A INCERTEZA DO AMANHÃ

A INCERTEZA DO AMANHÃ

por E. Alyson Ribeiro

Puxa vida Joaquim! Confesso que é difícil vê-lo assim. Quem me diria?! Desde quando eu o conheci o senhor nunca precisou de médico, o senhor, na verdade, parecia ser imbatível. Pois é, seu Joaquim, o senhor bem que bebia umas pinguinhas, fumava alguns cigarros de palha, mas que mal havia nisso? Homem criado na roça, amado por várias mulheres, porém, com coração domado por um único amor a quem a vida lhe retirou amargamente; homem admirador das sanfonas gaúchas e das modas caipiras, senhor de si. Teve que ser pai e mãe dos filhos e, assim, tornou-se um avô sonhador. Quem me diria, seu Joaquim, que eu teria o desprazer de vê-lo assim? De vê-lo sobre uma cama de hospital, de vê-lo frágil diante da vida.

Confesso que já o vi caindo nas sarjetas, sabemos que a culpa era do álcool ingerido por você. Apesar disso, a conta era paga e o seu Zé, o dono do boteco, nunca reclamou do senhor! Porém, o seu filho... Lembro-me do seu filho mais velho brigando contigo (e de modo justo, o senhor deve concordar comigo). Lembro-me dele lhe dizendo para nunca mais beber, pois se assim continuasse, de certo nunca veria o seu filho mais moço se formar.

Pois é, Joaquim, o senhor deu a volta por cima! Deixou de beber e no ano seguinte abandou o fumo que carregava nos bolsos. Começou a viver mais intensamente. Foi dono de vários corações, os quais a quem pertencia, o senhor, com muito galanteio, também lhes possuía o corpo. E para quem duvidou, lá estava o senhor na colação do curso de Direito do seu filho mais moço.

Quem me diria, Joaquim! Nessa altura do campeonato, ao lado do coração, um nódulo metastático fora encontrado. E...

“Bom dia enfermeira! Como está o senhor Joaquim?”

“Como assim, a senhora vai banhá-lo agora? Preciso sair daqui? Quer minha ajuda? Ele nunca gostou de depender dos outros ainda mais de estranhos, na verdade, às vezes sofria solitariamente para não incomodar os filhos.”

“Tudo bem! São normas. Eu saio!”

(O que é a justiça? O bom? Um ato de solidariedade? Fazer o que é certo? Mas o que é certo? Ah! Questões que não serão possíveis às respostas pela humanidade. Seu Joaquim nunca admitiu ser ajudado, não queria ser estorvo, nem mesmo dos seus filhos desejava ajuda, mas agora, bem, nem mesmo eu posso ajudá-lo. Não posso ajudá-lo porque estaria indo contra as normas deste hospital, estaria contra a justiça, as leis, mas na vida de Joaquim eu fui o único a quem por ele era desejado ajuda. Nas leis de Joaquim eu era a exceção e aqui eu sou a...).

“Nossa! Foi rápido! Posso entrar?”

“Obrigado!”

(Como são as coisas... ).

Pego-me olhando para você, meu bom homem, e me lembro de que tudo isso só começou porque o senhor estivera apenas com uma simples rouquidão. O médico ao ver os seus exames julgara ser câncer, mas ainda não era para nos preocuparmos, pois era apenas um pequeno nódulo... Bom, os dias se passaram e o senhor, talvez, com medo ou vergonha do povo da sua cidadezinha interiorana, resolveu morar com o seu filho mais velho, julgando que ali, naquela nova cidade, ninguém se lembraria do senhor. Grande engano!

O senhor fez novos exames, os quais nos disseram que você teria no máximo mais um ano de vida. Sinto em lhe dizer isso. Não sei se pode me ouvir, mas já não posso mais esconder a verdade do senhor. Esse nódulo que estava no pulmão, na verdade, veio do esôfago, e, sabe essa dor no pescoço que senhor há meses reclamava? Essa aí que o médico, quando o senhor foi ao pronto-socorro há dois meses, disse que era uma dor cervical? Pois bem, é do câncer também! É por esse motivo que o senhor usa esse colar cervical, é por esse motivo que o senhor está usando fraldas, pois assim o senhor evita de se levantar para ir ao banheiro!

Sim, Joaquim, sei que é difícil! Pode até ser humilhante! Mas não se esqueça: Pela vida que levou, pelos sonhos que se viu realizar, pelo o filho que viu se formar, pelos seus netos; por favor, não desista da vida, lute até o fim! Mesmo que o fim já não esteja distante, mesmo que os sonhos pareçam que não se realizarão, mesmo que os dias pareçam longos, não desista da vida! Por favor, abra os olhos... (Como eu os desejo abertos...) Não! É melhor que descanse... Amanhã o senhor terá uma nova cirurgia... Amanhã será o começo... Só não sei do quê. Que Deus me perdoe, mas amanhã, para o senhor, poderá não ter outro amanhã... Adeus seu Joaquim... Obrigado por tudo que o senhor me ensinou, certamente, estou honrado por tê-lo conhecido... Adeus...

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E Alyson Ribeiro
Enviado por E Alyson Ribeiro em 19/05/2016
Reeditado em 11/01/2019
Código do texto: T5640223
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