Uma Rosa para Berlim - Tulipas de Lágrimas 7.
Já no subterrâneo, ficamos ali e comemos frutas no almoço pois, ninguém ou
sou subir. O oficial da SS ficou ali e saiu 1hora depois do almoço improvisado.
Fim do dia 8 de abril e fim do bombardeio. Então fazemos um jantar e Heindal
convida os vizinhos sem previsão do dia. Ao fim da noite é que vou tomar banho.
Vou dormir na sala e vejo Volsak chegar todo sujo. Pego no sono.
9 de abril de 1945. Segunda-feira. Acordo e ajudo pessoas desabrigadas que
estão na rua. E assim corre a semana. Bombas e pessoas correndo. Procuro aju
dar no que posso. Alimentos e medicamentos para quem precisa é Volsak que ar
ranja e eu e minhas amigas fazemos a distribuição. Heindal prepara a alimentação
e depois faz anotações.
- O quê escreve tanto, Heindal? - Pergunto quase sabendo da resposta.
- Se tiver que escrever, minha pequena... O farei sob seu ponto de vista!
- Como conseguiria fazer isso? - Pergunto rindo.
- Tudo que anotei sobre você é o suficiente para eu escrever como se fosse você!
- E se eu quiser escrever sobre eu mesma?
-Dificilmente saberiam distinguir sobre quem era quem!
- E se na próxima vida eu quiser escrever meu diário sobre esta vida?
- Estou preparado para fazer o mesmo!
- Como?
- Leio meus escritos depois de escrever. Isso faz com que eu os memorize. Se não
conseguir nesta vida, na outra terei lembranças e escreverei.
- Senhor Heindal.. - Fico rindo e me retiro pois, é sábado à tarde, dia 14 de abril e
tenho que verificar se tem pessoas precisando de ajuda pois, as bombas ainda
caem. Os canhões atiram ferozmente e Berlim fica às escuras. A cidade parece
anunciar alguma catástrofe. Vejo tanques se posicionar e os canhões sendo lubri
ficados e abastecidos. Vejo Volsak treinar civíis e idosos. Vejo crianças se prepa
rando para o pior. Nas rádios ouço a vóz de nosso governante pedir entrega. Ele
próprio parece se preparar para o pior. O céu está estranho. Vou para casa ajudar
no jantar e encontro Heindal cochichando. Erna trocando beijos com um soldado
de artilharia. Marija cuidando de umas crianças. Lili cantando. Lale bebendo vinho.
Gerda Mende lendo um livro. Gerda Maria comendo um doce. Ina toca uma flauta.
Volsak entra cansado e bebe água e depois vai para o banho. Nada parece que vai
abalar o lugar. Apesar de barulho de explosões vindo de longe. A luz acaba e provi
dencio as velas e tudo continua tranquilo. 14de abril de 1945. Estou um tanto feliz.
Vou até o jardim e retiro algumas rosas e algumas Tulipas. Me lembro de minhas
amigas que se foram. Minhas lágrimas escorrem em abundância e são amparadas
pela tulipa que as recebe. Choro e choro. Depois vou para o portão de saída e jogo
algumas rosas naquela rua de Berlim e falo :
-Uma Rosa para Berlim que está tão destruída! Uma Rosa para Berlim!
Olho para o céu e olho para as Tulipas de Lágrimas e volto a chorar. Choro pelas
Mulheres que estão sendo violentadas pelos Soviéticos, pelos aliados. Choro pelos
que morreram inocentes nos campos de concentração. Choro e choro. Volsak se
aproxima e me olha com ar de piedade e fala :
- Vai descansar que eu cuido de tudo.
Obedeço e me sento no jardim e observo a noite. Volsak entra e continuo ali bem
quieta e observando aquele céu misterioso.