A CIGANA E A PROFECIA
Depois de dez anos de casamento, Moacir e Neide, não esperavam mais por um filho(a). O calendário marcava um dia de janeiro de 1950, um grupo de ciganos acampou na cidade em que o casal residia. Neide teve curiosidade de deixar uma cigana ler as linhas de sua mão. A cartomante emocionada profetizou: "você ficará grávida em pouco tempo, e ainda nesse ano, um menino nascerá, ele é um espírito que traz uma grande tarefa de trabalho humanitário". Neide riu das profecias da cigana, pois, havia tanto tempo que sonhava com um filho, e nunca aconteceu.
Neide deu à luz a Pedro, em uma manhã de primavera do ano de 1950, a parteira dona Naninha, repetia sem parar que nunca ajudou a vir ao mundo um bebê com tanta vontade de nascer.
O menino cresceu sem dar trabalhos extras. Quando foi para escola, já escrevia o próprio nome, e sabia identificar todas as letras e números.
Pedro era inteligente, mas a mãe tinha um papel fundamental, era professora.
Nunca faltou nada ao menino, muito embora a família vivesse com recursos moderados, vindo dos dois pequenos salários de um violinista e uma professora.
Desde bem pequeno Pedro mostrou desejo de ser médico, e dona Neide (que não mais ria das profecias da cigana) não podia deixar de lembrar da previsão da cartomante. Diferente de seus pais, que tinham nascido, vivido naquela cidade de montanhas altas e belas, e quase nada conheciam além dela. Pedro dizia que queria viajar pelo mundo levando lenitivo a quem sofria.
Aos dezoito anos entrou na melhor faculdade pública de medicina que havia em seu país. Anos após a formatura, viu a possibilidade de fazer parte de um grupo de médicos que viajavam ao redor do mundo, servindo aos deserdados de tudo na face do planeta.
Pedro se encontrou, naquele trabalho sem fronteiras, livre de bandeiras, a não ser a de servir aquele que necessitasse, fosse ele quem fosse e de onde fosse.
No trabalho que elegeu para sua vida, o que vinha em primeiro, segundo, terceiro lugar, era sempre o ser humano oprimido, sofrido e esquecido do resto do mundo.
Nesse ideal nobre, Pedro instalou sua tenda, e a levava para os mais distantes rincões do planeta. Sem conforto, com parca remuneração, que quase sempre era gasta com os próprios necessitados.
Virou o mundo quase que inteiro, pois são poucos os lugares onde não há necessidade de um médico humanitário estar.
Viveu sobre o sol do deserto, conheceu de bem perto a dor que o ódio e a intransigência geram entre os povos, somada as guerras ditas "santas" que o fundamentalismo religioso fomenta sem tréguas.
Viu toda desolação que discursos moldados em egos exacerbados e governos extremistas criam. Caminhou em solo de ditadores cruéis que engendram contendas inúteis, e dolorosas em troca de poder e mais poder.
Em suas anotações feitas costumeiramente na calada da noite, dentro de sua tenda, ele gerou material para muitos livros, sem nunca ter tempo para tentar publica-los.
Seus poucos momentos de folga eram dedicados a escrita e a leitura.
Certo dia descobriu um autor que lhe falou fundo ao coração, parecia que "Sri Sri Ravi Shandar", compreendia o que lhe ia dentro da alma desde o tempo de menino. Em um livro escrito por Sri Sri Ravi, Pedro leu:
"No dia que você sentir que o mundo inteiro é a sua casa, que o céu é o seu teto, que a terra é o seu piso e que cada árvore é seu jardim, então você estará realmente em casa."
Quando acabou de ler esse pensamento do sábio autor, Pedro teve certeza que sempre esteve no caminho certo, pois sentiu-se em casa, em cada acampamento que fincou sua tenda. Em cada céu estrelado, ou sem estrelas, que pode apreciar, em cada chão verdejante, ou árido que pisou, ele sempre se sentiu em casa. Nunca, em momento algum, mesmo nos mais dolorosos, ou perigosos, em que sua vida esteve na mira de uma arma, ou seus pés tremeram diante de um campo minado, ele teve dúvidas de que era ali, que ele deveria estar.
Hoje, seu rosto tem sulcos profundos, resultado talvez do sol escaldande, ou das tantas tristezas vistas por esse mundo afora, seus cabelos alvos, contam do avançado dos anos vividos, porém o combustível que moveu aquele menino, o jovem, o adulto, resiste imutável. É chama que vem de uma alma, livre de apegos, por o que quer que seja, não há nela requíscios de bandeiras ou fronteiras, sobra nela, amor ao ser humano.
Pedro se fez livre de amarras distorcidas em nome de um falso patriotismo, partidarismo, apego a terra, para somente, servir, servir e servir um pouco mais, aquelas vitímas de um sistema corrompido pelo desamor.
(Imagem: Lenapena)
Depois de dez anos de casamento, Moacir e Neide, não esperavam mais por um filho(a). O calendário marcava um dia de janeiro de 1950, um grupo de ciganos acampou na cidade em que o casal residia. Neide teve curiosidade de deixar uma cigana ler as linhas de sua mão. A cartomante emocionada profetizou: "você ficará grávida em pouco tempo, e ainda nesse ano, um menino nascerá, ele é um espírito que traz uma grande tarefa de trabalho humanitário". Neide riu das profecias da cigana, pois, havia tanto tempo que sonhava com um filho, e nunca aconteceu.
Neide deu à luz a Pedro, em uma manhã de primavera do ano de 1950, a parteira dona Naninha, repetia sem parar que nunca ajudou a vir ao mundo um bebê com tanta vontade de nascer.
O menino cresceu sem dar trabalhos extras. Quando foi para escola, já escrevia o próprio nome, e sabia identificar todas as letras e números.
Pedro era inteligente, mas a mãe tinha um papel fundamental, era professora.
Nunca faltou nada ao menino, muito embora a família vivesse com recursos moderados, vindo dos dois pequenos salários de um violinista e uma professora.
Desde bem pequeno Pedro mostrou desejo de ser médico, e dona Neide (que não mais ria das profecias da cigana) não podia deixar de lembrar da previsão da cartomante. Diferente de seus pais, que tinham nascido, vivido naquela cidade de montanhas altas e belas, e quase nada conheciam além dela. Pedro dizia que queria viajar pelo mundo levando lenitivo a quem sofria.
Aos dezoito anos entrou na melhor faculdade pública de medicina que havia em seu país. Anos após a formatura, viu a possibilidade de fazer parte de um grupo de médicos que viajavam ao redor do mundo, servindo aos deserdados de tudo na face do planeta.
Pedro se encontrou, naquele trabalho sem fronteiras, livre de bandeiras, a não ser a de servir aquele que necessitasse, fosse ele quem fosse e de onde fosse.
No trabalho que elegeu para sua vida, o que vinha em primeiro, segundo, terceiro lugar, era sempre o ser humano oprimido, sofrido e esquecido do resto do mundo.
Nesse ideal nobre, Pedro instalou sua tenda, e a levava para os mais distantes rincões do planeta. Sem conforto, com parca remuneração, que quase sempre era gasta com os próprios necessitados.
Virou o mundo quase que inteiro, pois são poucos os lugares onde não há necessidade de um médico humanitário estar.
Viveu sobre o sol do deserto, conheceu de bem perto a dor que o ódio e a intransigência geram entre os povos, somada as guerras ditas "santas" que o fundamentalismo religioso fomenta sem tréguas.
Viu toda desolação que discursos moldados em egos exacerbados e governos extremistas criam. Caminhou em solo de ditadores cruéis que engendram contendas inúteis, e dolorosas em troca de poder e mais poder.
Em suas anotações feitas costumeiramente na calada da noite, dentro de sua tenda, ele gerou material para muitos livros, sem nunca ter tempo para tentar publica-los.
Seus poucos momentos de folga eram dedicados a escrita e a leitura.
Certo dia descobriu um autor que lhe falou fundo ao coração, parecia que "Sri Sri Ravi Shandar", compreendia o que lhe ia dentro da alma desde o tempo de menino. Em um livro escrito por Sri Sri Ravi, Pedro leu:
"No dia que você sentir que o mundo inteiro é a sua casa, que o céu é o seu teto, que a terra é o seu piso e que cada árvore é seu jardim, então você estará realmente em casa."
Quando acabou de ler esse pensamento do sábio autor, Pedro teve certeza que sempre esteve no caminho certo, pois sentiu-se em casa, em cada acampamento que fincou sua tenda. Em cada céu estrelado, ou sem estrelas, que pode apreciar, em cada chão verdejante, ou árido que pisou, ele sempre se sentiu em casa. Nunca, em momento algum, mesmo nos mais dolorosos, ou perigosos, em que sua vida esteve na mira de uma arma, ou seus pés tremeram diante de um campo minado, ele teve dúvidas de que era ali, que ele deveria estar.
Hoje, seu rosto tem sulcos profundos, resultado talvez do sol escaldande, ou das tantas tristezas vistas por esse mundo afora, seus cabelos alvos, contam do avançado dos anos vividos, porém o combustível que moveu aquele menino, o jovem, o adulto, resiste imutável. É chama que vem de uma alma, livre de apegos, por o que quer que seja, não há nela requíscios de bandeiras ou fronteiras, sobra nela, amor ao ser humano.
Pedro se fez livre de amarras distorcidas em nome de um falso patriotismo, partidarismo, apego a terra, para somente, servir, servir e servir um pouco mais, aquelas vitímas de um sistema corrompido pelo desamor.
(Imagem: Lenapena)