Justificativa
Eram semideuses, e cada qual tinha uma pena dourada extraída da cauda dum enorme Íbis-Sagrado, chamado Fulgohri, com elas arquitetavam suas criações sobre os místicos papiros virgens das ciperáceas.
Consoante à tradição ritualística hermética, a plêiade estava reunida no átrio interno, em torno da Grande Távola feita de ródio, cravejada com pedras de painitas. Inspirado pelo Ser superior, um dos semideuses, obedecendo à ordem cronológica do “ciclo vigente”, propôs um desafio aos demais. Eles que possuíam o dom da criação, eram donos dos destinos, e regiam o tempo com a ponta de suas penas sacrossantas. Teriam a incumbência de fecundar seus papiros, para que há seu tempo parissem obras-primas.
Um semideus neófito creu, erroneamente, que a tarefa seria fácil. E foi confiante em busca dum “elo”. Mergulhou nas profundezas tenebrosas dos mares, espremeu-se entre os abismos insondáveis, e nada. Cavou os rochedos maciços com as unhas, foi além da metalosfera, mas também não teve êxito. Por fim trasladou-se ao céu, acima da exosfera, e fracassou novamente.
O tempo urgiu e o tal neófito que se mostrou incompetente para cumprir o desafio proposto, bolou um estratagema: Chegado o dia, ao ser convocado, ele foi ao altar. Os outros semideuses, em silêncio, esperavam ouvir sua cósmica epopeia. Descaradamente, ele pregou-lhes uma peça, propalou uma fantasiosa e misteriosa estória, cheia de palavras difíceis e rebuscada para tentar impressioná-los.
Atentamente fitavam-no de pé ante o púlpito, aguardando o desfecho da fábula, sem notarem que havia algo errado, sem notarem que o tal semideus neófito, na verdade é este que vos fala agora, e que ele não conseguiu desenvolver o conto, propriamente dito, mas valeu-se do tema pra se justificar. Pois: “Tem Gato na Tuba”.
Obs.
Para que entendam o conto devo salientar que eu participo dum sarau chamado Catando Contos, e o temo proposto foi "tem gato na tuba", como eu não consegui desenvolvê-lo, fiz essa brincadeira com os demais contistas.