Contando Estrelas

Contando Estrelas

Peça em um ato

Sinopse

Roberto Strauss é um ator recém chegado de Paris, onde fez um curso de teatro: representar. No Brasil, antes do curso, trabalhava em um boate fazendo imitações de personalidades da música popular brasileira e também da televisão. Em Paris fez quase tudo, lavou pratos, serviu mesa, e chegou a cantar Rock'n'Roll em francês; e até namorou pessoas solitárias em busca de alguns trocados. De volta ao Brasil, surge a primeira oportunidade: encenar uma peça dramática ao lado de uma atriz já consagrada. A vontade de decorar o texto é tanta que Roberto se divide entre o cômico e o dramático; o sério e o pitoresco.

O cenário

Um pequeno apartamento ,com uma porta central, uma mesa , um sofá, um violão e uma garrafa de café sobre mesa.

Abre-se as cortinas

Roberta Strauss entra rápido, fingindo está cansado, pára com o texto à mão; diz para a plateia que precisa decorar aquele texto que é a grande chance da sua vida e pergunta para a plateia :

-será que vou conseguir !

Não deixa que a plateia responda, começa a ler o texto,rapidamente, diz:.

“- O dia está amanhecendo, alguns raios de luz já penetram indiscretamente naquele pequeno lugar. O barulho que vem da rua funciona com um despertador, (repete em voz baixa). “- O dia está amanhecendo, alguns raios de luz já penetram indiscretamente naquele pequeno lugar. O barulho que vem da rua funciona com um despertador,

Roberto pára de ler o texto e pergunta a um expectador se é fácil decorar aquele texto; qualquer que seja a resposta , ele emenda, diz :

- como você pode dar essa opinião se você não conhece o texto? (fingindo irritação) você consegue adivinhar alguma coisa? (irônico).Olha que não!( riso leve)

Roberto volta-se para o texto e demonstra desânimo, diz:

- Será que vou conseguir, meu Deus! ( olhando para o alto) Decorar o texto (suspirando fundo)

Repentinamente fica eufórico, volta a ler o texto, diz:

“ e anuncia que já é hora de sair do sonho e entrar na realidade, na dura realidade,

A realidade ? Tenho medo da realidade (assustado).

(irritado) As coisas que acontecem ao meu redor me deixam louco. (gritando) .Que mundo louco!

Acalma-se ,porém continua preocupado. Gesticula (coloca a mão esquerda no rosto, apertando as duas faces) e vai caminhando pelo palco ( apartamento) E volta-se para a plateia (calmo),e lendo o texto, diz:

“de mais um dia ou de menos um dia; como diz o síndico do edifício onde Tadeu e Rosana moram”

Pára de ler o texto ( já demostrando sinais de tristeza) Diz:

.Eu não vou conseguir! É difícil. E a minha memória? Eu sou jovem ( repentinamente deslumbrado)É isso mesmo. Eu vou consegui ( fingindo segurança)

Puxa um diálogo com a plateia, escolhe um expectador de uma idade mais avançada, pergunta se ele tem boa memória, sem dar importância a resposta dele ,continua falando, diz:

“ Lembra a última vez que fez amor? Acho que não faz tanto tempo assim, né? ( sorriso no rosto)

Volta-se para o texto. Vai ficando sério ,e solta a voz grave, diz:

“O síndico, um velho neurótico de guerra, que vez por outra ousa filosofar e até profetizava o fim do mundo.”

O fim do mundo? ( gritando) Tenho medo do fim do mundo! ( contemplativo)

Atualmente se fala em guerra , em rumores de guerra, muita violência, guerra ;terceira guerra mundial, guerra nuclear, será o fim do mundo? ( assustado)

E volta-se para a plateia e olhando para uma mulher , diz:

Eu não quero o fim do mundo. Quero ficar muito tempo aqui, no meio das mulheres (sorriso leve)

Volta a ficar sério, e começa a imitar Chico Buarque, cantando “olho no olhos”

“ olhos no olhos , quero vê o que você faz”...

Interrompe a imitação e diz para a plateia :

você não querem que eu decore o texto. ( jeito dengoso)

E rapidamente , sem dar tempo a plateia dizer algo, volta a ler o texto, diz:

“ Mas ninguém o levava a sério, talvez nem tanto pela idade avançada, mais pelas situações difíceis e perigosas vivenciadas ao longo de sua existência”.

Pára de ler o texto e se Joga no sofá ( sentando-se no sofá , desanimado). Diz:

não vou conseguir. ( respirando fundo e olhando para o teto)

Levanta-se do sofá, com o texto a mão (um pouco eufórico) ,lendo o texto diz:

“Tadeu sai do quatro espreguiçando-se todo e olha a rua que invariavelmente vive seus movimentos. As pessoas caminham com os passos apressados, os rostos sérios e preocupados numa demonstração muito nítida da vida atual.”

E vai aumentando a euforia, lendo o texto, em voz alta, diz:

“Os automóveis soam suas buzinas; o som irritante contrasta com o pássaro do seu Fidélis, o síndico. O pássaro , mesmo preso em uma gaiola , entoa suaves melodias que parece um protesto `a indiferença das pessoas.

É verdade! ( surpreso ) ninguém liga pra ninguém, lembram ?Eu já disse isso. Será isso fim do mundo? ( jeito pensativo)

Volta a ler o texto, diz:

“Nesse momento Rosana aparece na sala; Tadeu se vira para ela com os olhos um pouco ressacados e o ar de quem está lamentando alguma coisa perdida, vai logo dizendo:

Aumentando o desânimo, conclui:

--- é amanheceu, o sol já veio outra vez.

Novamente preocupado com a sua memória, diz:

Eu já decorei tanta coisa na vida: telefone de mulheres , no primeiro encontro; letras de samba de todas as escola em um só carnaval; número de chapa de candidato a vereador;( com um riso leve) , e volta a ler e o texto, diz:

“Rosana finge não entender suas palavras, e pergunta:

Roberto fica sem graça, ele vai imitar a voz de uma mulher; e olha para a plateia, faz sinal com o dedo indicador da mão direita no ar ,( advertindo-a), lendo o texto, diz:

--- a escuridão te faz bem, preferes a sombras?

Encarando a plateia, sério .Esforçando-se para não ri), diz:

não vão confundir!

E com jeito irônico, passeia pelo palco ( apartamento) imita Caubi Peixoto, canta:

“ cantei, cantei..( música , bastidores)

E fica sério novamente, lendo o texto, diz:

Tadeu sabe muito bem da cumplicidade de sua companheira em relação ao que ele pensa , mas mesmo assim, responde:

Imitando Tadeu, o personagem da peça, diz:

“-- não, não é que a escuridão me faça bem , ou eu tenha preferência pela sombra, mas a noite parece esconder a realidade”.

Roberto novamente entra em crise e se senta no sofá ,colocando cuidadosamente o texto no sofá; e fica na posição do pensador de Rodim, depois se levanta, vai até a mesa pega a garrafa de café e um copo ; dar um gole no café e fazendo uma cara de enjoo, diz:

“tá frio! (cuspindo o café) Tá igual a minha realidade , a nossa realidade (Triste)

Senta-se no chão, ensaia um choro, depois se levanta e pega o texto no sofá

demostrando uma pequena euforia , diz:

“ eu vou conseguir! Eu vou conseguir! Eu vou conseguir!

Senta no sofá , pega o violão, toca e canta, imitando Roberto Carlos:

“se você pensa que vai fazer der mim, o que faz com todo mundo que te ama..”

Levanta-se do sofá guarda o violão e retoma o texto. Ao olhar o texto, faz um leve sorriso no rosto, e vai explicando para a plateia que vai novamente imitar o personagem feminino, Rosana, diz: não com fundam, depois ri, e ler o texto, diz:

Com a voz de locutor imitando Cid Moreira ,diz:

“Rosana pergunta”:

Roberto para ,olhando para o texto, faz um gesto de quem estar encabulado; porém vai organizando-se aos poucos, e a fala de Rosana, e com jeito delicado diz:

“-- a realidade te assusta muito, né?”

Roberto fica frágil, anda pelo palco como se estivesse procurando algo que havia perdido há pouco tempo atrás. Pára no centro do palco e olhando para a plateia com um todo, lendo o texto, imitando o personagem Tadeu, diz:

“--- a realidade assusta a todos se pudéssemos ficar aqui contando estrelas e fazendo amor até ficarmos cansados, depois era pedir para o sol nascer, e começaria novamente a batalha, ( um pouco de euforia)

Roberto interrompe a leitura do texto, da imitação do personagem Tadeu, e diz:

É, a vida é uma batalha!

Roberto vai ficando nervoso, e olhando para a plateia, diz:

A vida é uma batalha ou é uma guerra ( jeito de quem estar com dúvida).Ou não é nada disso(irritado). É um mistério ( imitando um pregador religioso)

E volta-se para o texto, lendo-o, diz, eufórico:

- e a gente ia viver um romance louco , embriagados de sensualidade e sonhos, esquecidos do mundo e de seus problemas. Mas isso é impossível! o tempo é forte, insensível!”

Repentinamente fica mais frágil, porém continua a ler o texto, imitando o personagem Rosana, diz:

-- é ,o tempo mexe muito com a felicidade das pessoas—( com jeito melancólico.)

Roberto olhando para a plateia demostrando estar confuso, diz:

Quem sou eu? (perguntando para a plateia).Quem sou eu?

Roberto dar as costas para plateia e continuando com a crise de identidade:

Volta-se para a plateia, diz:

Quem sou eu? Um homem de boa memória ou um homem memorável? ( com as duas mãos nos rosto, um choro breve)

Fica andando pelo palco, ainda confuso vai desafiando a plateia,diz:

Vocês acham que eu estou cansado, né? Cansado ,nada, estou pronto para um maratona! ( riso forçado) e vai lendo o texto, imitando o personagem Tadeu, diz:

- essa manhã não vamos sair; não quero nem olhar pela janela, de lá de fora nada me interessa, só quero sentir o vento, se alguém me chamasse pedindo socorro eu nem sei o que faria –

Roberto ,novamente é dominado pela tristeza e olhando para o texto e, como se fosse tomado por uma fraqueza na alma, cria uma confusão, não sabe se a melancolia é pela dificuldade em decorar o texto ou pelo drama vivido pelos personagens da peça que ele vai representar.Dúvida. Roberto vai novamente imitar a voz do personagem feminino: Rosana, e ele não quer olhar para a plateia, fingindo timidez mas acaba olhando-a e faz um riso leve ,acanhado e diz que vai novamente imitar o personagem feminino, lendo o texto, diz:

--- mas tem tanta gente lá fora pedindo socorro!

Esforça-se para vencer a melancolia, rindo forçosamente, diz:

Eu sou macho! Entenderam bem?

E novamente lendo o texto, diz:

--- é, não podemos fugir disso.

Fica mais confuso, tenta explicar para a plateia que “fugir disso” é a fala do personagem da peça e não fugir da sua condição de macho, e repete, diz:

Eu sou macho! Eu sou macho! Eu sou macho!(riso irônico)

Roberto olha para a plateia; dar as costas para a plateia e com o texto a mão continua, lendo-o, diz:

“--- fico pensando, pensando nas pessoas que vivem sozinhas, deve ser muito triste não ter com quem dividir os medos, os desejos, os sonhos “

Roberto novamente é denominado pela tristeza. Joga o texto em cima da mesa e com jeito de estar em desespero sai do palco ( apartamento). Volta para o palco , pega o texto e retoma a leitura, diz:

--- acho que não ninguém vive completamente só, no mínimo tem as estrelas por companhia –( repete essa fala com entusiasmo)

--- acho que não ninguém vive completamente só, no mínimo tem as estrelas por companhia( demostra estar feliz)

Roberto se empolga com a leitura e joga o texto para o alto e dança, e brinca com a plateia, dizendo que os expectadores não acreditavam que ele decorasse o texto a tempo, como preparação da encenação da peça, e apanha o texto no chão e começa a lê-lo, imitando o personagem Tadeu, diz:

-- as preocupações roubam os bons momentos, a felicidade; não vamos pensar no futuro, não existe nada a nossa frente ,tudo pode ser enfrentado ,desde os problemas mais elementares até a sobrevivência do planeta.(repete com euforia) -- as preocupações roubam os bons momentos, a felicidade; não vamos pensar no futuro, não existe nada a nossa frente ,tudo pode ser enfrentado ,desde os problemas mais elementares até a sobrevivência do planeta

Roberto parece feliz, grita, diz que vai decorar o texto. E também estar feliz pela sobrevivência do planeta; isso o deixa eufórico, o planeta terra vai sobreviver, ele tem certeza disso.- Pensa ele. E vai lendo o texto calmamente, diz:

As horas passando, chegou a tarde; o pássaro do seu Fidélis tinha diminuído o canto, talvez preguiça ou cansaço, tão comum em fim de tarde .

Roberto está entusiasmado e grita, diz:

É FÁCIL, É FÁCIL....

E continua lendo o texto, diz:

Tadeu , também , já apresentava, não um cansaço, mas uma impaciência,

Roberto corre pelo palco com o texto a mão, para e recomeça a leitura do texto, diz:

--- Não perdemos o dia , que venha a noite e traga muito desejo.

Repete, gritando:

--- Não perdemos o dia , que venha a noite e traga muito desejo.

Roberto ,larga o texto e fazendo gesto ,imita o humorista Chico Anísio, o personagem Pantaleão, diz:

Foi fácil, é mentira Terta? Ele , responde: Verdade!

Roberto pega o texto, que estar no chão e folheia-o, e encontra a página ,é a última fala de Rosana. E novamente ele adverte a plateia , dizendo que vai imitar o personagem da peça que ele vai encenar,diz:

Lembrem-se é apenas um personagem,

Lendo o texto, diz:

-- de mudar o mundo?

Roberto encara a plateia, com o texto a mão diz que chegou ao final da leitura e conseguiu decorá-lo. Entusiasmado e abraçado com o texto, diz:

-- as preocupações roubam os bons momentos, a felicidade; não vamos pensar no futuro, não existe nada a nossa frente ,tudo pode ser enfrentado ,desde os problemas mais elementares até a sobrevivência do planeta.

Roberto joga o texto para o alto e o pega de volta, e comemorando como um jogador de futebol , ergue o texto, di

-- de mudar o mundo, sim!

E aumentando a voz, diz:

--- De que vive o vento se não alimenta a imaginação!

Soleno Rodrigues
Enviado por Soleno Rodrigues em 15/07/2007
Reeditado em 13/04/2014
Código do texto: T565958
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