A História de Maria Grande
Na ocasião em que o Dr. João de Abreu Dahne, chefe da comissão de colonização de Terras de Santa Rosa efetuava os loteamentos da nova zona de colonização, colônia 14 de Julho, Seu Alfred Schywants chegava então juntamente com a esposa, duas filhas e dois filhos para tomar posse de glebas ocupadas há mais de trinta anos pelos seus avós, agora já bem idosos.
A família Sentia-se bem, pois os colonos que chegavam às novas terras eram na maioria de descendência étnica alemã, caracterizavam-se por uma forte tradição religiosa e fé católica. Os mesmos valores e tradições culturais, e as experiências de trabalho contribuíram para que a organização social fosse construída de maneira harmoniosa e colaborativa, entretanto as moradias distanciavam-se umas das outras porque os novos colonos buscavam construir casas perto das fontes d’água e nas áreas pouco acidentadas.
Nestas regiões já haviam alguns posseiros e exploradores esparsos, esta época o núcleo colonial de Santa Rosa fora constituído sexto distrito de Santo Ângelo, e era constante a chegada de alemães e italianos vindos das Colônias Velhas, porém a vida destes colonizadores era árdua já que o governo não mais garantia os primeiros proventos e porque a disponibilidade de lotes era rara para os colonos descendentes de alemães, italianos e poloneses. Percebia-se claramente a intenção nacionalista da Nova Colônia .
A família Schywants firmou-se com a extração e comercialização de madeira e fundaram a primeira serraria da época.
O trabalho foi facilitado com o transporte ferroviário até Santo Ângelo.
Frau Schywants, esposa de Alfred, logo se fez ativa na formação de grupos de orações e na formação da comunidade na qual as famílias reuniam-se a fim de confraternizar, realizar casamentos, batizados, festas e o tradicional jogo de bocha. A nova colônia empenhava-se na construção de uma igreja e posteriormente uma pequena escolinha.
A filha mais velha de Alfred e Edna casou-se logo com um avizinhado descendente da mesma etnia. Geneci a filha mais nova era uma moça alta e bem encorpada, dona de seios fartos e pés generosos, ela era bastante desenvolvida para a pouca idade.
Os filhos homens: Joseph e Manfred, embora já casados permaneciam trabalhando com o pai e expandindo as oportunidades de comércio e produção, plantavam erva mate e valiam-se da estratificação também.
As tormentas e as tempestades eram constantes e drásticas neste período e as famílias temiam os raios que matavam animais e pessoas frequentemente.
Numa noite em que o céu anunciava mais uma tenebrosa tempestade, Frau Schywants encontrava-se em uma vizinha distante auxiliando em um trabalho de parto, o céu fez-se breu, trovejões feriam ouvidos assustados, o vento varria e carregava o que podia. Os animais corriam de um lado a outro em busca de abrigo.
Alfred pediu a filha mais nova, Geneci, para ir ao encontro de sua mãe e trazê-la para casa antes que a tempestade impedisse qualquer tentativa de chegar à estrada.
Temerosa, Geneci pôs-se rapidamente a caminho da casa da vizinha, em razão da distância entre as propriedades era preciso passar por um mato denso no qual havia uma picada usada pelos moradores.
Genesi ora corria, ora caminhava apressadamente e o medo não a deixou visualizar o homem que se aproximava pelas suas costas. Num ímpeto o desconhecido atacou-a com força segurando-a por trás arrastando-a para o mato cerrado, fechando-lhe a boca para que não gritasse. Ela lutou com toda a sua força e medo, mas ali entre galhos, chuva e vento forte ele a estuprou abandonando-a desacordada e ferida ao chão.
Os dias se passaram e a moça não retornava a casa de seus pais. A população de colonos a procuravam dia e noite sem sucesso.
Alfred e Edna eram desconsolos e tristezas diuturnamente. As rezas, novenas e promessas multiplicavam-se e a moça não dava a graça de sua presença.
O desespero tomou conta da família, os meses e os anos se passaram, Frau Edna faleceu de tristeza e desgosto, sentia-se culpada pelo desaparecimento da filha.
Suspeitavam que algum dos posseiros que habitava em meio às matas virgens a tivesse raptado ou assassinado, já que eram foragidos criminosos dos presídios de Santa Maria, ou da Argentina.
Anos depois do ocorrido, contava-se de boca em boca que os colonos seguidamente avistavam pelas matas da colônia uma mulher ao qual chamavam de Maria Grande, contavam que ela era muito perigosa e forte e quando se encontrava com alguma pessoa partia correndo mata adentro e, apontando para uma árvore chorava e gritava dizendo estar enterrado ali um tal de João Tucunduva.
Cogitava-se até hoje a hipótese desta mulher ser Genesi, porém a família nunca conseguiu capturá-la para desvendar o mistério de seu desaparecimento. Também não é sabida a identidade deste homem: João Tucunduva. Algumas bocas relatam que seria o homem que socorreu a moça desaparecida e que teria sido assassinado por posseiros e que ela já demente, o teria enterrado ao pé da referida árvore.