O óleo de Francisco - Capítulo I
Francisco era uma criança linda...não só aos olhos, também no comportamento, um bom filho e um garoto tranqüilo, aluno aplicado aos 6 anos já era considerado prodígio na escola onde estudava, tirava boas notas e sempre era muito elogiado pelos professores , praticava com destaque futebol e vôlei e ainda lhe restava tempo para ter aulas de pintura , pintava belos quadros para a sua idade.
Seus pais eram pessoas muito lutadoras...vindo da pobreza extrema seu pai conseguiu ser engenheiro com muito sacrifício, gostava de dizer: ‘Cada dia uma conquista” e prosperou na vida com o próprio esforço, chegou onde chegou com o mérito de nunca ter prejudicado ninguém...sua mãe também fora muito pobre na infância, a caçula de uma família de sete irmãos passou fome e vendia doces no trânsito, teve sorte quando uma professora resolveu adotá-la como filha postiça, ela não precisaria morar na mesma casa que a senhora, mas deveria estudar na casa da professora todos os dias e em troca receberia ajuda em forma de alimentos...o nome da Mãe de Francisco é Micaela...e estudando ela cresceu na vida, virou uma grande professora de literatura...conheceu Augusto, pai de Francisco, por acaso no metrô, todos os dias pegavam o mesmo trem, Augusto se oferecia para segurar os livros dela e assim fora ficando amigos até que o amor nasceu entre eles...apaixonados casaram-se 3 meses depois e Francisco nasceu exatamente 1 ano após se conheceram.
A casa estava cheia no aniversário de 7 anos de Francisco, todos seus amiguinhos estavam lá, seus avós já bem velhinhos também, a festa tinha palhaços e muitos balões coloridos, seus pais estavam resplandecentes naquele dia, tinham muito orgulho da vida que construíram para eles e para seu filho...a festa foi um grande sucesso, mas quando seus pais recolhiam a bagunça já tarde da noite notaram Francisco muito quieto sentado num canto da sala, não era uma atitude típica sua, ele sempre tinha um sorriso no rosto.
- O que você tem meu filho? Não gostou da festa que mamãe e papai fizeram pra você?” – perguntou sua mãe Micaela com um pesar no coração.
- Não mamãe...gostei sim, gostei muitão e bastantão...mas estou com um problema e estou com medo de contar a vocês...descobri faz uns dias quando estava pintando um quadro com os barquinhos azuis...”
Augusto escutou a frase do fundo do quintal onde estava e sentiu as pernas bambearem...seu coração deu um enorme sobressalto...os nossos pais sentem o que nós sentimos, ás vezes até mais....seu pai era um homem muito forte, capaz de matar um leão por dia em nome do bem-estar da família, mas o pequeno Francisco era a razão de sua vida e seu Calcanhar-de-Aquiles....correu imediatamente para a sala a tempo de ouvir Francisco declarar a frase que mudaria suas vidas para sempre :
“Mãe, eu não estou mais enxergando quase nada!”
A partir desse ponto a trajetória dessa família sofre um triste e dramático revés, o pequeno Francisco é diagnosticado com neuropatia óptica hereditária de Leber, a NOHL, Doença transmitida pelos genes maternos que ataca sobretudo os homens, entre a primeira e a segunda década de vida. A perda de visão é rápida - de duas a oito semanas, no máximo...e com o passar dos dias o brilho dos olhos de Francisco foi se apagando e ele foi mergulhando na mais completa escuridão...seria o fim da vida para muitos, mas não quando se têm anjos como pais.