Uma Rosa para Berlim. Depois da guerra. 1

Levo uma vida normal. Ajudo na limpeza da casa e na cozinha. Vou a um

mercado em frangalhos que resistiu a guerra e compro o necessário. O dinheiro

consigo vendendo pastéis que Marija faz. Minha amiga Erna conserta roupas.

A guerra finalmente acabou. Silenciaram os canhões. Hoje é 10 de maio. Poucas

pessoas podem comprar. Quem mais compra são os Soviéticos que fazem ronda

nas redondezas. Quando nos vêem se assanham logo. Cortamos o assunto mos

trando remédios de sífilis. Correm como o diabo foge da cruz.

Me olho no espelho me achando feia. Minha amiga Erna e seus sapatos

de salto alto. Ela os usa dentro de casa pois, é pequena e quer ficar da minha

altura. Erna não cresceu nada desde que a conheci. 1 metro e sessenta e poucos.

Entra no quarto e me abraça. Minha amiga Marija entra e nos olha e fala.

- Erna é maior que nós duas... Com esse salto alto!

- Não é para ficar maior que as duas! - Disse Erna me soltando e indo até a janela -

É para ficar mais bela. - E começa a rir e aponta os Soviéticos passando - Estão

elétricos hoje! Correndo de um lado para outro. Esquecem que a guerra acabou.

- Hoje é o segundo dia pós guerra, Erna! - Falo olhando os soldados.

- Ainda não acreditam que venceram - Disse Marija muito séria - a última vez que

vimos isso, conhecemos mais uma amiga.

- É Gerda Mende chegando! - Disse Erna apontando para o leste.

- Como nos encontrou? - Pergunto olhando para o leste de pronto.

- Passei todas os endereços possíveis para que nos encontrassem! - Disse Marija

rindo ao ver Gerda Mende ao longe - inclusive esse.... - Marija estica o pescoço - E

não é só ela - aponta para mais ao longe - Lale, Ina, Gerda Maria, Lili e Ertha - E dá

uma gargalhada gostosa e nos deixa indo para o jardim. Vai até o portão de madei

ra velha e o abre aguardando Gerda Mende que corre para chegar logo. Eu e Erna

Corremos para o jardim e nos juntamos a Marija e, pouco depois, nos confraterni

zamos ali mesmo. Nos abraçamos ali mesmo e entramos.

- E as outras? - Pergunto entrando ao lado de Lili - Como estão?

- Estão bem! - Disse Lili me apertando - os Soviéticos pediram que nos dividísse

mos ou poderíamos ter que nos explicar.

- Pois é.... Viemos pedir guarida a vocês - Disse Lale parando e olhando a casa.

- Éramos em 35 mulheres e 10 homens. - Disse Ertha sentando no sofá e rindo.

- Vai nos expulsar daqui? - Pergunta Gerda Maria indo até a janela.

- Soube que meus parentes abandonaram essa casa... Agora é nossa! - Disse Ma

rija indo até a cozinha - sejam bem vindas! - E aponta o rolo de puxar massa de

macarrão e pastel - fazemos pastéis, agora.

- Sei fazer macarronada italiana! - Disse Ina pegando o rolo - Posso ajudar muito!

-Serão de grande ajuda! - Disse Erna mostrando uma bacia cheia de pastéis para

serem fritos - daqui a pouco começa. - Aponta o fogão apagado - começamos à

tarde e entramos na noite vendendo para os soldados.

Todas olham a casa e não trazem muita roupa. Depois vamos para o jardim e

alguns soldados prestam atenção. O povo que transita de um lado para outro

também. E nós ficamos ali, aproveitando a manhã do dia 10 de maio de 1945.