Que Noite...

Estava um frio de fazer gelados

Os olhos olhavam embora cansados

A lua linda e misteriosa sorria lá do alto

Um claro-escuro consumia todo o quarto

Da janela sem cortina observava-se o mundo

Mundo-imundo, venenoso e moribundo

Tudo à volta rodava como a roda

O som dos mosquitos parecia o de uma boda

O corpo não dormia temendo sentir-se com vermes e larvas

Na boca vazia e seca não haviam palavras

Tudo o que fazia-se no momento era nada

A caneta na folha branca já não mais pintava

O vento batia no rosto cada vez mais forte

As pernas já não tinham norte

Estava tudo entregue aos braços da solidão

O pânico de abraçar a morte é imensidão

O líquido vermelhado e azedo sumia do copo

Multiplicava-se o pesar do corpo

O vazio de um bidão ocupava todo o interior

Não sentia-se ódio, não sentia-se amor

O relógio preso à parede parecia parado

Mas o tempo continuava passando

Foram segundos, minutos e depois horas

A noite fói-se e, finalmente veio a aurora.

Kamba Kabeto
Enviado por Kamba Kabeto em 26/05/2016
Reeditado em 26/01/2021
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