Lana
Lana acordou em uma cama desforrada, cercada de livros, cadernos e anotações.
Esfregou os olhos e conferiu o relógio. Passavam das duas da madrugada. Dormira estudando para a semana de prova que se seguiria. Apesar de amar o curso que fazia, se sentia exausta pela rotina de aulas, provas e pela correria. Estava cansada do próprio ambiente da academia, com pessoas com mais ego do que coração. Pelo menos estava no fim. Se conseguisse passar pelas próximas provas, pelo menos... Havia esperança.
Não bastasse todo o peso dos seus estudos, ainda havia aquela angústia e solidão, que lhe sugavam os sorrisos e o prazer em fazer coisas simples do dia a dia. Ela não sabia ao certo qual era origem daqueles sentimentos. Desconfiava que podia ser pelas cobranças excessivas que fazia a si mesma. Pelas péssimas escolhas de sua vida amorosa recente e sua incapacidade de se livrar do passado, que insistia em lhe bater à porta de vez em quando.
Dois gatos se espreguiçaram ao seu lado e seus miados a trouxeram novamente para a realidade.
Lana recolheu displicentemente os seus livros e cadernos, juntou-os todos em cima de uma escrivaninha e forrou a cama. Sua cabeça doía um pouco e o suor em seu corpo a incomodava. Calor e suor sempre lhe traziam desconforto, por isso um banho era necessário.
Pegou umas roupas no armário e saiu em direção ao banheiro.
Se despiu e lançou as roupas sujas num cesto. Entrou no Box do banheiro e ligou o chuveiro. A água gelada lhe trouxe os sentidos de volta, trazendo mais um pouco de vida para o seu corpo. Sua pele respondeu com uma série de arrepios... a sensação mais prazerosa que ela tinha sentido nas ultimas semanas.
Os arrepios despertaram algo nela. Tesão, talvez. Coisa julgava morta em si.
Correu os dedos pelo próprio corpo e apreciou a excitação. Seu prazer veio rápido e de forma tempestuosa. Saiu do Box ofegante e com as pernas bambas. Enxugou-se, vestiu-se, escovou os dentes e foi em direção ao quarto. Abriu uma gaveta e retirou de dentro um único cigarro e um isqueiro.
Andou descalça pela casa e foi até o quintal. O céu estava aberto e uma brisa fria correu pelo seu corpo ainda parcialmente molhado.
Lana acendeu o cigarro e ficou olhando para as estrelas que brilhavam timidamente, ofuscadas pelas luzes da cidade.
Cada trago do cigarro reacendia nela o desejo de viver algo diferente daquela rotina e buscar novamente o prazer que tinha perdido em algum lugar. Um prazer simples como o que tivera no banheiro.
Sabia que não dependia de ninguém além dela mesma. De fazer escolhas melhores e de aceitar as consequências de suas escolhas erradas do passado.
Deixar tudo o que pesava para trás.
Fumou o cigarro até o fim e apagou a bituca no chão.
Tudo o que ela precisava era de um gole de café e uma boa madrugada de sono.
Teria que acordar as seis da manhã e só lhe restavam umas três horas.
Entrou novamente em casa, tomou uma xícara de café requentado e deitou-se na cama.
Um gato se aninhou do seu lado e ela o deixou ficar ali. Foram adormecendo aos poucos e no fim, a única coisa que se percebia era o som de suas respirações. Seu emaranhado de pensamentos inquietos se desfez, e finalmente Lana se sentiu em paz. No quase silêncio de um sono sem sonhos teve certeza que o dia que se seguiria seria um dia melhor.