O pé de romã

Ela pegava a fruta, à rachava ao meio e saboreava cada grão sem pressa. A árvore ficava em uma encruzilhada, mais adiante, já era a praia do rio do toco. Ela descia a estradinha segurando uma romã. Ia cantarolando músicas que só ela conhecia, Por isso ia sozinha. Não... Não era só por isso, mas ela gostava de achar que era. Quando chegava a beira do rio, se sentava em uma pedra alta e cumpria a seu ritual. Ela pegava a fruta, à rachava ao meio e saboreava cada grão sem pressa. Ali pensava em tudo, na vida que tinha, na vida que não tinha, nos filhos que queria, nos filhos que não queria, pensava na sua casa, pensava na sua família, pensava nos amores perdidos, pensava nos amores que nunca iria ter, pensava em como a vida é engraçada, triste e injusta. Cada grão era um motivo pra fragmentar aquilo que ela entendia ser a vida. Depois ela enxugava as lágrimas, Reunia os grãos dentro dos pedaços da romã e fazia o caminho inverso até achegar a árvore. Entre as raízes da romanzeira, ela enterrava os restos da fruta e na terra fofa escrevia:

"aqui jaz um dia a menos na vida de Alice."

Luciana Limah
Enviado por Luciana Limah em 02/06/2016
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