Segunda Liberdade
Relutou com certa preguiça, mas acabou levantando. Amava e odiava as segundas, a primeira porque significava bater ponto e a segunda porque poderia revelar um novo começo, uma nova chance, uma nova paixão.
Vestiu seu robe de seda, havia comprado há um tempo, gostava de sentir o tecido macio e um pouco frio em sua pele, sentia alguma delicadeza naquilo, no entanto, não sabia muito bem explicar o que era.
Colocou John Coltrane para tocar, começou com song of praise, existia algo nas músicas dele que a deixava mais calma, quase que em um êxtase. Seguiu para a cozinha e foi logo preparar o café.
Sabia que não havia chance alguma de ter bom humor se não tomasse o seu café preto amargo, seria como seu dia nem tivesse começado. Preparou duas torradas, pegou sua geleia, serviu-se de uma xícara e começou a ler um poema.
Era algo obrigatório, um poema por dia antes de sair de casa, era uma forma de lhe trazer um sorriso ou alguma sensação que só poderia vir em versos. Naquele exato dia já fazia um mês que ele a havia deixado e três dias que ele nem havia passado em seus pensamentos.
Quando se deu conta disso, mordeu o lábio inferior, era uma mania que tinha para demonstrar o quanto estava feliz com algo. Levantou-se, aumentou o som e começou a dançar sozinha com os braços suspensos no ar e a liberdade que se aconchegava sem nem pedir licença.