A flor ordinária

Deixando a feira de domingo, onde as cores, sabores e cheiros exalavam seu esplendido, onde o incessante barulho não incomodava, onde a paz se encontrava. Ele caminhou até o parque, não muito longe da feira, para respirar um novo ar, revisitado por muitos no sufocante quebra-cabeça das cidades grandes.

Passou pela portão de ferro, já enferrujado, um dos laterais ao parque, que dava caminho a um pequeno recanto com bancos de madeira e mais a frente, ao lago verde-azulado.

Caminhou pela trilha de cascalho e pedra e observou os diferentes tons de verde das diversas plantas e as flores, tão singulares e atraentes, próximas ao lago. Era dias dos Namorados e casais ali se encontravam.

A vida ali estava. Ele via avós brincando com netos, adolescentes se conhecendo, casais se apaixonando e pensou porquê aquele momento não podia ser eterno.

Caminhando chegou na beira no lago, encarou-se no espelho d’água e sentou na grama, com seu cachorro e suas compras. Percebeu então que seu animal sabia mais sobre felicidade do que ele sempre saberá, de que a felicidade está ali, no momento, nas coisas simples.

Acariciou seu cachorro e levantou, limpou rapidamente sua calça com as mãos e pegou uma das flores tão vivas e reluzentes. Sem saber porque colheu a flor, se direcionou à saída.

Caminhando por onde entrou, revivendo pensamentos que lhe acolheram, pensou sobre a flor, de como era bonita, da qualidade de seu perfume, da vida que era e continha dentro de si.

Se arrependeu então de tê-la arrancado, pois agora estava condenada a morrer, estragava a beleza do momento, da simplicidade.

Sentiu-se mal ainda mais por não ter a quem presentear com tal beleza ainda viva e exaltante, e parou por um instante, insatisfeito com si e com a injustiça que é o ato de dar flores de presente.

Caminhou até sua casa com o leve gosto amargo da sutileza que corrompera no parque. O vento castigava-lhe, gelado e seco, não perdoou ninguém. Trazia previsões da mudança em caminho, do outono impiedoso que fará as folhas caírem, os corações quentes se agasalharem, que à beleza, tristeza trará.