O muso de Varzelândia

Eram olhos azuis fundos e aflitos, desde de criança, pouco importava para Fábio o quanto ele era “bonitinho”, aliás, este bonitinho só havia lhe trazido problemas, aliado ao “gracinha” na infância lhe trouxeram uma série de apertões no rosto e brigas nas festas juninas escolares onde as meninas quase se estapeavam para saber quem dançaria com ele.

Era uma oferta de carinho e vantagens, não havia o que não fosse feito em função da felicidade do dono dos olhos azuis mais lindos do jardim , do pré, do colegial, ah... aqueles olhos, que faziam tantas meninas escreverem as cartas mais absurdas jurando amor eterno aos 12 anos, vejam só !!!

Até a mãe de Fábio o tratava diferente dos outros irmãos que não tinham a mesma beleza, ou melhor, os mesmos olhos.Fábio é lógico fingia que não via a preferência descarada e fazia o possível para ser o mais agradável possível para não apanhar dos irmãos, dos vizinhos, e dos colegas do colégio.Afinal ele era uma “gracinha” e os outros eram...legais!!!Apenas legais, quando Fábio estava presente.Quando ele não estava até que eles eram bonitos, mas isso só quando ele não estava.

Na adolescência Fábio até chegou a pensar, a cogitar a possibilidade de vocês sabem, gostar do outro lado.Acham que ele conseguiu ? Não, para a glória das meninas do bairro e do município de Varzelândia, este pensamento não chegou a durar nem meio segundo, pois por mais tietes,enlouquecidas e insuportáveis que elas fossem, ainda sim para ele, elas ainda eram melhores do que o Zé, o Pedro ou o Marquinhos.

Era tanta tietagem, tanto amor sem limites, sem-fronteiras, tanto chilique e cartas desesperadas que Fábio passou a ser imune a qualquer demonstração de afeto.Aliás, não só imune, como passou a sentir asco.Qualquer demonstração de carinho passou a irritá-lo.Irritá-lo a ponto que por excesso de desprezo passou a ser tachado de arrogante e presunçosos.Ele por sua vez resolveu, para se proteger, a vestir a camisa do relaxo e nem banho direito tomava, passando a fazê-lo só quando o dor se tornava insuportável para ele próprio.

Tudo feito para não ser mais escolhido como o “Muso de Varzelândia” ou o “Príncipe da Festa do Tomate” ou o “Mister Caipirinha de 2001”.Tudo para não receber rolos de “eu te amo” de uma menina a quem falou oi na feira ou ver alguém chorar na sua frente por que se sentiu rejeitada.

Assim Fábio passou a contar os dias para que as suas rugas chegassem, aderiu ao trabalho braçal, só mostrando que tinha algum tipo de cultura ou simpatia a quem em Varzelândia tinha algum grau de parentesco bem próximo a ele para que pelo menos esta, não se atrevesse a tentar bolar algum plano maluco para conquistá-lo.Mas, mesmo assim, ele ainda era alvo de piadas e acusações quanto a sua sexualidade.Já que por mais insanas que estas meninas, mulheres e senhoars fossem, Fábio continuava a respeitá-las.

O Muso devarzelândia só aclamou o seu coração e se sentiu seguro ao lado de alguém, quando passou a não ter nem um dente na boca, quando a sua beleza passou a ser uma lenda bem longe da sua realidade.Aí sim, ele acreditou que poderia ser amado e se ajuntou com uma louca que acordava todos os dias de manhã para ver aqueles olhos azuis todos sujos de remela e beijar aquela boca desdentada.

Kátia Moraes
Enviado por Kátia Moraes em 14/07/2007
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