Na Esquina Brasil
- Madona quanto tu vai pra Vigia? Perguntava alguém num sussurro quieto.
Fazendo o café, me acovardei atrás da janela, pra modo de saber o que aquelas duas tramavam e fiquei fitando os momentos.
-olha mulher, vou terça feira.
-E quanto tu quer pela barriga.
- Acho que uns dez mil.
- É muito. Tu já teve um. E tu vendeu por menos, que eu sei.
- Pode ter sido, mas agora tudo tá caro.
- Tá bom,vou falar com o Miguel. Mas posso te trazer algumas petecas.
_ Pode sim, mas não metade da “la plata”.
- Tá já vou, então.
- Perai, antes me arruma 30 cruzeiro, pra passagem do ônibus.
-Não, vou chamar o cara da Van.
-Ei moço.
E um veiculo, preto, mal conservado parou. Um Rapaz desceu pelo meio da Van e falou:
- O que é, que vocês querem?
A moça então negociou:
- quanto é a passagem pra Vigia?
-É vinte e seis.
Aquela moça tirou da ilharga da saia cinquenta e entregou aos rapaz, que deu de troco vinte e três reais.
E entrou na Van, já falando :
- Vamos sair daqui a cinco minutos.
Madonadisse:
- Porque não me dá esse troco e desconta do que ainda vais me pagar.
- Pera ai, tópensansando. Quanto é mesmo vinte e seis, menos cinquenta?
- Ah deixa de bobagem e me da logo esse dinheiro, que eu não sei , só se tivesse uma calculadora. Completou Madona pra moça.
- Maluca acho que aquele cara nos enganou. Pois cinquenta menos vinte e seis, acho que é vinte e.. Não consigo pensar direito. É deixa pra lá. Vou te dar esse resto e descontar dos dez mil.
- Vai agora. E quando vier com o teu filho no colo te passo a grana. Mas olha ai, não fala pra ninguém. Se não nós vai em cana.
Respondeu Madona:
- Tu tá tirando saro de mim. Não é o primeiro que vendo. Eu sei, que essa coisas não se fala por ai.
Finalizou a moça:
- Tá, tá bom. Vai logo, que tem muita gente ansiosa.
Quando percebi o teor do negócio e olhei a janela. Vi apenas aquela menina entrando na Van com a barriga imensa. E em meio aquele absurdo, consternado, peguei o meu telefone e liguei pra policia, sem me dar conta do numero da placa do veiculo, que aos pouco sumia no fim da rua. E quando informei,o atendente não acreditou direito, mais ainda, quando eu não sabia dizer o numero da placa e nem o nome de uma das mulheres.
Ao carro que veio ao meu encontro, sei lá quantas horas depois, já nem lembrava a cor da Van, que foi só o que me perguntaram, além das características das mulheres, que eram duas meninas, onde uma vi de costa e a o outra não pude ver direito.
No final das contas tudo pareceu, que nunca aconteceu. Mas nos tempos de hoje, é bom prestar atenção, pois se crianças estão assaltando e matando nos ônibus, se na cúpula do país, tem gente com bilhões na conta, dizendo que a conta não é sua e muitos outros recebendo propina das empreiteiras jurando que é mentira, o que se pode duvidar?...
Veja por si. Dentre tantas situações, vá ao atendimento médico de um hospital público ou coloque o seu filho pra estudar numa escola de governo.