"Pornoerotismo intelectual?"

Como Lou Salomé, Caetana dominava a cena: entre livros e

chicotinhos, amenizava as dores proferidas pelos seus gestos de

tortura e prazer. Teodoro, já rendido pela esbórnia oferecida por

Caetana, pestanejou em anunciado cansaço. Entretanto, a moça,

insaciável, ainda não havia terminado o seu ritual.

Naquele “festim licencioso” Caetana gemia baixinho,

provocando a ira teodoriana, realizava em seu pupilo a explosão do

ímpeto lascivo e quente, onde a rijeza descomunal de homem que

ainda recobrando as forças gastas minutos antes, provocava Caetana

compulsivamente, deixando-a em êxtase.

Temeroso em não conseguir repor suas energias, Teodoro

que era um homem casado, desfrutou pela última vez, naquele dia, do

banquete oferecido por Caetana: Beijou-a enquanto desnudava-a

ainda mais, retirando daquela alma devassa toda e qualquer forma de

pudor. Fecundou todos os orifícios de seu corpo, banhando-a com

seu “líquido vivificador”.

Mas Caetana, eloqüente musa de cabaré, desejava não só o

sexo explosivo de Teodoro, o queria todas as noites, desfrutando do

seu humor, da sua impaciência e do seu contentamento. Decidiu-se,

após aquela noite esquecer seu tão amado amante Teodoro.

Foi então que Caetana dispôs-se a abandonar a vida de

meretriz que tinha e iniciou sua caminhada em busca da tão sonhada

felicidade. De Lou Salomé desejava tornar-se Amélia, e assim se

fez.

Numa noite, após terminar sua última apresentação (ainda

não havia conseguido outro emprego honesto) Caetana já em seu

camarim, recebe um bilhetinho todo amassado, abre-o curiosa e

lê: “Sinto sua voz ressoar baixinho em meus ouvidos”.

Sentiu-se arrepiar toda a pele, e por instantes foi acometida

de uma extrema febre interna. Aquilo não acontecida desde o último

encontro com Teodoro, havia então esquecido da ferocidade feminina

que existia dentro de si, mas aquele simples bilhete a havia

despertado sexualmente.

Fez do simples ato de se despir um rito erótico e

extremamente sensual, até ficar completamente nua. Esqueceu-se do

horário, das suas obrigações e deitou-se no divã que estava disposto

de frente para o espelho.

Olhava-se desejosa, e ao mesmo tempo encabulava-se do seu

despudor. Estaria Caetana enloquecendo?

Deliberou-se em satisfazer-se a si mesma, não dependendo da

canalhice do outro, que apenas degustava do seu prazer, usando-a de

forma desmedida e desleal. Mas ainda o bilhete lhe fazia perder a

concentração. E seus toques tornavam-se agressivos, como se fosse

a puni-la. Aprofundava-se mais e mais, encharcando-se da sua própria

desfaçatez.

Adormeceu Caetana em cena de total cólera, deixando seu

corpo à mostra, refletindo ainda o escorrido do líquido prazeroso.

Ao acordar, depois de algumas horas, Caetana sentiu-se

observada. Era Júlio, o vigilante da boate que examinava todos os

camarins antes de fechar a casa. “Desculpe-me Senhora Caetana vi

que a luz estava acesa, então entrei. Perdoe-me, mais uma vez!”

Disse o rapaz encabulado, pois já se demonstrava excitado ao ver

Caetana pronta e tão indefesa. “Vá-la, rapaz atrevido, desapareça!”,

disse enfurecida a nossa protagonista.

Arrumou-se apressadamente, sem ao menos lembrar-se do

bilhete que a havia excitado tanto, deixou-o para trás. Enquanto se

retirava da boate, o rapaz a seguia, ainda implorando desculpas pela

invasão.

“Oh Deus, mas já é tão tarde!” Disse Caetana, já aflita.

“Quer que a leve, senhora Caetana?” Sugeriu Júlio, o vigilante.

“Ah rapaz, deixe de formalidade, de senhora eu não tenho

absolutamente nada!” Enfureceu-se Caetana ao ouvir tamanha

gentileza.

“Perdoe-me, mas é assim que eu a vejo: uma senhora!”

Confortou-a Júlio.

“Como? Acha mesma que uma senhora faria o que eu faço?

Acha mesmo que uma senhora se vestiria da forma como eu me

visto?” Bravejou Caetana.

“Perdoe-me o atrevimento, mas eu a faria minha senhora,

conquanto que sussurrasse ao meu ouvido todas as noites, como

fazes aqui”. Disse Júlio.

Após ouvir aquilo, Caetana olhou fixamente para Júlio e não

conseguiu dizer-lhe uma só palavra, voltou-se para a rua e saiu

apressadamente.

Ao deitar-se, naquela mesma noite, Caetana pôs-se a lembrar

da conversa com Júlio, o vigilante da casa onde trabalhava. E não

conseguiu dormir, ficava pensando em suas palavras: “conquanto que

sussurrasse ao meu ouvido todas as noites”. E assim lembrou-se do

bilhete que havia deixado no seu camarim. Naquele mesmo instante

teve o ímpeto impulso de voltar à boate.

Vestiu-se rapidamente e saiu pela rua, somente pensava no

bilhete e em Júlio, fazia ligações entre uma coisa e outra, ao mesmo

tempo sentia-se irada e excitada. Mas queria desvendar tudo que se

tornara um mistério em sua mente.

Ao chegar à boate, percebeu a porta entreaberta, desconfiou

da situação, pois Júlio nunca abandonara o local daquela forma.

Entrou receosa, caminhando vagarosamente até o seu camarim. A

porta estava encostava e uma luz ainda havia ficado acesa lá dentro:

quem será?

Empurrou a porta delicadamente e ao passar seus olhos pelo

ambiente pôde visualizar Júlio deitado em seu divã, totalmente despido

e extremamente viril. Não dormia, pelo contrário, mantinha-se sóbrio e

convicto do retorno de Caetana, apenas a observava na porta, a medi-

lo infielmente.

"Se ficastes aí não conseguirá encontrar o que viestes buscar!"

Disse Júlio, insinuando-se cada vez mais.

Ainda boquiaberta Caetana intimidou-se diante de Júlio. Seu -

corpo fervilhava de calores, seus pensamentos era os mais pérvidos -

e seus olhos buscavam mais e mais à Júlio. Enquanto ele, em posição

de nada exigir, chamou-a com um gesto único:

"Sentastes ao meu lado, senhora Caetana?" Seduziu Júlio.

Imediatamente se desfez, e Caetana transformou-se numa vas-

sala impetuosa, servindo-se de Júlio .

O que em cenário se vê, não deve-se aqui narrar. Embora ainda

repleto de amor e desejos, amaram-se Júlio e Caetana, transformando-

se em uno.

Tirano do amor de Caetana, Júlio perdura ainda sussurrando ge-

midos à Caetana, e esta tornou-se senhora de um único homem.

Não o classifiquei como texto erótico, pois não o vejo como tal,

mas caso algum leitor comente, pensarei numa possível mudança.