permissão para visitá-la em sua casa.

- Como? Namoram há um ano?- perguntou Dona Alzira.

- Explique-me isso Mauren! É verdade o que esse rapaz está dizendo?

- Sim mamãe, nós nos amamos!

- Não! - Disse Dona Irena. –Isso é impossível! Mauren não namoraria escondida, não foi esta a educação que lhe demos!

Mauren chorava baixinho. Sabia desde sempre que seria difícil obter a aprovação da família.

- Rapaz, queira retirar-se! – falou a tia.

- Retiro-me, mas aguardo uma resposta, amo Mauren e ela também me ama.

Silvio saiu pela porta sem despedir-se. E Mauren olhava assustada para as mulheres sentadas lado a lado no sofá da sala a fitá-la com olhos arregalados.

Quem começou a falar foi a avó:

- Demos-lhe a melhor educação que pudemos. Os melhores colégios, os melhores cursos. Investimos em você!

A tia continuou:

- Namorar um pé rapado, um pobretão? O que você tem na cabeça?

A mãe argumentou:

- Tantos rapazes de boa família e me aparece esse aí?

- Mas... nós nos amamos!- choramingava Mauren.

- Amor? Que adianta amor se não terá o que colocar na mesa? – A mãe gritava irritada.

Mauren saiu chorando e atirou-se na cama. Chorou muito, molhou o travesseiro, estava desorientada, confusa, desesperada, tinha certeza de seu amor, mas não tinha forças para lutar contra todas as mulheres ambiciosas da família.

Amanheceu ela foi à escola pálida e triste. A amiga mais próxima ouviu-a com atenção e encorajou-a a lutar pelo seu amor e a amiga passou a ser garota de recados para os dois enamorados.

A família de Mauren redobrou a atenção e a vigília sobre a moça. Não a deixavam sozinha em lugar algum estavam determinados a acabar com o namoro.

Mauren tinha muito medo de enfrentar sua mãe e principalmente a avó que fora responsável pelo sustento dela e dos irmãos, de certo modo agora ela cobrava altos juros pela dedicação e investimentos de uma vida inteira de doação.

Silvio a pressionava. Insistia. Queria encontrar-se com ela.

Com muitas dificuldades, discrição e ajuda da amiga fiel do casal, eles encontraram-se algumas vezes e em todas às vezes Silvio pedia que ela resistisse, que se impusesse, que lutasse contra a família e ficasse com ele. Porém Lauren não conseguia! Munia-se de coragem, ensaiava uma conversa com a mãe, mas bastava um olhar severo das tias, avó ou da mãe que ela enfraquecia, era como se fosse dominada, como se as mulheres da família sugassem toda a sua energia vital.

E Silvio esperava,insistia,declarava-se. Mauren não assumia o namoro e pedia um tempo a mais.

Passado mais um ano desde que começaram o relacionamento inconcluso e incerto, Silvio conheceu outra moça. Uma moça muito linda, simpática, educada e muito carinhosa.

A moça chamava-se Carolina. Ela estava encantada com Silvio, há tempo o observava-o e o interesse por ele foi instantâneo.Ela estava disposta a investir na conquista.Começou a frequentar os mesmos lugares que ele, aproximava-se, começava uma boa conversa.

Silvio passou a admirar Carolina, os encontros tornaram-se frequentes e Silvio estava a fim de conhecer melhor a moça tão legal e querida.

Começaram a namorar, Mauren não desconfiava de nada. Estavam afastados a pedido de Mauren que queria um tempo para criar coragem de enfrentar sua família.

O namoro entre Silvio e Carolina evoluiu, Carolina convidou-o para conhecer seus pais e frequentar a casa deles. Quatro meses após, Mauren pediu a amiga que marcasse um encontro com Silvio, queria reatar, estava disposta a tudo,até mesmo em sair de casa e ir morar com ele.

Marcaram o encontro na casa desta amiga. Silvio chegou sério, preocupado e cabisbaixo. Mauren começou a falar:

- Meu amor, perdoe-me! Fui tola, infantil e insegura. Não tive coragem de enfrentar minha família, mas agora estou disposta a lutar por você. Amo-te tanto! Preciso de você! Quero ficar com você para sempre! Não importa minha família, vou contigo para qualquer lugar!

Silvio permanecia calado, olhos baixos fitando o chão.

- O que está acontecendo?- Indagou nervosa Mauren.

- Você não me ama mais?

- Mauren...Mauren... – Murmurou Silvio.

- Você demorou tanto...

-...

-E... eu conheci uma pessoa...

- Você tem outra pessoa Silvio? Como? Você sempre soube de meu amor por você! Como pode?

- Mauren, eu me apaixonei, vamos nos casar!

Ouvindo tudo, Mauren correu para a porta chorando desesperada, não queria acreditar. Perdera Silvio para sempre, o grande amor de sua vida!

A vida de Mauren tornou-se um inferno, culpava-se pelas próprias atitudes de insegurança, pelo tempo perdido e por tudo.

Silvio e Carolina casaram-se. Silvio trabalhava em uma oficina mecânica e eram feliz.

Mauren conheceu o irmão de Silvio na festa de aniversário de uma amiga, observou-o e fingiu interesse, queria aproximar-se dele. O rapaz muito cavalheiro ofereceu-se para levá-la para casa no que ela aceitou. Passaram a encontrar-se.Mauren não era apaixonada por ele mas ele estava doido por ela.

Mauren comparava-o ao irmão e tirava conclusões secretas. Continuava apaixonada por Silvio, porém Silvio estava casado e feliz, esquecera-se dela.

Então o irmão dele, Mário pediu-a em casamento e ela aceitou.

Casaram-se e moram ao lado da casa de Silvio e de Carolina. Mauren nunca conseguiu amar seu marido, respeitava-o apenas. Sente-se abençoada por passar a vida literalmente ao lado de seu grande e único amor: Silvio. Com quem divide os domingos, feriados e festas religiosas em família e nutre um amor secreto e eterno por ele.

loreninha
Enviado por loreninha em 14/07/2016
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