Que Noite...
Estava um frio de fazer gelados
Os olhos olhavam embora cansados
A lua linda e misteriosa sorria lá do alto
Um claro-escuro consumia todo o quarto
Da janela sem cortina observava-se o mundo
Mundo-imundo, venenoso e moribundo
Tudo à volta rodava como a roda
O som dos mosquitos parecia o de uma boda
O corpo não dormia temendo sentir-se com vermes e larvas
Na boca vazia e seca não haviam palavras
Tudo o que fazia-se no momento era nada
A caneta na folha branca já não mais pintava
O vento batia no rosto cada vez mais forte
As pernas já não tinham norte
Estava tudo entregue aos braços da solidão
O pânico de abraçar a morte é imensidão
O líquido vermelhado e azedo sumia do copo
Multiplicava-se o pesar do corpo
O vazio de um bidão ocupava todo o interior
Não sentia-se ódio, não sentia-se amor
O relógio preso à parede parecia parado
Mas o tempo continuava passando
Foram segundos, minutos e depois horas
A noite fói-se e, finalmente veio a aurora.