Embora amor...
Sentei. Os olhos fixos no relógio, as mãos suadas e a sensação de que não, eu não seria capaz de aguentar. O coração, que às vezes falhava por segundos imperceptíveis, outras batia acelerado, roubando o pouco de fôlego que me permitia ainda estar vivo. Sim, o mundo estava girando, escuro, triste, gelado. E eu, por dentro, estava exatamente como ele. A minha frente, a dor estampada no olho do outro. Se eu pudesse, juro que arrancaria dele esse miserável sentimento, mas eu tenho medo. Um medo que paralisa. E, paralisado, não consegui esboçar nada além de um olhar perdido para a direção dele, que chorava. Também chorei, mas não deixei que ele visse, porque, ao contrário das pessoas normais em situações parecidas, eu choro para dentro. Portanto, aos que pensam que sou frio, é porque não veem a confusão que se desenrola em meu coração. Um eterno embate entre o querer fazer algo e o não poder fazer nada. Tentei mover um dedo para, quem sabe, lhe enxugar uma lágrima, mas não pude. Com a mão no ar, tudo que fiz foi recoloca-la sobre as pernas, apertando os joelhos, tentando conter a inquietação. Ele, me vendo tão parado, tão quieto diante da sua miséria, revoltou-se. Tinha toda razão! Não protestei! Apenas me resignei, como sempre e deixei que ele fosse. Mais uma vez, por total inércia e paralisia, não fui capaz de trasbordar todo amor que vivi em mim. E aquela frase de Clarice gritou silenciosamente em minha alma: “Embora amor dentro de mim eu tenha..."