A Esperta Sogra
Dirceu era um homem de estatura mediana, mais pra baixinho do que o contrário.
Pesava uns noventa quilos. Possuía hábitos simples: assistir televisão, ver alguns filmes, e tocar violão.
Dirceu era daqueles homens que disfarçavam muito bem sua personalidade em público.
Sempre divertindo os amigos, rindo, fazendo piadas de tudo...
As pessoas se surpreendiam com ele, adoravam a sua companhia, admiravam seu talento de bom músico.
Muitas foram às vezes que a esposa, Amarilda, ouvira dizerem: “deve ser muito bom conviver com uma pessoa assim”! Sempre alto astral!
Mas Dirceu, não era exatamente o que demonstrava!
Quando se recolhia ao silêncio de sua moradia, transformava-se.
Demonstrava uma irritação descabida, tudo e todos o incomodavam. Não tinha paciência com as crianças – duas meninas - ofendia sua esposa, que calava para não aumentar as discussões, suportava tudo com parcimônia.
Amarilda sempre arranjava uma desculpa para as atitudes do marido: É o trabalho! É o dinheiro! São saudades do pai falecido há pouco! E assim ia levando a vida na esperança de que um dia ele mudasse.
Nas conversas com as amigas, sentia e ouvia a admiração delas pelo seu marido _ tão alegre, comunicativo, talentoso __
Amarilda pensava com seus botões: “Se soubessem como ele é dentro de casa!”
Na intimidade, era disponível o tempo todo, sentia atração pela esposa, bastava ela passar perto dele, que ele se ouriçava todo! A esposa ficava confusa, às vezes achava que ele não a amava, pois estava sempre a reprovando. Não entendia!
Um dia a esposa comentou com uma vizinha e esta a aconselhou a procurar uma cartomante!
Ela nunca demonstrou simpatia por esse tipo de coisas, porém não sabendo mais como agir em relação a ele, o marido, foi até a cartomante.
Colocadas as cartas, a cartomante olhou sério para a esposa e disse: - O caso é grave! Gravíssimo! Trabalho feito!
- Trabalho? O quê é isso? Pergunta a esposa nervosa e quase chorando, entre apavorada e satisfeita por saber o motivo das atitudes de Dirceu.
- Sim, trabalho feito! Um sapo enterrado no cemitério com o nome dele dentro da boca costurada.
- Nossa! Quem faria isso! – Questiona a esposa apavorada!
- Uma amante! Diz a cartomante.
- O que faço? – Pergunta a esposa apertando as mãos nervosas.
- Faça o seguinte: Hoje à noite, pegue uma cueca dele, suja. Compre duas velas de sete dias, um incenso de arruda e um vidro de perfume. Amanhã traga para mim, coloque R$ 100,00 dentro da cueca, é para pagar os espíritos para desmanchar o feitiço feito contra você!
- Contra mim? – Indignou-se a esposa, eu não fiz nada!
- É para você deixar dele, a “outra” quer ele só para ela.
- Ah! Suspirou a esposa.
No outro dia a esposa envergonhada, constrangida, caminhou tentando evitar os olhares dos passantes, fazendo um caminho bem distante para disfarçar aonde ia. Não queria comentário a respeito da sua vida e das visitas à cartomante.
Chegando lá, entrou rapidamente, entregou a encomenda e sentou-se. A cartomante examinou as coisas, deteve-se um tempo mais demorado olhando a cueca suja de seu marido.
A esposa percebeu certo brilho em seu olhar, porém estava tão sugestionada que nem se importou!
A cartomante perguntou a ela: - Como vocês estão de finanças, parece que vi... algo... nas cartas...
A esposa ficou perplexa, pois o marido havia comentado que precisavam economizar, as coisas não estavam fáceis pra ninguém. Imediatamente confiou na cartomante.
A cartomante examinou bem as expressões da cliente e segura de si, pediu mais dinheiro para reforçar o trabalho. A esposa, sem titubear pagou o preço.
Passaram - se os meses e Dirceu não mudou em nada a maneira de tratar a família. Pelo contrário, estava cada vez mais agressivo, insuportável, arrogante e surtado.
Então a esposa retornou à casa da cartomante e reclamou da situação, mas a cartomante argumentou que estava acompanhando o caso através das cartas e que a situação estava complicada! Os espíritos desejavam que a própria esposa fosse ao cemitério desenterrar o sapo. – Essa não!!!! A esposa recusava-se, tinha medo até de dia, sentia pavor de cemitério, imagina à noite! Não iria!!
- Então vou eu - disse solícita a cartomante! – Vou colocar uma peruca preta e disfarçar-me de você, vou enganar os espíritos! Mas isso vai custar caro, veja você, vou correr riscos... Eles podem me levar!
- Eu pago! – Disse a esposa.
E na casa de Dirceu tudo continuava de mal a pior. A esposa estava ficando desconfiada de que tudo não passasse de charlatanismo da cartomante. Confiou em sua amiga mais próxima e contou-lhe tudo. A amiga mostrando-se surpresa e espantada aconselhou-a a parar com isso, não tinha amante nada! Era o jeito do marido, deveria estar doente ou com problemas no trabalho.
A esposa estava desnorteada, não sabia o que fazer! Deixou de ir à cartomante. Passaram-se algumas semanas e a mulher das cartas começou a telefonar para ela ameaçando-a, caso ela não continuasse com o “desmanche” dos trabalhos, a maldição recairiam sobre suas duas filhas.
Amarilda estava à beira de um colapso nervoso! Maldita hora em que recorreu a esse tipo de coisa- pensava- estava confusa, não comia, não dormia, não deixava as filhas saírem sozinhas, vivia sob pressão, o medo acompanhava-a todo o tempo, sugava suas energias.
As ameaças continuavam e a esposa continuava pagando, pois sentia medo da tal mulher.
Um dia, desmaiou de fraqueza. Sua sogra, que gostava muito dela, deixou-a bem à vontade para contar o quê estava acontecendo. A esposa abraçou-se à sogra, chorou muito e contou toda a história, sem omitir nada!
A sogra, muito experiente, já havia visto de tudo na vida. Disse à nora que sossegasse, ela iria resolver a situação.
Contratou uma moça bem bonita, jeitosa e faceira e esta procurou a cartomante a pedido de D. Maria, a sogra.
A moça que se chamava Márcia disse à cartomante que estava interessada em um homem casado.
A cartomante perguntou o nome dele, da esposa, como viviam e todas as informações possíveis.
A charlatã disse que seria muito fácil. O marido que Márcia disse que queria era o marido em questão, o filho de D. Maria.
A sogra então tinha agora certeza de que se tratava de uma charlatã. E Planejou dar um susto na mulher.
Quando a cartomante sugeriu à Márcia que fosse ao cemitério enterrar o sapo com o nome da esposa, como era costume da cartomante, Márcia concordou, mas insistiu para a cartomante ir junto. Sozinha não iria, e não pagaria para ela ir em seu lugar.
A cartomante concordou, não teve escolha. Na noite escolhida, entraram as duas no cemitério. Dentro de uma caixa de sapato estava o sapo morto com a boca costurada, tudo preparado antecipadamente pela cartomante. Levavam uma enxada para fazer o buraco.
Quando estavam agachadas cavando o buraco. Surge atrás delas uma pessoa vestida da cabeça aos pés de preto, com uma foice na mão. E dizia: - Quero a alma da cartomanteee! Vim buscar a cartomanteee! Agora chegou a sua horaaa!! Hoje vou levar a sua alllmaaa! E assim por diante...
A cartomante disparou a correr, a “morte” a persegui-la sempre repetindo a mesma coisa. A mulher que tanto enganara os outros estava agora sendo enganada e, desesperada pedia perdão e confessava todas as suas traquinagens.
No outro dia, todos perceberam que a placa que indicava a casa da cartomante e que continha as seguintes informações: ” Cartomante, vê o passado, presente e futuro, traz o marido de volta em sete dias”, havia sido recolhida e em seu lugar colocada outra: “Aqui mora uma devota de Cristo, rezadeira pela absolvição dos pecados, não aceita pagamentos.
E o marido? Este foi levado pela mãe ao psiquiatra, era caso de internação por tempo indeterminado. Amarilda descobriu os bailes da segunda idade e diverte-se com as amigas enquanto espera pela cura de Dirceu.
Sônia Lorena Aver