Sob o reino da sedução.
No meio da mata a cachoeira soberana. Bebendo sua água mágica, ajoelhada no tapete de musgos. Macio como grama, bebia aquela água mágia, ouvindo sons produzidos por instrumentos divinos. Orquestrados por músicos que não freqüentaram conservatórios. Músicos que vivem perto de nós e os ignoramos. Pensei! Natureza que se pode amar eternamente...
O visual sentido e descrito em cores difíceis de explicar provocava harmonia em meu interior. Arte divina em fleches de luzes penetrando por entre as frestas das árvores refletindo cores que formavam o arco-íris. Tudo era tão magnífico que parecia irreal. Caminhei em círculos propositalmente, com medo de me afastar e perder aquele espaço de beleza extraordinária. Como podia existir um lugar tão perfeito? Mar. Floresta. Flores. Animais e pássaros em um só canto deste imenso planeta. Acho que foi deste lugar que nasceu a lenda do paraíso. Melhor: a existência deste lugar é a prova que o paraíso existe.
Segui o pequeno e sinuoso riacho que caminhava em direção ao mar. Apreciei cada curva do seu percurso. E de repente um som novo no ambiente e ao mesmo tempo conhecido para mim. Vozes de garotas. Várias garotas. Gargalhadas e conversas trazidas pelas ondas de vento. A surpresa invadiu meu ser. Furtivamente seguindo aquela doce sinfonia, aproximei-me, camuflado pelas folhagens. Avistei uma enorme pedra. Na verdade um rochedo sendo surrado pelo mar. Na primeira olhada vi uma obra prima da natureza. Grandioso e cheio de cavernas. Quase do tamanho de uma casa. Brilhando a cada rajada de água que recebia das ondas. Espetáculo impar. Para fazer um quadro assim: um pintor precisaria conhecer os segredos da natureza! E este mistério já existe desde os primórdios de nossa existência e nunca foi desvendado. O som de meninas conversando continuava e num repente passou pelo foco de meus olhos uma garota completamente nua. Foi como se abrisse uma porta na rocha e se fechasse em um piscar de olhos. Meio atordoado passei as mãos pelos olhos, tempo suficiente para outra garota aparecer. Então percebi que era tudo real; meu dia de sorte! Mas porque agiam assim. Por um tempo parecia uma aula de física quântica: o rochedo se abria e garotas nuas apareciam e desapareciam. Um desfile expondo toda a nudez e sem medo de castigo. Cada uma gritando a sua maneira aquele momento feliz. Eram como crianças que nunca se vestiram, e sem adultos por perto. Estavam completamente à vontade. Todas lindas. Na verdade eu estava muito feliz e completamente eufórico. Jamais passaria pela minha cabeça encontrar naquele passado distante: coisa de três décadas atrás aquele cenário. E quando estamos felizes tudo fica mais bonito. Portanto naquele momento não seria um bom juiz para atuar em nenhum concurso de beleza. O que me comovia era a liberdade do ser exposta com tanta simplicidade. Brincavam, demonstravam alegria e completa integração com a natureza. Nenhuma delas estava de máscaras. Elas, naquele momento, eram apenas mulheres felizes.
Vi garotas de corpos bem avantajados, algumas magras e outras até gordinhas. Mas essas diferenças desapareciam diante de tanta naturalidade. Por diversas vezes passou pela minha cabeça entrar na brincadeira. Mas qual seria a reação delas: perguntava-me? E desistia. Depois que as vi juntinhas deitadas lado a lado em cima da pedra tomando sol. Percebi que eu tivera a felicidade de testemunhar uma travessura de uma juventude que queria se libertar. Queriam o direito de se expressar. Nada mais. Nada sério para aquele momento! No final do dia fui ao calçadão da cidade dar uma volta. Encontrei com algumas delas. Claro que fiquei na moita. E depois de uma boa apresentação e um golpe de sorte sentei-me na mesa com elas, aprendi a me relacionar sem interesse e deixar as coisas acontecerem. E aconteceu: fiquei com uma delas, que me ensinou quais detalhes importa para se ter uma vida feliz.
Saudades! Tenho certeza que se não fosse essas garotas – a liberdade sexual ainda estaria acontecendo somente nos cabarés. E eu jamais teria tido o privilégio de conhecer o segredo de uma mulher. Ah! Que dia fantástico.
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