Todos morrem

Acordei sem lembrar de nada. Isso acontecia com tanta frequência que nem me preocupava mais. Os médicos me encaminharam ao psiquiatra, mas nunca achei necessário. Eu era normal. Porém, ao olhar ao lado da cama, não pude achar minha esposa. Sempre fui carinhoso com ela, e gostava de acordar e lhe acariciar antes de sair da cama. Caminhei até o banheiro, em busca dela, e o que vi, quase me matou.

Sentei ali com ela nos braços. O sangue escorria com a água do chuveiro, e seus pulsos abertos me deixavam em pânico. Esperava que a ajuda chegasse logo, porém o corpo parecia já estar sem vida. Meu coração disparado, não conseguia pensar em nada, a não ser que era minha culpa. Eu a deixei assim. Ela estava bem antes de mim.

O som da sirene surgiu distante, enquanto os olhos pequenos e escuros dela conseguiram se abrir. Seus lábios, de um tom escuro pelo frio e pelos cortes sussurraram, porém não pude entender o que ela disse. Tudo começou a girar quando percebi que ela parava de respirar, apertei o corpo doce em meus braços e ali também apaguei.

Acordei quando já estava em um quarto de hospital. Ela havia ligado o gás, caso os cortes não funcionassem, de um jeito ou outro ela iria morrer. Minha primeira reação ao acordar foi perguntar por ela. A enfermeira, olhou para a prancheta em suas mãos, parecia estar com pena de mim, porém em um súbito, sorriu e disse

_Ela está bem, já acordou aliás! Está no quarto ao lado!

Tentei levantar, precisava vê lá, porém a enfermeira me segurou, disse que eu precisava passar por alguns exames antes de poder sair do quarto. Após algumas avaliações simple, me permitiu sair.

Quando cheguei ao quarto onde ela estava, os pulsos enfaixados e um tubo para ajudar na respiração, ela sorriu para mim, porém em seguida começou a chorar.Perguntou quem eu era, e logo após isso não lembro de nada.

Sentei me na cama. Olhei para minhas mãos e elas estavam arranhadas, foi quando ouvi gritos.

Corri para o quarto em que ela deveria estar, e todos olhavam a janela. Não pude acreditar, corri para ver porém o médico não permitiu. Disse que ela estava viva, mas que a cena era perturbadora. Corri de volta ao meu quarto e pude ver. Estávamos no terceiro andar, ela caiu de lado e o braço estava totalmente fora do lugar devido. Ela gritava de dor, quando me viu, começou a gritar assassino.

Seria eu tão desgraçado assim?

Transferiram o quarto dela para longe do meu. E aos poucos fui perdendo a vontade de me aproximar. Por medo dela tentar algo outra vez. Estava sentado em minha cama, esperando a alta médica, quando a porta fechou atrás de mim. Era ela, Helena. Sorri para ela, porém séria ela veio até mim, e quando pude notar ja estava com o peito aberto. Ela havia cravado uma caneta de ferro em mim.

_Helena, meu amor!

_Amor? Qual deles me ama? Quanto tempo mais terei de conviver com você em um momento dizendo que me ama, e no outro tentando me matar? Você abriu meus pulsos, cortou o cano do gás e me jogou pela janela. Você tantas outras vezes tentou me matar, me espancou e me fez sofrer. Você me jogou da escada e me fez perder nosso filho. Não mais, que todos vocês morram!

Em meu último suspiro, ouvindo tudo isso, entendi o que ela disse no banheiro com os pulsos abertos.

Qual deles você é agora?