Uma puta mulher
Uma Puta Mulher
No auge dos meus vinte oito anos de experiência sexual conheci muitas mulheres.
De algumas nem me recordo o nome, outras me fogem à mente a feição. As que eu queria esquecer lembram-me de sua existência mensalmente, usando às vezes até de subterfúgios judiciais, e hoje vejo nos rostos dos meus filhos os traços de uma mulher que um dia eu amei.
Passei pela fase do tarado incontrolável, já fui pudico e moralista e apaixonado e idiota. Já me fingi de santo para comer freiras e já fui santo de fato e depois injustamente crucificado. Já gostei de quem hoje odeio e já odiei quem hoje amo. Mas de todas as mulheres de que me lembro, e das que tive a sorte de ter, Verônica é a única que se eu pudesse imortalizaria em minha mente. Ela sim é um ideal, é o que é, sem divagações, sem vestígios da mãe, da moral cristã, quase uma índia sem pecado. Para ela, sexo era o que é: instinto e ponto. Sem culpa. Sem redenção. Sem blá, blá, blá, eu te amo. Sem compromisso com os outros. Sem compromisso social. A única responsabilidade era minha com ela ou de quem participasse conosco. Ela foi a mulher mais verdadeira e assumida que tive, mas que não fui homem o suficiente para manter.
Verônica gostava muito de sexo. Todos sabiam. Ela não tinha vontade de esconder. Os seios quase à mostra diziam. A boca sempre molhada pedia e a barriga malhada confirmava o que seu olhar malicioso afirmava com uma constância incrivelmente freqüente: ela quer agora e sempre.
Ela tocava os homens ao falar, abraçava, chupava, apalpava, sem nenhuma culpa. Fazia isso com primeira, segundas e terceiras intenções na frente dos outros, atrás dos outros, na frente deles e atrás deles. Tudo parecia cheirar sexo a sua volta, mesmo que o assunto não tivesse nenhuma relação com isso. Essa propaganda repercutia no seu trabalho, na faculdade e até na sua família, onde primos ansiavam por sua chegada no Natal e ela se tornava um presente.
A sexualidade de Verônica se fazia presente até mesmo onde ela não estava. À simples menção de seu nome as mentes dos homens galopavam para a luxúria e a das mulheres para a revolta. Quem ela pensava que era? Era uma puta!!! Pensavam.
O incrível era que Verônica mantinha, de uma maneira quase inacreditável, a atenção dos homens que a observavam. Eles não sabiam ao certo o que os prendia, nem se ela o fazia intencionalmente, sabiam apenas que Verônica, ao contrário das outras mulheres, falava somente o necessário e possuía ouvidos que davam liberdade para qualquer homem, independentemente de sua cultura, modos ou classe social, dizer o que quisesse.
Ela não tinha ciúmes, fazia-os ter, não tinha pretensões de relacionamento, fazia-os querer e querer de maneira incontrolável. Ela não cobrava, só dava e de várias maneiras, sem pedir nada em troca e isso alimentava o querer, os ciúmes e o desejo que ela nunca supria por completo, pois ela não era de ninguém e era de todos com a mesma volúpia, a mesma vontade e a mesma liberdade que lhe permitia partir sempre. Para mim, Verônica não era só uma mulher era uma puta mulher.