Pela Última Vez
Eric do Vale
Monique quase enfartou, quando deparou-se com Sérgio dentro do apartamento.
-Eu fugi. _ Disse Sérgio.
-Percebe-se. Como foi que você entrou aqui?
- Não se preocupe, ninguém me viu.
-O que você quer?
-Me despedir de você.
Visto que Sérgio já tinha várias passagens pela polícia, Monique sabia que não demoraria muito para ele fugir e vir procurá-la. Por isso, questionou-se, quando esteve diante dele: “Eu sabia! Por que não fui embora daqui, antes? Era o que eu já devia ter feito! ”.
-Eu não vou, e nem pretendo, te fazer mal. _ Disse Sérgio, ao sentar-se.
-Bebe alguma coisa?
-Preciso de algo forte. Prometo que serei breve.
Monique levantou-se e serviu-lhe um conhaque.
Monique pediu para que Sérgio se sentasse e não tirou os olhos da coronha do revólver que ele trazia na cintura. Logo, lembrou-se da última conversa que tiveram, quando Sérgio, ameaçando-a de morte, apontou-lhe uma arma e a cobriu de sovas.
-Eu lamento profundamente, Monique. Você não merecia! _ Disse Sérgio
-Por favor, seja breve!
Monique procurava demonstrar coragem, mas terminou transparecendo o medo que sentia dele e Sérgio falou:
- Eu tive uma infância paupérrima: órfão de pai e mãe, passei fome e sofri muito. Logo, percebi que com um golpe de sorte poderia ter tudo o que quisesse, sem fazer esforço, apenas com um golpe de sorte. Eu não sou esse canalha como todo mundo imagina.
-Mas, para subir na vida você é capaz de pisar no pescoço de todo mundo, inclusive do seu melhor amigo e da mulher que te ama.
Sérgio terminou de beber o resto do conhaque e ficou em silêncio, por um longo tempo.
-Eu estou muito cansada e o nosso tempo esgotou. _ Falou Monique olhando para o relógio. - Desejo a você uma boa viagem.
Ao vê-lo caminhando em direção a porta, Monique aproximou-se dele, abriu a bolsa, tirou umas notas de dinheiro e disse:
-Não precisa agradecer, Sérgio
Antes de sair, Sérgio falou:
-Você é uma grande mulher e eu te perdi, porque fui muito burro.
Aquelas últimas palavras dele foram as únicas que ela acreditou.