Trecho do livro Notas de um Velho Safado de Bukowski
Trecho do livro Notas de um Velho Safado de Bukowski
Revolução soa muito romântico, vocês sabem. mas não é. é sangue, culhão e loucura; é menininhos mortos que ficam no caminho, menininhos que não entendem porra nenhuma do
que está acontecendo. é a sua puta, a sua mulher rasgada na barriga por uma baioneta e depois estuprada no cu enquanto você olha. é homens torturando homens que costumavam rir com as historinhas do Mickey Mouse. antes de você entrar na coisa, decida onde está o espírito e onde ele estará quando a coisa tiver terminado. eu não fecho com o Dos – CRIME E CASTIGO – que nenhum homem tem o direito de tirar a vida de um outro homem. mas talvez mereça um
pouco de reflexão antes. é claro, a porra é que eles têm tirado as nossas vidas sem disparar um tiro. eu também trabalhei por salários aviltantes enquanto alguns garotos gordos estupravam virgens de catorze anos em Beverly Hills. vi homens levarem bala por demorarem mais do que cinco minutos no cagador, mas antes de você matar qualquer coisa certifique-se se tem alguma
coisa melhor para pôr no lugar; alguma coisa melhor do que oportunismo político e críticas rancorosas nos parques públicos. se você vai pagar um custo tão elevado arranje algo melhor
do que uma garantia de 36 meses. até agora eu não tenho visto nada além dessa vontade emocional e romântica pela Revolução; não vi nenhum líder sólido nem nenhuma plataforma realista para se assegurar CONTRA a traição que tem, até o presente momento, se seguido. se vou matar um homem não quero vê-lo substituído por uma cópia carbono do mesmo homem e da mesma maneira. nós temos desperdiçado a História como um punhado de bêbados jogando
dados no fundo do banheiro masculino de um bar local. tenho vergonha de ser um membro da raça humana mas não quero acrescentar nem mais um pingo que seja a essa vergonha.
uma coisa é falar da Revolução enquanto sua barriga está cheia de cerveja de um outro homem e você está viajando com uma garota de dezesseis anos de Grand Rapids que fugiu de casa; uma coisa é falar sobre a Revolução enquanto três escritores imbecis de fama
internacional lhe convidam pra dançar o jogo do OOOOOOOOOOMMM; outra coisa é a sua realização, outra coisa é fazer a coisa acontecer. Paris 1870-71, 20.000 pessoas assassinadas
nas ruas, as ruas tão vermelhas de sangue quanto de chuva, e os ratos saindo e comendo os corpos, e as pessoas famintas, destroçadas, não mais sabendo o que está se passando, saindo e
arrancando os ratos dos corpos e comendo os ratos e onde está Paris esta noite? e o que é Paris esta noite? e o meu amigo aí vai colocar mais merda em cima disso e ri. bem, mas ele tem
vinte anos e quase só lê poesia. e a poesia é apenas um pano molhado na bacia de lavar louça.
e a maconha. eles sempre equacionam maconha com Revolução. a maconha não é assim tão boa. pelo amor de Deus, se eles legalizarem a maconha a metade das pessoas parariam de fumá-la. a proibição cria mais bêbados que berrugas de avó. é só aquilo que você não pode
fazer que você tem vontade de fazer. quem é que quer foder a sua própria esposa todas as noites? ou, quanto a isso, mesmo uma vez por semana?