O MENINO E O CARENTE
Conto de:
Flávio Cavalcante
Flávio Cavalcante
Estava ele sem opção naquele momento. Ao chegar na mata onde seu pai costumava caçar pra sobreviver o menino o acompanhava todas as façanhas do seu tutor que saía com todas as suas parafernálias para montar as armadilhas no meio da mata virgem. Fazia tempo que o velho não conseguia pegar nem um tatu pra chegar em casa como um troféu. Parece que a crise atingiu os animais daquele lugar. Pensou o caçador já bem desanimado com aquela situação.
Seu filho era chamado pelo pai de moleque e ainda muito criança adquiriu experiência marcando os rastros dos animais que passavam fazendo trilhas. A experiência do dia a dia o moleque sabia onde estavam escondidos e apesar de ser criança conhecia exatamente onde o seu pai poderia armar aquela arapuca para conseguir com vitória o que foram fazer ali. Ficava quietinho; pois, apesar de ainda muito jovem, o moleque não aprovava a atitude do seu pai, mesmo sabendo que aquela ação fazia parte das ordens naturais. Eles precisavam sobreviver e não tinha outra opção já que o velho não sabia fazer absolutamente nada além de caçar. Era analfabeto e nem pensar em procurar emprego lá fora que não ia conseguir nada, até pela sua idade já avançada.
Certo dia os dois saíram para fazer suas tarefas diárias. O menino moleque e o seu pai bronco. No meio da mata enquanto o velho pai armava as arapucas, o moleque andava marcando as trilhas dos bichinhos que já sabia como pegá-los; mas permanecia de boca fechada. Em meio a esta busca, o moleque ouviu um barulho que nunca tinha visto antes naquele lugar. Ele já estava um certo ponto de distância do velho pai e aquele barulho chamou a atenção do menino moleque que saiu em busca de onde vinha aquele barulho estranho. Apesar da curiosidade de criança, o moleque foi bem cauteloso no lugar; pois, sabia que ali tinha animais peçonhentos e era perigoso. O moleque ficou em duas situações; uma, foi o medo se aproximar do barulho estranho e o outro foi o seu pai aparecer de repente de dar-lhe uma bronca pensando que ele não estava executando a tarefa.
O velho pai mais distanciava do moleque e o menino ganhava tempo e segurança para descobrir o estava escondido dentro daquela moita fechada. O gemido parecia um choro sofrido de uma criança que logo se fundia com outros sons e deixava o moleque realmente confuso e com medo de encarar o problema de frente. Era como se ele tivesse que abrir uma porta para o desconhecido. Mesmo assim a curiosidade falava mais alto e o menino moleque foi aos pouquinhos se aproximando do lugar, mas sua expressão era de fazer dó já pronto para dar aquele carreirão caso fosse alguma coisa que viesse lhe fazer algum mal.
Finalmente conseguiu descobri o mistério. Ao pegar pedaço de vara de uma árvore morta, foi se aproximando e levantando o mato com cautela e veio a surpresa, misturada com o alívio de não ser um bicho peçonhento como imaginava desde o início. Eram dois cachorrinhos abandonados naquele matagal cheio de perigo. O moleque com o coração cheio de amor já transmitiu de imediato o carinho que ele possuía pelos animais. E o amor foi a primeira vista; mas, lembrou do pai que fatalmente não ia aceitar a ajudar as criaturinhas que naquele momento gritava implorando ajuda.
Sem opção, o moleque foi de encontro ao velho e expôs os animaizinhos esperando a resposta do anoso que olhava e insistia em ficar nada satisfeito com aquela situação. A seriedade entregava a sua reprovação e o moleque entendeu perfeitamente o recado do pai. Percebia-se claramente a dor no peito que o moleque ficou em ter que deixar aqueles animaizinhos indefesos ali exposto a todo perigo da mata e quando menos se espera é aonde sai o coelho. O experiente velho se aproximou do menino e o interrogou.
- Se quiser levar um está autorizado. Mas o outro tem que ficar aqui. Não podemos levar os dois...
O moleque apenas balançou a cabeça afirmando tudo que o pai falava.
No canto do matagal um dos filhotes estava bastante doente e o garoto pegou o filhote sadio, pôs num lugar seguro e abraçou o enfermo. O pai sem entender a atitude da criança o interrogou novamente.
- Meu moleque. O cachorro sadio é aquele. (O moleque retrucou cabisbaixo)
Sim, eu sei... mas... Quem precisa de ajuda é esse aqui. O outro não tá doente e tem chance de se defender do perigo. Vou levar esse aqui doentinho e vou cuidar dele já que eu não posso levar os dois... (Com os olhos cheios de lágrimas ao ver a atitude de bom samaritano numa criança tão pequena, o anoso pai abraçou a criança em prantos agradeceu a Deus o presente de ter um filho tão maravilhoso de espírito. O velho mesmo pegou nos braços o outro animalzinho sadio, mas indefeso e também levou-o para casa. O moleque abriu aquele sorriso como se o dia para ele tivesse valido à pena.
- Fim -