A Mulher do Próximo
Estava instalando mais um ponto de internet com fibra ótica. Calor insuportável. Evitava pensar que tinha mais inúmeras casas pra fazer a instalação. Evitava também pensar no salário no fim do mês e muito menos pensar nas contas que tinha pra pagar.
No que eu pensava então? Só no trabalho. Eu me concentrava naquela porcaria e depois alguns minutos tudo funcionava e eu partia pra outra casa. Fazia isto inúmeras vezes, e um ou outro incidente, como a queima de um componente ou falha no equipamento quebrava a rotina e introduzia alguma emoção. Fora isto me concentrava na porcaria e fazia ela funcionar e garantia o meu no final do mês.
Mas naquele dia foi diferente. Um problema técnico que nada fazia resolver me tirou a atenção do que eu deveria e a direcionou para o que eu não deveria. A mesma concentração que fazia as porcarias funcionarem recaiu sobre a cliente e o seu marido.
De um corpo belíssimo sensualmente trabalhado na academia, um rosto lindo de modelo ou atriz de televisão, esqueci serviço, fibra ótica e cliente com hora marcada. Eu esqueci quem eu era.
O marido saia de casa estressado e indiferente a aquela suntuosa beleza. Saiu discutinho e sem olhar ou apreciar toda aquela beleza que estava diante de si e parecia não se importar.
Como uma presa desprevenida, ela me viu olhando diferente. Um olhar que a muito tempo não via no rosto do marido. Ela sentiu ser desejada com toda intensidade, com todo amor e com toda a alma. E eu me encontrava atraído de tal forma, que dizia pra mim mesmo ser capaz de qualquer coisa pra cativar aquela mulher com prazer.
Eu era só um peão, nem em sonho poderia bancar aquela vida de rainha daquela mulher. Da mesma forma, só um cara como eu poderia lhe render todo o desejo que quisesse e ainda assim achar que era pouco o que oferecia.
Meu corpo e meu espírito me dizia que eu estava diante de uma deusa. Ela sentiu de longe tudo isto e atendeu minhas orações. E eu cumpri com minha palavra, cumpri com meu corpo ,com meu desejo, com meus beijos e com minha pegada.
Eu não fingi, eu não conquistei, eu simplesmente fui o que senti. E ela queria saber qual era o segredo do meu deslumbre. E durante um tempo considerável buscou dentro das minhas profundezas, dos meus desejos mais íntimos, nas cores mais sutis da minha alma o segredo. E não encontrou.
Ofereceu todo seu desejo, toda a sua posse, toda a sua alma e seu corpo em troca do segredo que eu só revelava aos poucos.
Até que o marido descobriu. Descobriu e enraiveceu, como se eu tivesse feito de propósito. Detestou que a mulher fosse buscar os segredos de outro, como se ele não tivesse negado os seus a esta mulher por conta do trabalho e de sua ganância por dinheiro.
Me alvejou com cinco disparos. Nu em um motel, fazendo o que fazia de melhor que era dar o meu segredo àquela mulher em troca de seu corpo e de sua alma. Morri como um amante, deixando a marca da minha passagem nas lembranças, nas fantasias e nos orgasmos daquela mulher.
Com a boca cheia de sangue, o corpo perfurado pelas balas assassinas, ainda olhei pra ela, para os olhos dela: dei um sorriso pelo canto da boca e pisquei um dos olhos. Morri como vivi naqueles últimos meses, como um canalha que soube libertar aquela mulher do moralismo que a continha e represava seu prazer.
Perdoei antes de morrer aquele canalha, pois sabia que ele tentou matar meus sentimentos, meus desejos e aquilo que despertou a alma daquela mulher. Mas o prazer é imortal, enquanto houver corpos que se ponham nus e espíritos que tenham coragem de se aventurar no prazer.
Aquele homem teve sua vingança e eu o meu prazer...
Se você esta lendo esta estória, saiba que o que me matou não foi uma arma ou a fúria de um marido traído. O que me matou foi você ter esquecido como tornar sua mulher o ser mais especial deste mundo. Eu como peão, tive mais a oferecer àquela bela dama do que todo o seu dinheiro.