Nas barrancas do Rio Piracicaba
O sol ainda entre as nuvens, a neblina do amanhecer cobre com seu véu, as águas que escoam entre as pedras do rio, e, como um coro, a sua melodia regida por um maestro, se espalhando como gotículas d´água.
Tempo de piracema, piavas, piaparas, lambaris, dourados e outros, num incansável bailado, nadam contra a correnteza até as cabeceiras para se reproduzirem.
Equilibrando-se sobre seus pés finos e compridos, com seu pescoço no formato de “s”, a garça esmiúça um peixe com seu bico pontiagudo.
Na ponta de seu barco, o pescador ereto joga aberta a sua rede de pesca, olho embaçado pelo sol puxando da água mandis e cascudos.
Nos troncos caídos em meio ao rio,
um bando de biguás com asas abertas, seca suas penas com o bico aberto, e, num mergulho rápido, traz um mandi, fazendo malabarismos até o engolir.
Amamentando seus filhotes, uma família de capivaras
descansa em um banco de areia com um capinzal a sua volta, da noite que passou pastando.
Se camuflando entre as pedras roliças de águas
barrentas, estão os cágados que respiram as espumas do rio ficam com sua cabeça pra fora d' água e, nas margens, esticam seus pés para se aquecer do frio.
Beirando a beirada do rio, com a lua e o surubim a clarear, arma nas mãos, o pescador acerta a pobre da cutia, que para dentro do barco vai colocar.
Grande ninho feito de graveto no topo de uma árvore seca às margens do rio, com aparência desajeitada, pernas compridas com cabeça e pescoço pelados,
um casal de cabeça seca tratando de seus filhotes.
Com o sol se pondo, ouve-se um cantar melodioso em meio à mata, dono de uma plumagem esverdeada
que se confunde com as folhas das árvores, o coró-coró, por uns instantes, cala a mata.
Anzol de galho que outro dia o pescador com seu barco a remo, amarrou para pescar, o pintado que se debate para escapar.
Um bando de garcinha-branca faz sua revoada, pousando uma a uma no topo da árvore, exibindo suas caldas com longas penugens egretas
Pernalta, com plumagem negra, e seu casaco de cor castanha, saltam entre os lírios d' água,
os pequenos jaçanãs que enfeitam
as poças com seu bico amarelo e vermelho.
Exibindo pose de alerta em uma paineira, um solitário socó-boi, com seu pescoço esticado e penas estufadas, solta seu esturro forte que ecoa na tarde fria.
Nos barrancos dos rios, onde fazem seus ninhos, dono de uma mira certeira, um pássaro pequeno de bico longo, o martim pescador mergulha para fazer seu almoço.
Levado pela correnteza num galho empoleirado, o savacu pega uma carona pra fazer sua refeição, com o vento frio da madrugada batendo nas suas penas, saúda com seus gritos o luar daquela noite fria